Vi o lançamento em Palmas da Central Única das Favelas, a CUFA, que é conhecida por ter um trabalho social interessante no eixo Rio-SP-BH, além de outras metrópoles onde a favelização é uma realidade.
Vi e entendi a intenção. Mas não posso deixar de pontuar algumas coisas fundamentais. E a primeira delas é simples: Palmas não tem favela.O termo, pra nós tocantinenses, soa pejorativo. Está longe de ser dito com o orgulho refletido em canções como os raps e hip hop carioca: "Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci..."
Isto acontece por que a cultura é outra, a perspectiva de vida é outra. Falo de cadeira, por que já morei ao longo dos meus quase 18 anos de Palmas, em diversas quadras da cidade. Hoje, boa parte da minha família mora na zona norte da cidade. E ai de quem se atreve a chamar as Arnos de "Vila União" Dá briga feia. Agora imagine chamar Aureny's, Santa Bárbara ou alguns bairros de Taquaralto de favela.
O fato é que Palmas tem periferia. Ou quadras nem tão periféricas, mas com uma concentração de pessoas de baixa renda, criando uma dinâmica de vida na periferia. Palmas já convive com a violência, com a formação de gangues, mas nada perto do comando que o tráfico exerce nas favelas cariocas, por exemplo.
A violência que temos aqui é aquela comum onde sobra gente, falta emprego, e falta acesso aos bens de consumo que somos incentivados a adquirira todo momento. Mas não falta o básico. Me atrevo a dizer que pouca gente passa fome em Palmas, aquela fome bruta, de doer o estômago.
Isso graças ao pacote de bolsas, com toda forma de auxílio que o governo federal dá, e mais a assistência e cestas básicas do município e do Estado.O que falta é emprego mesmo. Faltam opções de lazer e integração. Falta um melhor atendimento à saúde. Mas falta pra toda Palmas.
Acho que devem existir políticas públicas para os bairros periféricos da capital. Mas por favor, não importem o modelo de favela para a periferia de Palmas, nem usem esses termos nos eventos que forem fazer aqui. Primeiro, por que a galera vai odiar. Segundo, por que os lideres comunitários vão boicotar. Terceiro, por que não vai resolver nada, nem integrar ninguém.
Sim, nós não somos favela.
Roberta Tum
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