Muita especulação e algumas informações erradas cercaram a saída do ex-secretário de Saúde, Raimundo Boi, no mesmo dia em que a TV Anhanguera encheu suas telas das tristes lágrimas de Seu Genivaldo Pereira, pai do menino Wellington, de 12 anos, que morreu vítima de uma infecção, depois de machucar o joelho num jogo de futebol há nove dias.
Foi de cortar o coração ver o pai contar a dor do filho, que aguardou numa cadeira de rodas no HGP um atendimento que visivelmente não veio à altura ou a tempo da sua necessidade. O Conselho Regional de Medicina vai nos dizer onde de fato o sistema de saúde faltou com Wellington e sua família, se na esfera de responsabilidades do município onde foi atendido primeiro, se na do Estado para onde foi transferido depois. Ou se nos dois.
O certo é que a infecção o levou, depois de nove dias de um inferno vivido por muitas famílias pobres: as que dependem que o SUS funcione para salvar a vida de seus filhos. E por eles insistem, insistem e insistem. Enfrentando a indiferença de quem já se acostumou com a doença, e responde: "calma pai, isso é normal"
Wellington machucou o joelho jogando bola numa praça nas imediações de sua casa. Foi levado à UPA do Aureny I. E medicado para dor. Segundo a família conta, porque no raio-x não apareceu fratura. As dores insistentes do menino, no joelho e posteriormente no quadril, forçaram o pai e familiares a levá-lo repetidas vezes à UPA. E o tratamento foi o mesmo.
Transferir para o HGP? Só na segunda-feira, depois de muita insistência dos pais. E foi lá que Wellington foi sedado, segundo conta o pai na reportagem que também publicamos aqui. E sentindo dores e a barriga “cheia”, suplicou insistentemente: “pai, me ajuda!”, para um cidadão que desesperado, contava à repórter: “... eu não sou médico, eu não sabia o que ele estava sentindo”.
Triste demais. E casos assim continuam acontecendo. Onde está o erro? No protocolo seguido pelas Unidades de Pronto Atendimento, que dividem em cores, pela gravidade do caso, quem tem atendimento urgente ou emergente? Quem deveria ter pesquisado o caso mais a fundo, pedido um exame que pudesse identificar a infecção a tempo de ser atacada? Também não sei. São perguntas sem resposta. E quando vierem não trarão a vida do menino de 12 anos de volta.
Tragédia foi pano de fundo da saída de Boi: culpa de parentes? ele diz que não
Mas o caso dramático apenas deu os contornos de tragédia num dia em que o secretário de Saúde que respondia pela pasta, Raimundo Boi, pediu demissão. O que se comenta em todas as rodas é que o artigo publicado pelo jornalista Luiz Armando Costa, fazendo referência a contratação de"uma grande família" na Sesau teria sido a gota d’água.
A pasta como se sabe teve os poderes divididos entre Boi, Micheline Cavalcante e Gastão Neder. Este que era o último na ordem hierárquica, ascendeu sobre Micheline, esposa do vereador Cavalcante. Os dois praticamente da cozinha de Siqueira. A guerra surda por poder na pasta, segundo contam funcionários, é grande, e não começou hoje.
Para quem acredita que a solução dada ontem pelo governador ao problema é definitiva, podem esperar: Gastão não fica no comando da pasta. Simplesmente por que o problema ali é grande demais, e seu perfil não ajuda. Sua imagem naquela confusão dos remédios vendidos numa farmácia da capital com receituário assinado por ele ainda não se apagou da mente dos palmenses.
Voltando a Raimundo Boi e seus parentes, o ex-secretário teria escrito uma carta ao governador pedindo exoneração. No que foi acompanhado pela ex-vereadora Warner Pires, que embora lotada no gabinete do governador, dava expediente mesmo na ante sala do marido, acendendo críticas de que trabalhava ali uma candidatura novamente à Câmara Municipal.
Ao conversar com o governador, Boi teria afirmado que os Pires encontrados por Luiz Armando na folha da Sesau não eram seus parentes, e que parente mesmo, ele tem apenas uma. Os demais estariam mais próximos dos Pires de Robertinho, da Fieto, do que seus, teria brincado Boi.
O fato é que o médico, ex-vice governador, amigo de Siqueira há séculos saiu de cena para poupar-se de um desgate que cada dia é maior, e para o qual o governo não encontra solução. E ainda sofre as críticas pela contratação da Pró-Saúde que o leitor/eleitor comum entende como uma coisa cara, feita sem licitação e da qual não se vê resultado de melhoria no sistema que a dita instituição foi contratada para gerenciar. Por mais que alguns médicos antigos ouvidos pelo Site Roberta Tum pensem o contrário, e entendam que os procedimentos foram modernizados.
Outras mudanças virão
As mudanças desta semana, pelo andar da carruagem apenas começaram. Tem mais gente na fila para sair, por um motivo ou outro.
Vejam o caso da secretaria de Justiça e Diretos Humanos, capitaneada pelo delegado Djalma Leandro, do qual já falamos há alguns dias. A transferência de agentes continua, retirando pessoal de onde foram concursados para ficar, e lançando-os onde o secretário julga necessário, sempre “a bem do interesse do Estado”. Ou seria a bem do interesse do gestor da pasta? Fica a interrogação. Pedimos informações à pasta sobre os motivos, e ainda estamos aguardando que cheguem.
Indiferente à críticas e ao resultado político de suas ações, Djalma segue em frente. E as reclamações continuam chegando.
Num email que recebi ontem, uma agente relata que desde o artigo aqui publicado, a perseguição aos policiais civis agentes penitenciários recrudesceram. “Somente no diário oficial do dia 29/02/2012, quase 100 (cem) pais de famílias foram removidos do seu lar e tiveram suas famílias dividas pela longa distancia imposta pelo Tirano Secretario de justiça e Direitos Humanos Djalma Leandro”(sic), afirma a leitora.
As mudanças não desagradam apenas os agepens, relata ela: “ nesse momento temos Delegados Regionais que estão quase loucos sem saber quem irão colocar no lugar dos policiais removidos, hoje de norte a sul do Estado do Tocantins temos agentes penitenciários trabalhando nas delegacias de policia civil”.
Paralelo às transferências, uma dupla encarregada pelo secretário tem percorrido o Estado tentando negociar chefia de plantões e gratificações, para amenizar a situação.
Vamos ver até onde isto vai. Quem segue insensível ao efeito de suas ações, um dia encontra a porta de saída. Mais cedo ou mais tarde.
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