Duas máximas tem marcado os discursos do governador Marcelo Miranda na sua corrida contra o tempo para entregar as obras concluídas pelo seu governo, neste mês de agosto que termina nesta segunda, 31. A primeira, é que o chefe do executivo, cassado por abuso do poder político (e não financeiro) sai “de cabeça erguida”. Esta afirmação se explica pelo fato de que o governador acredita ter feito o melhor que pode, e provocado o avanço do Tocantins em diversas áreas, da economia à educação.
A segunda afirmação , que virou alvo da oposição sedenta por desconstruir a imagem que Marcelo Miranda conquistou, é a de que “faria tudo de novo”. Ao dizer isto constantemente, o governador reforça na mídia e na alma do povo que foi cassado pelo bem que fez aos mais carentes: 80 mil óculos, lotes titulados no Taquari, milhares de consultas e exames no programa Governo Mais Perto de Você.
O Movimento Obrigado, que tem site (www.obrigadomarcelo.com.br), jingle melódico ao estilo gospel e vídeo no Youtube, vem passando a seguinte mensagem: Marcelo fez pelos mais carentes, foi cassado numa cruzada levada a efeito pelo antigo líder, hoje adversário, e recebe a gratidão do povo por ter sido sacrificado pelo bem que fez.
Oposição bate, situação se encolhe
Para a oposição, a história é diferente. Sem digerir a derrota nas urnas por mais de 50% dos votos, o grupo do ex-governador, parcialmente vitorioso no TSE, ganha as manchetes de jornais e sites na diária missão de detratar o governo. Para tanto usa os erros cometidos com o reajuste de 25% concedido e revogado, além das irregularidades no contrato Unitins/Eadcon.
Já os companheiros de palanque do governador em 2006, que garantiram seus mandatos no mesmo barco que levou Marcelo, Kátia, cinco deputados federais e a maioria dos estaduais a serem eleitos, o resultado do Rced não têm usado a tribuna e a imprensa para defender o governo do qual fazem parte. Com raras exceções a veemência na defesa acabou. Mais que isto, poucos são os que têm acompanhado o governador nas inaugurações de obras por todo o Estado. Normalmente vai o deputado que de alguma maneira está ligado à conquista daquela obra.
Sabedor disto, e observando o cenário, o governador fez um meio desabafo também em Palmeirante semana passada. “Quero que vocês prestem atenção neste palanque. Aqui estão os verdadeiros companheiros do Marcelo. Porque companheiro é companheiro, nas horas boas e nas horas difíceis. Estes que estão caminhando comigo terão a minha gratidão”, disse ele.
A herança de 2006
Ao buscar “descolar” sua imagem do governador que teve o mandato cassado, muitos dos que foram eleitos com ele têm esquecido a história da eleição de 2006. Naquele momento, insatisfeitos com o tratamento recebido pelo ex-governador (traumático para muitos), deputados e candidatos se uniram em torno de Marcelo por ver nele a oportunidade de virar o jogo. Respaldados pelos R$ 2 milhões de emendas concedidas pelo governo a cada um, foram às urnas com todo vigor derrotar “o antigo jeito de governar”, e assim garantir seu espaço num cenário que fosse "mais aberto, respeitoso e democrático".
Terminada a eleição, cada qual foi cuidar do seu “quintal”, e o governo tocou o barco das obras e projetos. Sem julgar ninguém, o observador desta história sabe que o segundo governo Marcelo é de responsabilidade de todos os que fizeram parte dele. Na mesma bagagem, estão os erros e os acertos. E no mesmo time, Marcelo e Sidney cassados, e todos os outros "companheiros", que tiveram os mandatos preservados.
O futuro
Se deixar o governo na próxima semana, Marcelo Miranda levará no currículo político o feito histórico de ter quebrado a hegemonia de um grupo poderoso, que tem história e obras, pois implantou o Estado, criou a capital, Palmas e governou 10 anos. Terá debaixo do braço um relatório de cerca de 4 mil obras construídas em seis anos e oito meses, além do que ele próprio chama do “legado humano”. Neste aspecto, nenhum segmento organizado pode reclamar de falta de diálogo e participação na solução dos problemas.
É fato que Marcelo ainda terá pela frente desafios jurídicos, mas a herança de abertura administrativa e independência política deixadas pelo seu governo, jamais poderão ser negadas à luz da história. O Tocantins na verdade, nunca mais será o mesmo que era naquele final de manhã em que Marcelo foi ungido o candidato da União do Tocantins, no velho barracão da Vitória, da antiga Vila dos Deputados. Ao romper com Siqueira, e enfrentá-lo em 2006, o filho do "velho Brito" revelou o descontentamento de muitos e mudou a geografia política do Estado.
Por causa disto, o futuro para todos os partidos e pretendentes a cargos eletivos do Tocantins, neste final de agosto de 2009 só pertence a Deus e aos milhares de eleitores, a mais ninguém.
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