Memórias Póstumas de uma vida breve

A jornalista Georgethe Pinheiro em seu artigo relembra a saudade da ausência de Luana. "Sempre tive muita dificuldade em lidar com a morte, mas a passagem de Luana foi um divisor de águas. Continuo achando de extremo mau gosto, a forma que essa ...

Já tem pouco mais de um ano, e um raio de vida ainda gira em torno da saudade e da ausência de Luana. Lembro com detalhes ela dizendo que iria embora pra Londres, pensando em detalhes práticos e sonhando sonhos possíveis. Acho que Luana fez isso de propósito, pra deixar um alento a nós, que ficaríamos sem sua presença. Pensar que ela está em Londres é mais fácil. Dá a certeza sobre sua volta.

Sempre tive muita dificuldade em lidar com a morte, mas a passagem de Luana foi um divisor de águas. Continuo achando de extremo mau gosto, a forma que essa senhora invade nossas vidas. É muito antagônico! Ela chega e põe fim a coisas que mal começaram, a sonhos que se preparavam para se tornar verdades.

Porém, no caso específico da morte de Luana, além da saudade, da ausência sempre presente, também ficou a sensação de algo que não terminou, que não foi bem explicado. Muitas vezes, antes de dormir, ou no meio do dia, me pego distraída pensando no que aconteceu. Qual foi a circunstância real daquele acidente? Por que com ela? O que ela sentiu? Medo, frio...? Porque ninguém apareceu pra socorrê-la? Porque a demora em encontrá-la, já sem vida?

Sei que estas são perguntas comuns a quem perde. Sei também que essas perguntas jamais serão respondidas. Mas elas estão sempre presentes, povoando a cabeça de quem, a meu exemplo, nunca entendeu direito como uma menina, ainda começando a vida foi tragada por essa senhora que todos nós encontraremos mais cedo ou mais tarde e com quem teremos o último embate.

A única coisa que tenho certeza é que essa história tem algo a nos ensinar. Nos resta saber aprender e, principalmente, conseguir entender o que Deus quer que aprendamos. De modo particular, aprendi a exorcizar fantasmas, reais ou não. Mas, a cada um, sua própria realidade, seu próprio quinhão.

Outra coisa que aprendi, é que a vida não se esvai, simplesmente. Ela pulsa! Ela exige! A vida é feita do que acreditamos. E Luana, quem conviveu com ela sabe do que estou falando, era justa. Tinha lá suas medidas, seus arroubos, mas era justa! E era linda. Não uma beleza qualquer, pois essa é comum, vulgar. Sua beleza nasceu da força, da crença e de tudo o que ela construiu em seus breves dias.

Nem eu sei, ou talvez saiba, o por que dessa homenagem póstuma e tardia. Mas, todos os dias, desejei não fazê-la. Só que meu coração se tornou exigente, querendo que eu falasse da saudade e da ausência dessa amiga, que vimos desabrochar e fenecer tão cedo. Porém, Luana sempre será uma pessoa que VIVEU E FOI FELIZ!

Georgethe Pinheiro

Comentários (0)