O partido, que historicamente se opôs ao discurso e prática política personificados pelo então deputado federal Siqueira Campos - que deixou o Congresso Nacional para disputar com José Freire a primeira eleição do recém criado Tocantins, no final de 1988 - não existe mais.
Ou melhor, não é mais aquele.
É fácil entender a cronologia histórica dos fatos que levaram a este arrefecimento na luta peemedebista contra o que os “modebas”sempre chamaram de “Siqueirismo”, se alinharmos os líderes do partido, cujas trajetórias foram marcadas pela transição de anti-Siqueira para aliados de Siqueira.
A começar pelo Velho Freire, que perdeu aquela primeira eleição. Seguido por Brito Miranda, que ao deixar as hostes peemedebistas para integrar o segundo governo Siqueira, fez estrago no partido de origem levando consigo boa parte de seus quadros.
O mesmo Brito (que ocupa seu tempo respondendo hoje à acusações e processos) foi quem voltou a recompô-lo depois, na diáspora entre Marcelo e Siqueira, no segundo ano do seu primeiro governo. Aquele governo em que Marcelo foi eleito com apoio do Palácio Araguaia, com o compromisso – ouvi isto num palanque armado de frente ao Ginásio Ayrton Senna - de apoiar em sua sucessão, o então senador Eduardo. Coisa que como se sabe, com o rompimento, nunca aconteceu.
Águas passadas
O velho PMDB no entanto, foi deixando de existir com seu antigo perfil, à medida que no poder, não fortaleceu um projeto de poder. E nas disputas internas, seus líderes se degladiaram. Quem não se lembra da crise que chegou ao ápice com a rejeição de Marcelo Miranda por um Carlos Gaguim eleito de forma indireta, após o Rced de tão triste memória para a história política do Tocantins.
E na esteira de Freire Pai, acompanhado por Freire Jr, e Brito Miranda, a terceira grande defecção, importante marco, foi a de Moisés Avelino. Indisposto justamente com Gaguim, depois de ajudar a compor o governo tampão.
Com o tempo restaram no front bem poucos peemedebistas históricos. E os que sobraram, como Derval de Paiva, calaram-se. Antes dele, saiu gritando e estampando a crise em todos os jornais e portais que lhe deram voz, o grande Júlio Resplande. Memórias de um PMDB dividido.
No novo tempo, um homem por trás da mudança
Agora que sob a presidência de Júnior Coimbra, o partido flexibiliza alianças, e literalmente dorme com o antes tratado como inimigo, como enxergar este novo PMDB?
Para uns é um partido que perde por fim todas as suas características de opositor à primeira e última liderança viva consolidada da política tocantinense: o Velho Siqueira.
Para outros é um partido que se reinventa, faz concessões, aproxima-se do meio de campo para sobreviver.
Talvez nenhum outro político tenha sido tão importante nesta mudança como o deputado estadual Sandoval Cardoso, hoje no PSD. De virtual candidato à presidência da Assembléia Legislativa há um ano e meio, a secretário das Cidades, é ele quem conversa, intermedia e encontra os pontos de convergência entre peemedebistas antigos e o interlocutor maior do governo: Eduardo.
Pode-se creditar à Sandoval o movimento de aproximação que possibilitou que o PPS chegasse mais perto do governo. Pode se dizer que é ele quem fala com Jr. Coimbra para facilitar a aceitação das alianças. Foi ele também quem esteve presente na aproximação da deputada Josi Nunes, que configurou uma nova relação dela com o Palácio Araguaia. Que não é de adesão, é preciso dizer, para fazer justiça. Mas de uma inédita proximidade.
Nos bastidores chega-se a ouvir que a aliança que fortaleceu Laurez Moreira em Gurupi é um passo numa grande ópera. Uma jogada num grande Xadrez. Ou um arranjo que passa pela sucessão de Palmas.
Digam o que quiserem, o fato é que o PMDB está sem candidato a prefeito nas maiores cidades do Estado. Em Araguaína caminha, com o aval do secretário de Relações Institucionais e do presidente Jr. Coimbra, para ser vice de Dimas. Um candidato que mais do que PR, prova estar alinhado com o governo, e assim o disse na semana que passou: “O PR não é oposição, é base”.
Palmas: a exceção que confirma a regra
A única exceção neste momento que vive o PMDB é a candidatura de Eli Borges em Palmas. Ouvi deste amigo, que é aqui, na capital, que o partido reserva a última carta na manga para sobreviver no cenário. Ainda que existam movimentos sutis de Marcelo Miranda mostrando descontentamento com este rumo. E talvez uma tentativa tardia de discutir o nome de Dulce.
Nome que o próprio Miranda teria descartado (segundo esta fonte) numa reunião com líderes peemedebistas há três meses, quando teria dito a um deles: “Cuida da sua mulher, que eu cuido da minha. A Dulce não vai ser candidata a nada”.
Por outro lado, numa contradição que afirma a máxima, na única cidade que o PMDB bate o pé para levar adiante uma candidatura própria, outros entendem que estará favorecendo e muito a divisão das oposições.
Oposição? Me perguntou um grande líder de partido expressivo há pouco mais de uma semana: “Ninguém mais sabe quem de fato é oposição”. Sábias palavras.
Não dá para saber. Nos novos tempos em que estão todos juntos e misturados, não há muita diferença. A seguir assim, podem contar poucos inflexíveis sobrando no PMDB. Poucos que ainda querem o partido na oposição.
“Resta o Marcelo, que ainda é querido pelo povo, mas que está isolado”, me disse o amigo peemedebista completando: “o que ele precisa é sair do papel de vítima, de coitadinho e mudar de postura. Senão vai morrer politicamente”.
Questionando um outro amigo, este das altas rodas do governo sobre o que está de fato acontecendo neste mexe e mistura com todos na mesma panela, ouvi ironicamente a seguinte frase: “Não é nada. É que estamos ficando todos mais democráticos, modernos e humanos”.
Este é o resumo do quadro atual. O PMDB não é mais aquele. O PT (estadual) também há muito não é mais aquele e o que vamos assistir nas próximas eleições no Tocantins pode ser apenas um fraco desempenho, a sombra pálida daquilo que já foi um dia a oposição.
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