Cresce com velocidade assombrosa, o distanciamento entre o prefeito Raul Filho (PT) e o governador do Estado, Carlos Henrique Gaguim (PMDB). O que no começo eram flores, numa relação alimentada a almoços no Palácio Araguaia, visitas de Gaguim na casa de Raul e promessas de acertar os débitos políticos do governo estadual com o município, já não é mais assim.
O PT avalizou o governo Gaguim ao votar a favor do governador interino na eleição indireta. Mas preferiu não usufruir das benesses do poder. Não indicou secretários nem diretores no novo governo. Permaneceu assim com um pé dentro, e outro atrás, esperando o desenrolar dos fatos e o cumprimento das promessas do governo à Prefeitura de Palmas.
O episódio da doação da “Casa Branca” foi só o começo do ruído de comunicação entre o Palácio e o Paço. Decidido a doar, o governador não consultou ninguém. Chamou o prefeito, e diante dos vereadores, fez a promessa. Logo em seguida começaram os questionamentos. E o governo acenou com uma “cessão de direitos”.
Ninguém concordou com o arranjo, e acendeu-se a pólvora numa discussão alimentada pelas bancadas de situação e de oposição. Doada, a casa seria bem vinda. Cedida por tempo determinado foi considerada um “presente de grego”.
A interferência de Lélis
O deputado Marcello Lélis (PV) tem desfrutado de uma proximidade invejável com o governador. É presidente de partido, tem legenda própria e praticamente rompeu com seu grupo de origem para apoiar Gaguim. De lá para cá, tem sido prestigiado no governo e já descartou em entrevista recente, o retorno à União do Tocantins.
Adversário de Raul nas últimas eleições, sua iniciativa de questionar a doação através de requerimento só incendiou a discussão, trazendo à tona a antiga rixa política. Ora, Marcelo é pré-candidatíssimo à prefeitura de Palmas em 2012.
Ao questionar a doação enfrentou os colegas da base do governo - que chegaram a retirar seu requerimento de pauta – e venceu, com a liberação (ou “não interferência”) do Palácio na votação. Pra bom entendedor ficou claro o prestígio do presidente do PV, prevalecendo sobre o compromisso anterior do governador com Raul.
Na matemática da política – e sabendo que Gaguim só não interfere no que não quer – ficou claro que para o governador, Lélis é mais companheiro que Raul. Mas a discórdia não pára por aí. Tem reclamação da deputada Solange Duailibe sobre a transferência de responsabilidades da Saúde do Estado para o município.
Tem a promessa de transferência do patrimônio imobiliário que não deu um passo nos últimos meses. Tem o mal entendido da parceria na virada do Ano Novo, em que a prefeitura arcou sozinha com os custos, após esperar pelo governo. E finalmente aconteceu ontem o desagradável episódio da emissão de uma Licença de Operação para o Consórcio Investco.
Este, faltoso com suas obrigações sociais, descumpridor de normas e PBA’s sagrou-se escandalosamente mais forte, na queda de braço, do que sete prefeituras ribeirinhas, à frente delas o prefeito Raul Filho.
O andar da carruagem
Se não houver rapidamente uma mudança de tom e de rumo na relação entre o Executivo Estadual e o Executivo Municipal, o afastamento entre Gaguim e Raul pode ficar mais sério. Dos dois lados os defensores de um e de outro já entraram em combate. Uma pequena amostra está nos votos da Assembléia. Acompanharam Solange os deputados Ângelo Agnolin (PDT) e Iderval Silva (PMDB). Com a notável abstenção da líder do governo, deputada Josi Nunes.
Na Câmara, onde ninguém mede as palavras, Lúcio Campelo esqueceu o PR e o senador João Ribeiro e partiu pra cima do governador com todas as armas. Este é um caminho perigoso, em véspera de composição para se definir uma eleição. Um estremecimento mal cuidado, vira distanciamento. E daí para um rompimento, é só um pulo.
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