Roberta Desde que foi descoberta aquelas centenas de casos de problemas com a visão de crianças e adultos em Araguatins em 2006 – objeto de destaque na mídia nacional – supostamente provocados por contaminação da água (uma hipótese), ou transmissão por molusco (outra hipótese), não se ouvia mais falar em novos casos na cidade, turística, no bico do Papagaio.
Até que o drama da mãe de Danilo Guilherme, conhecido por algumas pessoas em Araguatins, vazou para fora do círculo de amigos da dona de casa, e chegou aos nossos ouvidos.
Temerosa em falar e perder a pouca ajuda que ainda consegue da prefeitura municipal, a mãe estava arredia a qualquer contato telefônico. Diante da gravidade do assunto, nossa decisão foi pautar uma equipe para se deslocar até Araguatins e verificar no local a dimensão e gravidade do assunto. Dermival Pereira a Lourenço Bonifácio rodaram cerca de 1.700 quilômetros ao longo e fora da BR-153, de quinta-feira a domingo passado em busca desta e de outras pautas que leitores vinham nos indicando.
O resultado foi trazer a público o drama de Danilo Guilherme que já perdeu 30% da visão de um olho. E segue fazendo um tratamento caro, indicado por profissionais da oftalmologia em Goiânia. A família que tem renda de R$ 600,00 mês gasta R$ 150,00 por semana com um dos colírios que ele tem que usar, o que totaliza R$ 600, 00 mensais. O outro, a prefeitura fornece.
O deslocamento do menino para revisões em Goiânia é outro drama. E tudo isto, por quê, se o Estado foi informado pela prefeitura, e o Ministério da Saúde foi notificado do novo caso? O que mais está faltando para que esta família pobre tenha ajuda? São coisas inacreditáveis que nascem da incompetência dos que pensam que esconder problemas desta natureza debaixo do tapete ajuda a resolvê-los.
A inaceitável ignorância da causa
De tudo o que chama a atenção neste caso – a tentativa da prefeitura em abafar o assunto e manter os turistas, a demora do Estado em dar retorno ao município e em assistir à família –uma me parece mais gritante: a omissão da comunidade científica e a apatia do Ministério da Saúde, através dos responsáveis.
Como é que uma doença de causa desconhecida, descoberta em 2006 fica sem pesquisa e sem respostas por todo este tempo? Será que é por que ocorreu no longínquo Tocantins, longe dos grandes centros e do interesse de faculdades de medicina e hospitais de ponta? De novo, é inacreditável.
Assim como Danilo Guilherme, de 10 anos - que precisa muito de ajuda - está com a visão parcialmente comprometida, outros também podem estar com o mesmo problema, ou no caminho de adquirí-lo.
Até quando ficaremos apáticos diante de casos como este? Não basta caridade com as vítimas da cegueira misteriosa registrada no documentário “O Mistério do Globo Ocular”, de Whebert Araújo - um trabalho que teve o mérito de registrar o drama, mas que também não encontrou as respostas - é preciso ação.
Quem tem a competência e o dever de agir precisa ser mais rápido e eficiente nas respostas. É o mínimo que a comunidade espera.
Confira o que foi publicado sobre o assunto:
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