Os números da educação no Estado e a falta da escola que ensina a pensar

Já faz alguns dias que quero comentar aqui os números que as escolas do Estado atingiram como média na avaliação feita pelo Salto - Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Tocantins. A polêmica foi tamanha diante das declarações do secretário d...

O seminário internacional promovido em Palmas desde ontem para discutir educação integral sofreu alguns desfalques quanto à presença anunciada de palestrantes renomados. A ausência de nomes esperados na quinta e nesta sexta-feira provocaram um burburinho entre professores e desgaste para o secretário Zenóbio Júnior, que viveu um dia de instabilidade provocado também pela publicação de rumores sobre uma eventual substituição sua na Educação do Município, negada depois em nota pelo prefeito.

Questões políticas a parte, a Educação do município se notabilizou nos últimos anos pela consolidação do modelo de Escola de Tempo Integral implantado na gestão petista - primeiro pelo secretário Danilo de Melo, que foi aproveitado na equipe do novo governo para comandar a Educação do Estado – e agora pelo sucessor, advogado Zenóbio Júnior, que era da assessoria de Danilo e é visto como pessoa muito ligada a ele.

Pois bem. Há um desgaste evidente no ar, na forma como este comando se perpetua no município. Segundo professores disseram ao Site Roberta Tum, houve um princípio de vaia no primeiro dia do seminário. Justamente quando o representante do secretário estadual foi chamado. Reflexo dos recentes comentários feitos por Danilo sobre a avaliação das escolas.

Falando de números

O fato é que Palmas, sob a batuta do professor Danilo, conquistou índices notáveis na avaliação de seus alunos. E o que conta hoje são números para se dizer se a educação num determinado município ou Estado tem excelência. Qual a média obtida pelos estudantes quando avaliados em provões? Qual a média obtida pelas escolas, quando avaliadas pelo Salto? A resposta a estas perguntas fazem de certa forma o calvário de professores que precisam levar suas turmas a médias aceitáveis.

Críticos do sistema adotado no município, ainda sob a batuta de Danilo, apontam para uma espécie de “treinamento”, em torno da prova, que seria feito durante o ano pelos professores das escolas públicas municipais para que os alunos ao final, se saiam bem. E aí vem o questionamento, que já citei aqui uma vez:: estes alunos com média alta, tiveram um bom treinamento para a prova, em cima de temas e questões específicas, ou estão mesmo no nível de conhecimento por exemplo,de Curitiba, como apontam as médias alcançadas?

Críticas que os professores não aceitam

O certo é que do município para o Estado, o secretário de Educação, professor Danilo levou a meta de fazer melhorar os números que medem o desempenho dos estudantes da rede pública de ensino estadual. Sua avaliação dos motivos pelos quais as escolas não foram bem no Salto - a maioria atingiu média 4 – desagradou e muito aos profissionais da Educação.

A forma como os professores avaliam foi criticada pelo secretário, que terminou sendo objeto de críticas pelos comentaristas e também nas redes sociais, ao atribuir a responsabilidade pelo baixo desempenho aos professores. E em contraponto argumentar que os salários no Tocantins estão em segundo lugar no Brasil. Informação contestada por alguns educadores.

Em carta professora questiona obrigação de passar alunos

É neste ponto que me ocorreu a leitura feita há poucos dias da carta de uma professora do Paraná que circula na web como resposta a uma reportagem da revista Veja, em que a repórter sugere que a aula seja cronometrada a fim de medir quanto tempo o professor efetivamente ensina durante o tempo em que passa em sala.

Indignada, a professora paranaense dá uma verdadeira aula sobre como a responsabilidade sobre o bom ou mau desempenho é jogada sobre os ombros de milhares de professores, quando a escola já não é aquele ambiente propício à aprendizagem, por vários motivos.

O texto é tão interessante, que - independente da confirmação de sua autoria - vamos disponibilizá-lo na íntegra aqui, pelos argumentos servem para esta reflexão. Ela fala da falta de disciplina, que reina nas escolas brasileiras em geral. Esta que faz com que professores não raro sejam vítimas de violência por parte de seus alunos.

Aponta a obrigação de passar os alunos, a impossibilidade da reprovação, imposta à escola pública, como um erro grave. E também critica a visão de que professor só trabalha quando está em sala de aula, ao contrário da realidade: em sala ele executa o que planejou fora dela, e é justamente fora, que ainda tem a carga das avaliações e correções de provas.

São reflexões importantes estas sobre qual é realmente o papel que cabe ao professor nesta engrenagem feita para ensinar e medir aprendizado.

Ensinar a aprender, ensinar a pensar

Ainda na década de 90, quando passei pelos bancos da UFG num curso de Pedagogia, tive a oportunidade de conviver com grandes professores, pensadores, críticos das teorias da educação e sua aplicação já naquela época, na escola pública brasileira.

Um deles, Carlos Hugo Gianotti, professor de história da educação, nos provocava, futuros pedagogos, a definir qual era a maior função da escola. Aplicar conteúdos? Levar o aluno a fixá-los a ponto de poder repeti-los em provas de conhecimento?(que ainda não tinham alcançado os mecanismos atuais)

Daquele tempo, que se estendeu depois para a Faculdade de Educação em Goiânia, onde ouvíamos e líamos fascinados, de Paulo Freire a Marilena Chauí, guardei esta lição/conclusão. O maior legado da escola ao aluno é ensiná-lo a pensar. Despertar sua capacidade de ler, de compreender, de se auto educar ao longo da vida. De buscar os conhecimentos que lhes serão úteis, e de ser capaz de questionar este sistema todo que aí está.

Um sistema burro, em que um professor é considerado bom profissional na medida em que é capaz de “adestrar” alunos a passarem com boas médias em provas feitas para classificar escolas numa escala hierárquica que mostra quem “aprendeu” mais, e quem está jogando fora o suado dinheiro do contribuinte.

Há muito que se falar sobre os motivos que levam as escolas brasileiras, e por extensão, as tocantinenses, a serem o que são hoje. Mas é inegável que a produção do conhecimento envolve muito mais do que a boa vontade do professor, ou sua capacidade em ensinar e avaliar seus alunos.

Longe do modelo da escola de tempo integral, aclamado – e com razão – por propiciar o desenvolvimento de várias habilidades no aluno, ainda existe a escola da vida real. Na maioria delas, ainda falta um pouco de tudo: de boas acomodações a bons quadros, carteiras, computadores. E elas ainda são a maioria Tocantins afora, onde compõem uma realidade difícil de se reverter.

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