Onze anos depois do trauma, tribunal começa a fazer justiça às vítimas da queda do elevador

Quanto tempo pode demorar uma ação na justiça para reparar danos como o sofrido por Nelson Collet (já falecido) e Leekênia Oliveira, a quem a queda do elevador do Free Shopping, na Capital, resultou numa paraplegia? No caso dela, onze longos anos, e ...

Palmas era uma capital relativamente pequena e com poucas opções de lazer há 11 anos, quando o Free Shopping funcionava normalmente com suas lojas e praça de alimentação no último piso no dia em que o elevador despencou, fosso abaixo, com oito pessoas dentro. Foi um abalo. Correria. Equipe de resgate para remover e atender os feridos. Duas das vítimas se feriram gravemente.

Nelson Collet – que veio a falecer posteriormente - teve a perna amputada em decorrência dos ferimentos sofridos com a queda do elevador. Leekênia Oliveira, que obteve vitória na justiça esta semana, contra a empresa Elevadores do Brasil, ficou paraplégica aos 27 anos, com uma vida inteira pela frente.

O trauma sofrido pelas famílias contaminou a cidade, consternada à época com a tragédia. E feriu fatalmente, o shopping, que nunca mais recuperou o movimento depois do acidente. Gradativamente as lojas foram fechando, o elevador foi interditado e hoje o prédio é utilizado por uma loja de confecções e griffes, que tomou conta do imóvel em ponto privilegiado da avenida J.K.

O tempo passa, a marca fica e para a vítima restou o trauma

Uma cidade é feita das suas histórias, das suas pessoas, e também, de suas lendas. Um evento como o acidente ocorrido naquela Palmas de 2000, na virada do milênio foi marcante por diversos motivos. Um deles, fica evidente agora: a lentidão com que este processo tramitou na justiça para reconhecer o direito líquido e certo de quem teve a vida “atropelada” pelo acidente.

Quem responsabilizar? Em quanto? São perguntas que começam a ser respondidas com a decisão da 2ª Câmara Cível do TJ. A quanto Leekênia terá direito em indenização por ter perdido o movimento das pernas, é uma pergunta que ainda será respondida pelo juiz que concedeu a liminar, lá atrás no começo do processo. E os valores ainda poderão ser objeto de questionamento. A vítima que sobreviveu com as seqüelas pleiteia R$ 3 milhões. A empresa resistirá o quanto puder, protelando o pagamento. É da lei o uso de recursos.

O que desanima, é a demora. Quanto mais esta mulher - que viu sua vida transformada, tantos sonhos impedidos por uma deficiência com a qual não nasceu, mas que foi provocada pela omissão ou descuido de alguém - terá que esperar?

Com os novos ares que tem soprado no judiciário tocantinense, de transparência, de maior vigilância da sociedade e dos órgãos que fiscalizam a atuação de juízes, com as metas estipuladas para serem cumpridas na tramitação de processos, espera-se que não muito. Onze anos representam toda uma vida. É tempo demais para Leekênia.

Ideologias nos separam. Sonhos e aflições nos unem. No caso das vítimas da queda do elevador do Free Shopping, sua herança de aflições são nossas. De toda sociedade. Naquele elevador, poderia estar qualquer um de nós. Foram aqueles oito. Dois dos quais marcados para sempre. Que a justiça seja feita a eles. E que não seja feita tarde demais.

Comentários (0)