A verdade é que é bem fácil ser governo quando o mandato está no início tudo vai bem e um processo como este é apenas uma nuvem turva no horizonte. Todos querem sua fatia do bolo: cargos, indicações, obras e mídia. Todos querem estar perto do rei, e até as críticas aos fatos de difícil explicação, são amenas. Basta os ventos contrários começarem a soprar, e logo se identifica o movimento de recuo, de afastamento, de críticas a princípio veladas que se tornam rapidamente em acusações em praça pública.
Foi assim com o GMPV. O Governo Mais Perto de Você, tão criticado - ontem pela oposição, e hoje por alguns setores da imprensa - que existe desde o primeiro governo Marcelo. O programa foi saudado pela classe política e pelas lideranças dos municípios como algo fantástico e novo que permitiria ao governo estar mais perto de uma população carente dos atendimentos mais complexos do Estado no interior. Atendimento médico de especialidades, emissão gratuita de documentos, atendimento a prefeitos da região. Tudo isso era tido como excelente. Alguns questionamentos sobre o fornecimento de água, comida e os óculos foram feitos, mas não permaneceram na mídia. Ficaram restritos ao judiciário.
Depois o governo Marcelo Miranda passou a lidar com outros problemas: 25 % de aumento ao funcionalismo, dados sem que o Estado tivesse caixa para pagar. Passou por no mínimo três secretarias, antes de chegar à Assembléia Legislativa e ser votado. Ninguém viu nada. A culpa é do governador? Lógico que não. Para fazer contas e checar o que o Estado pode ou não fazer de dívidas, ele tem assessoria. Ou deveria ter. Mas é Marcelo Miranda quem está pagando o ônus político por isso.
Aí veio também a questão das indenizações da PM. Uma dívida que não foi originada neste governo. Uma conta que cresceu como uma bola de neve, inflada não pelos policiais que têm direito às indenizações mas por quem ganha em cima deles, financeiramente e politicamente. Os urubus já começavam a rondar o governo em curso.
Depois veio o concurso do Quadro Geral do Estado. Cheio de equívocos desde o começo. Suspeição sobre a lisura da comissão organizadora, suspeição de vazamento na Unitins, contratação sem licitação da Universa, erro de impressão de provas comprometendo o descrito no edital, mais de 6 mil recursos, gabaritos duas vezes publicados com erro. Culpa do governador? Diretamente não. Mas é ele quem responde pelo governo.
E às vésperas do julgamento do Rced, com dois governadores de estados vizinhos cassados, uma nuvem pesada se abateu sobre o ânimo do governo. Os companheiros de ontem, que adoravam estar presentes numa inauguração com o governador, lentamente começaram a se afastar. O governo sofreu derrotas importantes na eleição de 2008, a disputa da ATM dividiu a base, e outras, diversas complicações têm acontecido desde então.
O governador está ficando sozinho com os problemas para administrar. E é neste quadro, que vejo muitos companheiros de ontem se esquecerem dos motivos pelos quais todos se uniram em torno de Marcelo Miranda no processo eleitoral de 2006. O argumento de então era “Siqueira nunca mais”. Muitos foram intransigentes e impiedosos. Como se os defeitos do ex-governador - quem não os tem? – fossem impeditivos de sua presença na política tocantinense, e sua imagem tivesse que ser varrida do cenário político, dos prédios públicos (lembram dos globos?) e da memória do povo.
Agora, com a fragilidade do momento vivido pelo governo da Aliança da Vitória, aliança que parece estar bem perto de se desfazer, são muitos os que têm fome de poder. O PPS de Eduardo do Dertins anseia pela posse de Sidney. Os setores do PMDB ligados a Gaguim anunciam aos quatro ventos seus 15 votos para ser governador. O PT já fez as malas e se mudou, aproximando-se do PR de João Ribeiro. Os tradicionais aliados de Siqueira anunciam que ele disputará novamente a eleição ao governo. O prefeito Raul Filho, tradicional e histórico adversário do ex-governador, lhe presta uma homenagem propondo mudança do nome da principal avenida de Palmas.
Em véspera de Rced, uns agem à moda do avestruz, e enterram a cabeça na areia. Outros já vivem dentro do governo um clima vergonhoso de “salve-se quem puder, com o que puder”. Só quem não deixou o governo – seja com palavras ou ações – é o DEM de Kátia Abreu. O DEM - eu já cantava a pedra desde a posse de Raul com a presença de Marcelo no Espaço Cultural, - é o companheiro de primeira (e última) hora do governador. Com Rced ou sem, os democratas assumem ainda hoje o discurso feito na campanha, e permanecem na oposição. Isso sim, vale dizer, é coerência difícil de se ver em tempos tão turbulentos.
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