Existe uma linha tênue que separa o que é legal do que é ético. O que é correto do que é justo. O que é de todos e o que é de um. De vez em quando ela se confunde e temos que ficar atentos para separar de novo estes conceitos tão caros numa sociedade que se pretende construir forte, justa, participativa.
Os novos tempos que estamos vivendo não permitem mais a confusão do público com o privado, o beneficiar amigos e companheiros políticos escancaradamente com o que é recurso de todos. Por isto, volta e meia entramos em terreno polêmico, perigoso, correndo o risco de nos indispor até com amigos, colegas, companheiros de profissão.
É o que acontece desde ontem quando iniciamos uma discussão no Twitter, rede social de alcance inimaginável, sobre a forma como o governo do Tocantins decidiu colocar em discussão com a sociedade o seu PPA 2012-2016. Participaram dela os colegas Cleber Toledo, Umberto Salvador e Fernando Hessel num primeiro momento, e por fim Melck Aquino.
Como o Twitter e seus 140 caracteres são insuficientes, trago o debate para este espaço de opinião para esclarecer o que não é e nunca poderá ser uma disputa de veículos de comunicação por espaço e faturamento junto ao governo, como alguns já tentam de pronto colocar, para desvirtuar o debate.
Governo vai discutir com a sociedade, via jornal, pagando por isso
O fato é que o governo decidiu fazer o que é de sua obrigação - consultas públicas sobre o planejamento macro do Estado - em parceria com uma empresa privada, o Jornal do Tocantins da Organização Jaime Câmara. E para tanto repassou a ela, conforme explica matéria jornalística publicada hoje no jornal, atribuições suas, pelas quais vai pagar.
Toda a infra-estrutura para estas audiências, e sua divulgação através da produção de material jornalístico será feita pelo jornal. O preço? Bem o preço ninguém sabe dizer quanto é. Digo isto depois de ter ouvido o secretário de comunicação a quem perguntei ontem por telefone como seria a parceria e quanto custaria. E também por que esta informação o JTO não publica ao se referir ao serviço para o qual foi contratado, numa parceria, em sua edição de hoje.
E explico: perguntei a Arrhenius Naves, por que projeto semelhante foi proposto pela OJC ao governo anterior, de Carlos Gaguim. Naquela época, foi encaminhado para a Secom, então sob a batuta do jornalista Mateus jr. E naquela época, custaria aos cofres públicos algo em torno de R$ 6 milhões de reais, para mais.
Gaguim, com toda “loucura” que lhe é atribuída pela forma acelerada como decidiu contratações e pagamentos de serviços públicos, não “comprou” o projeto. Que inclui, a exemplo do Palmas Minha Cidade, publicação de encartes, anúncios no ... Jornal do Tocantins. Aquele, vendido ao prefeito de Palmas, Raul Filho, ficou na casa de R$ 1 milhão de reais.
Li mais cedo, texto do jornalista Cléber Toledo, em que questiona a linha editorial adotada pela empresa, a moralidade do contrato, estas coisas todas.
Sobre a linha de cada um, penso que cabe ao leitor avaliar se ela muda ou não com o fechamento de grandes contratos publicitários. Este tipo de acusação (que anúncio compra linha editorial) é uma coisa que todos sofremos eventualmente e que também já me foi imputada uma vez no extinto jornal Alô Galera e com a qual não concordo. Não vendo, por isso acho que os outros também não o fazem. Até que em seu comportamento, me provem o contrário.
Motivos que embasam parceria e preço não estão claros
E por que toda esta discussão? Pode se perguntar o leitor. Por que queremos dividir o bolo com a Jaime Câmara? Por que a consideramos incompetente para tal serviço (um mix de consultoria de eventos, com serviço de agência de notícia e mobilização comunitária)?
De minha parte a resposta é não para as duas perguntas. Até por que o Site Roberta Tum é veículo, não é agência de propaganda, nem de notícias. E não presta consultoria ao governo. Também não comercializamos matéria jornalística. Este é um produto nosso para o nosso leitor, pelo qual ninguém paga diretamente. Comercializamos anúncios, bem formatados como tal. Publicamos material institucional de deputados, senadores, vereadores, prefeitos. Devidamente identificados como tal.
A questão, caros, é que ficou tênue demais a linha entre o lícito e ilícito nesta relação governo/veículo da OJC. Com toda vênia à história da organização, ao papel do Jornal do Tocantins na comunicação do Estado e à sua propalada credibilidade, a qual não me cabe fazer reparos como colega.
A questão é que o governo, que tem mesmo que discutir sua Agenda de trabalho, que tem obrigação de ouvir a sociedade em audiências públicas, está atrelando a discussão do seu PPA repassando tarefas suas e pagando para isto uma empresa de comunicação – no caso o jornal – cuja tiragem não alcança 1% da população do Estado. Qual a necessidade disto?
Por que? É o que nós estamos perguntado. Por quanto? É a pergunta que o secretário de comunicação não teve como me responder ontem. Pelos mesmos R$ 6 milhões pedidos a Gaguim? Ou será que baixou o preço para o novo governador. Este valor será gasto em tenda, palco, som, mídia?
Quando falamos em transparência, estamos falando de casos como este. Para ficar só neste aqui nesta sexta-feira. Basta ao governo e às empresa responderem às perguntas. Que temos todo direito de fazer. E não podemos ficar esperando anos para que o TCE fiscalize e publique num quadro qualquer, numa página perdida, num portal da transparência em algum lugar.
Os tempos são outros. Para todos.
Comentários (0)