Inteligente, com grandes sacadas de humor e uma análise ferina do processo eleitoral que acaba de terminar no Tocantins, o marqueteiro João Neto concedeu entrevista exclusiva ao Blog da Tum no final da tarde de quinta-feira, 6.
Depois de montar uma estrutura complexa para fazer pesquisas qualitativas e orientar campanhas em 40 municípios, entre Goiás e Tocantins, conquistando a vitória em 50% delas, João Neto consolidou uma opinião interessante: "Hoje, político tem que voltar pra escola. As coisas estão mudando muito rápido, e a população não aceita mais aquele velho modelo. Vou criar uma escola de políticos no Tocantins".
João, como é ser marqueteiro num lugar em que as pessoas não sabem o que é marketing político?
João Neto - (rs) Interessante esta pergunta. Você tem que criar uma embalagem de fácil compreensão e vender para quem tem capacidade de compreender. Para que funcione, primeiro o político tem que aceitar a orientação. E normalmente aquilo contraria o que ele acredita. Quem entra na disputa tem que entender que pode ganhar ou perder uma eleição, mas o importante é sair melhor do que entrou. Isso o marketing tem que fazer.
Você acredita que qualquer candidato do DEM perderia as eleições em Palmas?
João Neto - Não. Aqui foi erro de marketing, erro de estratégia. Acho que a deputada Nilmar dificilmente ganharia as eleições em Palmas, mas seguramente poderia ter alcançado um resultado melhor. O quadro aqui era complicado pra ela, mas era pior para o Raul. O que aconteceu foi que o marketing dela errou desde o começo. Aliás, não houve marketing, houve propaganda eleitoral, que é bem diferente.Conseguiu-se transferir toda a rejeição ao Raul pra ela.
Por que isso aconteceu?
João Neto - A culpa é do conceito adotado na campanha, que estava errado desde o começo.Não é só fazer pesquisa, tem que saber ler a pesquisa. E a qualitativa mostrava claramente que o sentimento da população não era aquele que estava no slogan, no jingle, na foto...
O que estava errado?
João Neto - O slogan: "Palmas quer Nilmar de novo". Não quer. Não queria. De novo não. Palmas talvez quisesse a nova Nilmar. A que estudou, a que viajou, a que mudou. O jingle: "o que é bom a gente não esquece". O que é isso? é remeter ao passado, de uma gestão que terminou de forma negativa, com demissões. Enfim, voltou a fita. Tinha que esquecer o velho,e entrar com a nova Nilmar...
Alguns políticos estão fazendo a leitura de que o governo perdeu com o resultado desta eleição. Isto é verdade?
João Neto - Politicamente todo mundo perdeu nesta eleição, por que houve uma mistura muito grande. Os partidos se embolaram. Qual é o diferencial? adversários históricos se aproximaram e isso confunde o eleitor. Todos perderam! O o governador perdeu,mas o Raul também perdeu, por que pra ganhar ele "vendeu a alma". Como é que vai conseguir agora cumprir todos esses compromissos?
Mas eleitoralmente os resultados de hoje podem ter reflexos em 2010?
João Neto - Eleitoralmente todo resultado se recupera, por que há tempo para se trabalhar isso. Acho que o governador Marcelo Miranda foi quem saiu-se melhor no processo, por que ele é um político leve, tem o que mostrare tem um papel histórico na política do Estado. Nós saimos de uma grande rodovia chamada Siqueira Campos, estamos passando por uma ponte chamada Marcelo Miranda, e vamos pegar uma nova estrada, que ninguém sabe que nome tem. Pode ser qualquer um, graças a ele, que quebrou esta sequência.
Alguns fazem uma leitura de que Marcelo Lélis tem grandes chances de ser o próximo prefeito de Palmas e Raul o governador, este sentimento prevalece até 2010?
João Neto - Não.Esse registro não fica.Quem tinha tudo para ganhar esta eleição era o Lélis. No auge da onda verde faltou profissionalismo para quem o atendia, ou talvez tenha sido uma decisão política errada mesmo, não sei. Mas o que o povo queria era um novo líder, e eles pegaram o velho e aliaram à imagem dele. Foi aí que ele parou de crescer. Daqui há dois anos tudo muda, o momento é outro e o sentimento também. Tudo é uma questão de imagem a ser construída, ações de marketing que vão levar a um novo momento.
Roberta Tum
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