Nós, do Tocantins, assistimos ontem o senador Ataídes de Oliveira ir parar nas manchetes da imprensa nacional de uma forma surpreendente e rápida. Sua assessoria teve um dia de cão para administrar a crise que começou com o PSDB Nacional declarando à imprensa que ele teria retirado sua assinatura do requerimento da CPI dos Transportes por pressão do titular do mandato, João Ribeiro.
A notícia saiu e fez seu efeito: pressão mesmo sofreu Ataídes entre a manhã e o começo da tarde para refluir da decisão. E pública. Nas redes sociais, além dos bastidores, onde antecedeu um sem número de ligações, pró e contra a manutenção da assinatura. A maioria pró, evidentemente. Tanto que no meio da tarde o senador - que cumpre 121 dias de mandato por que Ribeiro se afastou para cuidar da saúde – reafirmou seu apoio à CPI.
E foi para a tribuna fazer discurso em que pediu “desculpas ao Brasil”. Como assim? Desculpas por assinar e refluir? A crise interna de decisão e de consciência vivida pelo suplente de senador diante do fogo cruzado nacional, com certeza não deve ter sido fácil.
As declarações oficiais para a imprensa tocantinense (nós, o Jornal do Tocantins e outros) são no sentido de que não houve pressão, nem de um lado, nem do outro. Coisa impossível de acreditar.
Campo minado para amadores
Primeiro, por que política nacional não é campo que permita a sobrevivência de amadores. É óbvio que o titular do mandato é João Ribeiro. É evidente que o senador é das relações da presidente Dilma e por conseguinte não assinaria, se estivesse investido do mandato, uma CPI para investigar um ministério “faxinado” pela própria presidente. Com um rigor que, dizem, fez passar a guilhotina até nas cabeças que nada tinham com o esquema do mensalão.
Daí que a decisão de Ataídes em assinar o pedido de CPI, refletiria por conseqüência nas relações de Ribeiro com o Planalto. Esclarecido disto na convivência com os próprios senadores no Congresso, Ataídes teria ido almoçar com João, sondado o anfitrião sobre o assunto e ouvido dele que realmente sua posição causaria uma saia justa ao titular do mandato. E daí anunciou que retiraria a assinatura.
Como no PSDB nacional também não existe ninguém inocente na prática política, criou-se a versão da notícia que constrangeria Ataídes junto à opinião pública. E não há político que se preze que despreze a opinião pública.
Vai, vem e volta: um dia infernal para Ataídes
Resumo da ópera: Ataídes ficou conhecido ontem nacionalmente como o senador que assinou, retirou a assinatura e depois voltou a colocá-la, numa CPI que estava fadada a não se instalada pela movimentação feita pelo governo. Fritou-se e ainda respingou na imagem de João Ribeiro no Planalto, a pecha de que é dono do mandato, mas não está sintonizado com o suplente.
E o que é um suplente numa chapa de senado senão o vice na de governador? Tem que haver sintonia de pensamentos e interesses. Tem que haver confiança. Ou pelo menos teria, mas para o bem ou para o mal, não é isto que acontece.
Sistema S e o fogo amigo
De quebra, passou desapercebido, diante do estrago maior, a crítica feita em alto e bom som pelo deputado federal César Hallum sobre a “mexida”, que Ataídes quer fazer no sistema S. Um discurso que já incomodou da senadora Kátia Abreu, presidente da CNA, ao empresário Robertinho Pires, presidente da Fieto. As críticas de Ataídes, que considera a gestão do sistema uma “caixa preta”, não encontram apoio nem na presidência do seu partido no Tocantins, onde ontem, Ernani Siqueira fez questão de esclarecer.
No fim das contas, a impressão que fica é de que o senador Ataídes de Oliveira que, chegou bem intencionado ao Senado, com a bagagem e a experiência de empresário bem sucedido, deixou-se queimar dentro e fora do seu grupo. De um lado pela pressa de marcar sua passagem com algo de peso (mexer no sistema S) e de outro pela inexperiência ao lidar com uma crise de governo (caso Dilma e PR).
Sua passagem pelo senado vai ficar registrada no hall da fama (o sistema de buscas do google não o esquecerá). Mas com certeza não do jeito que ele gostaria. Quem sabe numa segunda oportunidade, que pode vir dentro de alguns anos. Caso Ribeiro, o titular, se afaste de novo para disputar mandato de governador.
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