Néris e Cavalcante disputam quem pode mais

A Câmara Municipal terminou nesta terça-feira, 30, o primeiro semestre legislativo. Quem foi à Casa acompanhou mais um capítulo da disputa de poder que está travada entre os vereadores Milton Néris(PT) e Aurismar Cavalcante(PP). Os dois se estranhara...

As coisas mais simples, às vezes são as mais difíceis de serem ditas, justamente por que ferem suscetibilidades. Não se trata aqui de proteger Milton Néris, nem de defender Cavalcante. O que interessa mesmo são as mães, que estão esperando os benefícios que virão com a aprovação deste projeto.

Na verdade o que estamos assistindo na Câmara Municipal de Palmas desde o dia 9 de junho é uma disputa travada por todos os meios legais e políticos, para ver quem pode mais. O vereador Milton Néris começou o ataque contra o vereador Cavalcante gratuitamente, pelo menos em se tratando deste caso. O PL 07, de autoria do executivo, foi protocolado na Casa dia 27 de maio. De lá foi distribuído à CCJ - Comissão de Constituição e Justiça, presidida por Lúcio Campelo, e na qual Néris é o campeão de indicações para relator.

Mesmo sendo de igual teor ao que foi aprovado pelos vereadores no começo da legislatura, quando foi apresentado pelo vereador José Hermes Damaso (PDT), o processo só chegou à chamada “comissão de mérito” - no caso a de Políticas Públicas e Administração, presidida por Cavalcante - no dia 9 de junho. Neste mesmo dia, entrou na pauta da sessão extraordinária. Acontece que o projeto não havia sido analisado na comissão, nem devolvido com parecer à Diole - Diretoria Legislativa, para então ser incluído na pauta. Alguém errou.

Afirmando estar indignado com o colega, Milton Néris foi à tribuna, classificou o vereador do PP de “irresponsável”, e conclamou os companheiros de bancada a lhe retirarem a presidência da referida comissão. Em seguida, instou o líder do prefeito a apresentar requerimento conferindo ao projeto a condição de matéria de urgência. Assim, acreditou estar reduzindo os prazos que legalmente a Comissão de Políticas Públicas tinha para relatá-lo. Mais que isso, na condição de urgência, o projeto - no entendimento do vereador - poderia ser avocado e incluído na pauta da sessão ordinária, sem parecer da comissão.

A ordem era votar de qualquer maneira. Esta intenção foi reforçada pelo próprio presidente Wanderlei Barbosa (PSB), que na quinta-feira da semana seguinte, entrou na briga ao lado de Néris e mandou a diretoria legislativa incluí-lo “de qualquer maneira”, na pauta da semana posterior. Foi aí que Cavalcante buscou a justiça para requerer através de mandado de segurança, a garantia do prazo para relatar o projeto.

Na liminar deferida, a juíza Adelina Gurak não julgou o mérito, e portanto não ouviu os argumentos de ninguém. Apenas fez a leitura do regimento, e entendeu que no regime de urgência o projeto tem 30 dias para tramitar, a partir da aprovação do pedido. Ao conceder a liminar, demonstrou entender que a comissão tinha o direito ao prazo para relatar.

Nesta terça-feira, 30, diante da informação do vereador Valdemar Júnior de que, com o parecer da comissão e devolução do projeto à Diole, este estaria liberado para entrar em pauta, Néris levantou suspeição sobre a justiça. Chegou a dizer que “se for assim”, acredita que a liminar foi “comprada”.

São termos muito fortes e por isso foram prontamente corrigidos pelo presidente da Casa, que utilizou a tribuna para dizer que respeita a justiça, e não desconfia dela. Mas o fato é que Néris foi longe demais. Cavalcante, por sua vez, agiu claramente na intenção de demonstrar que pode, eventualmente, “colocar limites”, ao poder da maioria de interpretar o regimento à sua maneira. O argumento oficial do vice-presidente é de que não liberou o projeto antes por que pretendia emendá-lo.

As emendas são discutíveis, justamente por que geram despesa para o município. Na primeira tramitação, o PL 07 foi aprovado com parecer favorável da CCJ - embora informada pela assessoria jurídica da Casa de que o projeto extrapolava as atribuções do legislativo - e sem emendas.

O que fica evidente para quem olha de fora a confusão criada na Casa em torno do projeto – e que evidentemente pauta a imprensa – é que os dois vereadores estão numa disputa de poder. E para ela, acabaram arrastando seus colegas de bancada.

O certo e o errado na atitude de cada um, o leitor/eleitor, é quem vai acabar julgando. O certo é que seis meses depois da posse, a convivência dos parlamentares na Casa, no geral, foi marcada por muitos momentos de turbulência alternados por raros intervalos de paz. A adaptação do novo grupo aos limites de poder do parlamento municipal, e o respeito na convivência mútua, ainda está em construção.

O grupo de vereadores que assumiu esta nova legislatura é formado por bons quadros, o que torna a defesa de idéias divergentes, no mínimo interessante. O que se viu na última sessão ordinária do semestre foi o embate entre dois gigantes na oratória e na capacidade de articular politicamente. Todos serão mais felizes quando este talento estiver a serviço apenas e tão somente, de melhores condições de vida para a comunidade.

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