Em política, diz o ditado, tudo que tem data limite para ser resolvido, só se define na última hora. É assim nas disputas pelas presidências das casas legislativas. Também é assim quando se trata de chapas majoritárias e proporcionais nas convenções. Não poderia ser diferente numa eventual escolha de governador para um mandato tampão no Tocantins.
Os embargos declaratórios ainda não foram julgados, mas a pré-campanha está deflagrada desde que o presidente da Assembléia Legislativa, Carlos Henrique Amorim, o Gaguim, pediu o primeiro voto para governador do mandato tampão. É natural e legítimo que o presidente - que governará o Estado por 40 dias, sejam as eleições diretas ou não – busque um mandato definitivo na prevalência de eleições indiretas. Os problemas enfrentados por Gaguim desde o início não se relacionam ao mandato pretendido, mas à maneira como começou a buscá-lo.
Ao trabalhar para garantir os votos dos deputados prioritariamente, atropelou seu próprio partido, o PMDB. A proximidade com o presidente Osvaldo Reis não garante o consenso com outras alas e sabendo disto, Gaguim tem conversado por diversas vezes com o deputado federal Moisés Avelino, que também colocou o nome como pré-candidato para tentar contornar os obstáculos.
Ao buscar em Brasília o apoio dos senadores João Ribeiro e Kátia Abreu, Gaguim mirou nos dois líderes emergentes, estrelas com brilho próprio. Ao dar este passo deixou de conversar com o governador Marcelo Miranda, e com o ex-governador Siqueira Campos. Mas o tempo - e alguns companheiros do PMDB – fizeram com que o presidente entendesse que era preciso se acertar com Marcelo. Ao viajar o Estado com o governador há 15 dias participando de inaugurações, Gaguim acalmou a ala governista do partido, mas desagradou a oposição.
Da mesma maneira que ao cruzar o Araguaia de barco com Kátia Abreu, havia desagradado aos petistas, que preferem Derval ao presidente da Assembléia desde o começo desta conversa sobre sucessão. O fato é que o equilíbrio entre 23 eleitores exigentes, e seus líderes não tem sido fácil para o presidente da Assembléia que quer ser governador do Estado.
Aproximação e distanciamento
O acordo, ou “pré-acordo” firmado entre Gaguim, Kátia e João Ribeiro existiu e foi noticiado sem que nenhum dos três negasse, desde o encontro em Brasília na primeira semana após o julgamento do Rced. De lá para cá, é que a coisa desandou. Ao negar que estivesse próximo de Kátia Abreu por duas vezes, o senador João Ribeiro (PR) contraria o óbvio.
Nos bastidores é fato conhecido que os dois nunca deixaram de conversar. No começo do segundo mandato de Marcelo Miranda, foi da senadora a tentativa de aproximar o governo de Ribeiro. A falta de interesse do pai do governador, Brito Miranda, é que teria desestimulado a composição do senador com o governo da Aliança da Vitória.
O distanciamento de Kátia da pré-campanha de Gaguim, segundo gente ligada à senadora não tem nada a ver com o PT, e o presidente Lula. Na verdade, teria relação com as negociações feitas nos bastidores para assegurar os votos dos deputados. Além da famosa lista de secretarias partilhadas, que vazou para a imprensa e foi publicada pelo jornalista Lailton Costa, na Antena Ligada, outras vantagens estariam em discussão. E foi aí que a senadora “estrilou”, segundo relatou uma fonte Democrata.
Procurada pelo Site Roberta Tum durante toda a quinta-feira, através de sua assessoria, para confirmar ou negar as informações de bastidores, a senadora não retornou a ligação. Segundo informações, ela estava no Rio Grande do Sul onde fez palestra e faria viagem ao interior do Estado.
Aliança com Siqueira
A possibilidade de que o DEM aprove em convenção uma posição diferente do apoio prometido pelos deputados a Gaguim é grande. Isto contrariaria especialmente o deputado Paulo Roberto, que tem articulado a campanha do presidente da Assembléia desde o primeiro momento, já foi cotado para vice e segundo dizem, não tem consultado a senadora antes de fazer compromissos.
Se romper com Gaguim, o DEM pode viabilizar uma candidatura conjunta com o grupo siqueirista na prevalência das indiretas. A sinalização para isto é clara. O deputado Marcello Lélis praticamente falou em nome de Kátia na tribuna da Casa durante esta semana, ao anunciar os acertos para a audiência pública que debaterá o descredenciamento da Unitins, em Brasília.
Em nível nacional, DEM e PSDB caminham bem próximos, e a relação da senadora com os líderes tucanos já melhorou muito depois de 2006. A amigos Kátia teria confidenciado que prefere a condução dos destinos do Estado novamente nas mãos de Siqueira do que vê-lo “loteado e entregue a interesses individuais”.
Como se vê, setembro reserva muitos acontecimentos na política tocantinense. E até que chegue o dia da eleição do governador para o mandato tampão, é temerário antecipar qualquer indicativo de resultados.
Comentários (0)