Os quadros de humor que imortalizaram Arnaud Rodrigues ainda vão levar muito tempo para se esvair na memória dos brasileiros que se acostumaram a rir ao vê-lo pela TV nas últimas décadas. Encantado com as belezas do Tocantins, com a vida mais tranqüila do que a correria a que estava habituado no eixo Rio/São Paulo, Arnaud tinha se mudado para o Estado já há alguns anos.
Aqui, desde o último governo Siqueira Campos, Arnaud fez amigos, aumentou o número de fãs, desenvolveu seus projetos. Pra cá, trouxe a família, os negócios, e seu jeito alegre, simpático e gentil de ser. Aqui fez bons amigos, como o casal Raul e Solange, na companhia de quem passou seu último dia.
Por isso no começo da noite desta terça-feira, quando a TV Anhanguera noticiou seu desaparecimento em acidente náutico numa travessia do Lago de Lageado no final da tarde, a apreensão se abateu sobre os amigos. Aos poucos, como uma colcha de retalhos, as notícias desencontradas foram chegando. Onde estava, com quem, como foi que o barco virou, e por que.
Os detalhes da tragédia que vitimou Arnaud e que até a hora em que redijo este texto, deixa desaparecido Francisco Ribeiro, carinhosamente tratado como “Kiko”, pelos amigos com os quais convivia na prefeitura de Palmas, foram se juntado. O dia de confraternização com os amigos da prefeitura, na chácara de Ivory, a travessia que se complicou com a queda rápida de uma chuva muito forte, seguida dos ventos que só os moradores de Palmas podem dizer como são.
Numa onda, “maior que as ondas do mar”, como contou uma das sobreviventes, a voadeira foi engolida, provocando o pânico, e a tentativa de salvamento de duas crianças, um adolescente, e das mulheres que estavam na embarcação. Segundo o relato desta testemunha, Arnaud ainda teve tempo de estender à mulher, um colete salva-vidas.
O fatídico acontecimento traz para nós, palmenses e tocantinenses que fazemos uso do lago para o lazer, mais que o manto duro da tristeza. Serve de doloroso alerta. No mesmo final de semana de carnaval, outra embarcação já havia virado nas águas agitadas do lago.
É preciso muito, mas muito mais cuidado por parte de quem usa o lago neste período chuvoso. Os relatos de ondas cada vez maiores durante a ação dos ventos, têm sido constantes e cada vez mais assustadores. A ação fiscalizatória da Marinha também precisa melhorar. Em momentos de perigo, é preferível fechar o tráfego de embarcações menores no lago, do que permitir que as pessoas se exponham ao risco diante do que desconhecem.
Esta Quarta de Cinzas, é dia de luto. Na última vez que nos encontramos, Arnaud, solidário comigo pela retirada do ar do meu programa de rádio, dava conselhos com seu jeito gentil e cavalheiro de ser, e me incentivava a seguir em frente. Guardarei dele a imagem da simpatia, do carisma e do talento de um grande artista e comunicador. Como nesta foto feita na sexta-feira de carnaval, quatro dias antes de falecer.
Um homem do mundo, que se apaixonou pelo estado, por Palmas e entregou sua vida às águas do rio.
Parafraseando o amigo jornalista e poeta, Tião Pinheiro, também deixo meu adeus a Arnaud: “E quando tudo se acabar/ e quando tudo chegar ao fim/ junte o que restou de mim/ e deixe nas águas do Tocantins”.
Comentários (0)