Ah, os bastidores do poder. Como são ricos em armações e toda a sorte de especiarias. Os menos experientes costumam fazer a leitura do discurso. O tempo de estrada e a desconfiança no entanto forçam os mais velhos na lida a se obrigar à leitura das entrelinhas.
Faço estas reflexões para entrar no assunto da saída do secretário Sandro Rogério da Fazenda. Fato consumado, posse de José Jamil feita ontem, com todo prestígio que o conselheiro aposentado merece, ficaram no ar as frases contundentes do governador Siqueira Campos. Absolutamente intolerante com a corrupção, venha de onde vier. Para deixar clara a medida da intolerância fez a referência: “não aceitarei (...) nem de um filho querido meu”.
Cobrança de um lado, aumento de outro
É o extremo dos extremos ao qual o governador poderia chegar para dar um recado. Ao mesmo tempo que está cobrando lealdade e honestidade dos seus auxiliares, concedeu um aumento aos secretários, coordenadores, diretores, e cargos de chefia em geral. Como quem diz: bem pagos, não haverá motivo para cederem às tentações de quem vê passar diante de si cifras e cifras do suado dinheiro público.
Digo tudo isto por que pude conhecer um pouco a seriedade de Sandro Rogério, a modernidade dos métodos, a dedicação e a competência diante do cargo. Fora uma crise pessoal, um problema de saúde ou algo de extrema gravidade, nada justificaria sua saída, rápida, urgente como foi.
Daí fico a pensar – por que pensar, podemos, não é mesmo? – o que estaria por trás de sua explicação, perfeitamente aceitável de que deixou o cargo por motivos pessoais. Na Sefaz, caixa forte do governo, é por onde passam todas as pressões por pagamentos e ajeitamentos.
Obedecendo fielmente ao governador, Sandro estaria, por certo, fora de qualquer comportamento de risco. Mas nada,absolutamente nada, tira as pressões de todos os segmentos do governo, de cima de um secretário. Ainda mais da Fazenda. E Sandro não estaria livre delas. Teria sua saída sido a opção por ficar fora da fogueira que poderia lhe criar problemas, ou comprometer a reputação? Isso, ninguém dirá.
Sinal de alerta para todos
José Jamil chegou escoltado por técnico da sua confiança, também do TCE – que ganhou prestígio no governo Siqueira, comparável ao que a Assembléia Legislativa tinha no governo Gaguim - é o “poder” da vez. É de se esperar que dê certo.
Ao bater na mesa duas vezes durante a posse da senadora Kátia Abreu na Faet para dizer que ‘se não roubar, nem deixar roubar”, dá para fazer, Siqueira voltou ao bordão de campanha. Ao dizer no Araguaia ontem que não aceitará ajeitamentos e corrupção de lugar nenhum do seu governo, reforçou a determinação própria dele, para quem o conhece bem.
Então, diante de tudo isso, só nos resta esperar que as forças ocultas que agiram sobre o ex-secretário de Fazenda, deixem de agir no governo. Afinal, recado mais claro do que o Velho Siqueira deu esta semana, impossível. Manda a prudência que ele seja ouvido. Primeiro, por que a tolerância do governador com este tipo de ação, parece ser zero. Segundo, por que os tempos realmente mudaram e a vigilância social aumentou. A faca da intolerância da opinião pública, que fere um (o governo anterior e suas ações questionáveis), pode também ferir igualmente o outro. E o sinal de alerta já foi dado.
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