Depois de um ano e meio insistindo na gestão da Saúde via terceirização da administração de hospitais, o Estado está assumindo o controle do processo todo novamente.
Uma das razões pelas quais esta retomada pode dar certo está no fato de que no comando da “revolução” que se pretende fazer, está um médico, que é administrador - e pelo que concluí ontem após uma conversa, nascida de um encontro casual no Palácio Araguaia – “maluco o suficiente para quebrar o modelo de atendimento que existe hoje no Estado. E que na prática, é o modelo que está vigente no País quase todo. Com raras exceções que vêm dando certo.
O que quer Nicolau?
Elétrico no jeito de falar e de expor suas idéias, com um jeitão de excêntrico, sem deixar de ser simpático, o secretário é uma figura curiosa e interessante.
Logo no primeiro argumento, ele explica que o sistema de Saúde que nós temos hoje, foi criado no século passado, em que predominavam as doenças infecciosas. Para tratá-las era preciso construir hospitais, isolar pacientes, aquela coisa toda.
Com o avanço da medicina, elas (as doenças infecciosas) foram gradativamente controladas. E o que lota hospitais hoje são males advindos de doenças crônicas. Estas, que antigamente matavam, e não levavam à internação em hospitais, afirma Nicolau. É verdade. Perdi dois tios, uma avó e meu pai (este mais recentemente) por que infarto e derrame fulminantes eram muito mais comuns na década de 70 e 80.
Hoje os medicamentos para hipertensão, diabetes e doenças pulmonares prolongam a vida do doente crônico. Mas as consequências destas doenças, seus efeitos com o passar do tempo no organismo, lotam os hospitais de hoje.
E o que quer Nicolau? Inverter o processo, mudar o perfil do atendimento. E na prática, atender melhor o doente crônico na atenção básica, evitando que ele vá parar no hospital.
Hospitais de referência, com especialistas
Perguntei ao secretario como. Já que os municípios não têm dinheiro para isto.
É aí que entra a engenhosidade do que a nova gestão da Sesau está pretendendo fazer. Na prática, o primeiro passo será criar macro regiões, por áreas que tenham em torno de 200 mil habitantes.
Cada regional destas vai contar, segundo Nicolau, com pelo menos um especialista em cada área. Coisa que hoje os prefeitos não têm como pagar, nem garantir (médicos não querem morar no interior).
Otorrino, Ortopedista, Dermatologista, Cardio, Neuro. Para o Estado conseguir levar estes profissionais para cinco macro regiões, retirando a obrigação das prefeituras de médio porte de manter hospitais, onde não existe mão de obra qualificada em tempo integral é muito mais factível.
“A intenção é que os prefeitos deixem de criar problemas para suas próprias gestões construindo hospitais que não conseguem equipar nem pagar profissionais para atender ao público”, explica Nicolau.
O transporte dos pacientes para a cidade sede de cada macro região será feito também pelo governo do Estado. Na revolução de Nicolau o paciente sai de casa cedo com a consulta agendada, é atendido pelo especialista e volta para casa com sua doença crônica avaliada, medicada, controlada.
A idéia é criar consórcios municipais. Presididos pelo prefeito que for escolhido entre os prefeitos daquela macro região. Mas gerido por um CEO, um gestor preparado na área de saúde.
Em um ano, a coisa toda em funcionamento
Sentada diante de Nicolau por cerca de meia hora ouvindo a verdadeira “viagem”que ele fazia pelo Tocantins que ele quer ver funcionando na Saúde, perguntei: e o prazo? Quanto tempo para esta descentralização funcionar?
O projeto piloto deve ser lançado em breve. E o secretário quer concluir em um ano a implantação do novo sistema de atendimento no Estado todo.
Pode parecer loucura. Pode parecer delírio. Não a proposta de mudar a concepção do investimento em saúde que é tratar o paciente e não os efeitos da doença em hospitais mal equipados e desfalcados de profissionais médicos no interior do estado. Mas a forma, o tempo em que se pretende fazer isto.
“Vamos inaugurar de 40 a 50 leitos a mais no HGPP para desafogar o hospital, e mais 40 no Dona Regina. Mas queremos fechar estes leitos dentro de dois anos por falta de pacientes”, diz Nicolau. Olhei para ele. Agora não era o médico, nem o administrador, mas o visionário falando. Afinal, como fechar um leito num hospital que atende TO, Mato Grosso, Maranhão, Bahia, Pará?
Terminei a conversa entre dividida entre a esperança e a dúvida após o que ouvi. Mas aliviada que o Estado esteja chamando para si a responsabilidade de repensar a Saúde e encontrar caminhos para mexer neste sistema, que é nacional, mas que pode ser melhor administrado no âmbito do Estado e do Município. De forma mais eficiente.
De médico e de louco, todo mundo tem um pouco. Nicolau tem uma dose a mais que os outros que conheço. Que esta “loucura” boa, que se propõe a quebrar modelos e encontrar soluções, possa dar certo.
Uma coisa é evidente: se o secretário conseguir a parceria dos profissionais de Saúde, sua revolução tem mais chances de acontecer e dar resultados. Bater de frente, agredir, e desvalorizar estes profissionais, é que compromete os resultados de forma incontornável. Está aí, saindo de cena, a Pro Sáude que não me deixa mentir.
Comentários (0)