O assassinato coletivo que acontece em Gaza

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Eu tenho um irmão palestino, nascido e criado nos territórios ocupados por Israel desde 1948. Naim, é seu nome. Ele nunca saiu de lá. Tenho outro, que veio embora para o Brasil adolescente, nas primeiras guerras: Jehad. Meu pai era palestino. Meu "Tum", é palestino. Sendo assim nunca pude ficar insensível ao que acontece do outro lado do mundo, naquele histórico pedaço de terra, palco de guerras e derramamento de sangue, onde criaram um estado novo no território de outro. E assim, o mundo tentava se redimir de ter permitido o massacre de judeus por Hitler na segunda guerra.

Deste "mea culpa" confuso e mal feito, nasceram dias de terror para um povo: o povo palestino. Meu pai teve sua identidade queimada, assim como milhares de outros companheiros seus. Sua cidadania, de "palestina" passou a ser "jordaniana". Ele deixou a primeira família e migrou para o Brasil, sem nunca se esquecer de sua terra. Décadas depois, com todos nós criados, vendeu sua loja, juntou seu patrimônio amealhado em mais de 30 anos de vida de comerciante no Brasil para viver o sonho de voltar "para casa".

A casa já não era a mesma, nem os campos de oliveiras, de onde vinha o azeite puro plantado na chácara da família, onde meu avô foi enterrado. A luta no entanto continuava sendo por liberdade, por nacionalidade, por direitos civis. Adolescente ainda, militei num movimento jovem chamado "Sanaúd", palavra árabe que significa "voltaremos". Na época era uma tentativa de divulgar a causa palestina, e manter filhos de palestinos nascidos no Brasil mais próximos de sua cultura original.

Filha de mãe brasileira, de descendência africana e indígena o Brasil sempre foi meu país, minha cota de identidade. Mas a forte ligação com meu pai, meus irmãos e sobrinhos árabes, a língua, a comida, as tradições, nunca morreram dentro de mim.

Foi na década de 80 que conheci Lula, pessoalmente num acampamento para jovens palestinos no Rio Grande do Sul. O então líder sindical era solidário à causa palestina. Um povo sem terra e sem direitos em sua própria terra.Fazendo este flash back nas últimas duas semanas, me custa entender o silêncio do mundo, e o silêncio de Lula diante do assassinato em massa que Israel impõe aos civis palestinos, na sua incapacidade de combater o Hamas, e o que sobrou de resistência à truculência sionista na Palestina ocupada.

Lá, ninguém mais pode sair de casa. Ninguém pode mais trabalhar. Ninguém tem como se comunicar com os parentes. Ninguém tem paz. Quantos palestinos mais terão que migrar para outros países, abandonar suas casas, sua cultura, seu povo, para perambular por outras nações, apenas para viver em liberdade?

Até quando o mundo vai silenciar diante do poderio econômico de Israel? Numa guerra pra lá de desigual, israelenses lutam para exterminar um povo, municiados do que há de mais moderno em armamentos, fabricados e fornecidos pelos Estados Unidos da América.

Numa guerra, acredito, ninguém tem razão. Mas esta guerra tem um motivo claro: a incapacidade da ONU, que criou Israel, em criar o Estado Palestino, devolvendo o equilíbrio à região. É por isso que o Oriente se levanta, os países vizinhos se revoltam, e os mais loucos movimentos terroristas surgem para lutar numa guerra que nada tem de santa.

Ninguém consegue aceitar calmamente a ofensiva constante que Israel impõe às famílias palestinas. É por isso que a Faixa de Gaza é este barril de pólvora, que incomoda quem tem consciência, e pode dar início a um confronto sem precedentes neste começo de século.

Sei que a solução não é fácil. Desarmar os ferozes, reconstruir um projeto de paz, hoje, parece uma distante realidade. Daqui, do coração do Brasil, distante demais de Jerusalém ou Ramalah, longe do bombardeio que castiga Gaza, não posso fazer nada além de protestar. Escrever e rezar, para que sobrevivam meu irmão, sua mulher e filhos na palestina ocupada.

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