Duvido que o prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), não tenha medido bem a repercussão no meio político da sua iniciativa de homenagear, às vésperas do aniversário de 20 anos de Palmas, a figura histórica e polêmica do ex-governador Siqueira Campos. Talvez não tivesse a clareza da repercussão popular, especialmente dos que se agregaram a ele politicamente pela sua bandeira anti Siqueira, motor e combustível das duas primeiras tentativas de chegar ao poder. Na terceira disputa, quando venceu a ex-prefeita Nilmar Ruiz em 2004, Raul abriu caminho para o rompimento de Marcelo Miranda com a União do Tocantins.
“Mas tudo passa, tudo passará”, já dizia a velha canção de Agnaldo Rayol. As mágoas pessoais, os motivos familiares, e tudo que motivou a saída do então deputado estadual Raul Filho da base siqueirista são águas passadas. Hoje o prefeito reconhece a importância de Siqueira – não só histórica como líder no processo de criação do Estado e de implantação de Palmas – mas como uma liderança viva e ativa no processo político.
É tanto que tenho ouvido na Câmara Municipal comentários elogiosos de vereadores da bancada do prefeito à ajuda recebida em Brasília, pelo poder de articulação que ainda têm, mesmo sem mandato, Siqueira e seu filho Eduardo. Não quero aqui discutir nem julgar o mérito da homenagem. Apenas analisar o curioso cenário que a iniciativa e suas repercussões traçaram na política tocantinense nesta semana Santa.
O movimento de Raul Filho já se anunciava há algum tempo. Primeiro porque, antes de qualquer arrefecimento das relações com Marcelo Miranda, o prefeito começou uma aproximação com Eduardo Siqueira Campos, ainda senador, em Brasília. A notícia divulgada por Salomão Wenceslau em “O Jornal” provocou reação imediata de Raul, então em primeiro mandato, um editorial de Salomão e o rompimento de relações entre o jornal e a prefeitura.
Depois veio a entrevista a um jornal goiano onde Raul citava Siqueira como “a única liderança política consolidada” do Tocantins. De lá para cá a desconfiança aumentou na cúpula palaciana, o namoro desandou entre governo e gestão petista, e o resto já se sabe.
A mim me parece que Raul Filho, com a atitude está mirando mais longe. Uns acham que é oportunismo, uma aproximação antes do julgamento do Rced, denotando que o prefeito e seu grupo acreditam na cassação do governador Marcelo Miranda e no retorno de Siqueira , senão ao governo, à cena política, fortalecido. Eu não concordo.
Acho que o olhar mais longe do prefeito Raul Filho demonstra uma superação admirável das diferenças. Neste ponto, sou obrigada a concordar com o vereador Wanderlei Barbosa, presidente da Câmara Municipal, que disse esta semana que o prefeito Raul sabe conviver bem com as divergências. É uma verdade inegável.
Caminhando para o centro do processo político, Raul demonstra espírito de estadista. A capacidade de superar diferenças e manter o diálogo com todos os grupos políticos do Estado é um traço muito interessante do perfil político do prefeito de Palmas hoje. Não sei o que vai dar a história de mudança de nome da avenida. Acredito até que repercute mal na base, e aqui vale o parêntese para elogiar a coerência e coragem do vereador Bismarque do Movimento. Contraditório com sua história seria votar a favor do projeto.
Mas Raul, que já andou tantos caminhos, tem mais flexibilidade. Comecei falando de Lélis, e quero terminar falando do deputado do partido Verde, que combateu duramente o prefeito eleito, enquanto eram adversários no processo eleitoral. Acredito que Lélis, assim como Eduardo Gomes e o vereador Cavalcante, continuarão oposição a Raul. Mas a proposta de moção de aplauso, assim como os elogios feitos pelo deputado ao prefeito mostra que até as pedras se encontram na política tocantinense. Quando uma ação lhes convém.
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