O fato político mais importante do final deste ano foi, sem dúvida, o almoço oferecido pela senadora Kátia Abreu (DEM) em sua casa no sábado passado, ao ex-governador Siqueira Campos (PSDB) e familiares. Esperei alguns dias para comentar o assunto, a fim de dar o tempo necessário para a repercussão no meio político e também para que as impressões se assentassem. Quase uma semana depois, mantenho a convicção de que a aliança não está de fato consolidada.
O clima no encontro era de respeito e deferência de Kátia para com Siqueira. Alguns anos passados do rompimento entre os dois, e em vias de celebrar uma aliança que já nasceu no cenário nacional em torno da candidatura de José Serra à presidência, o ex-governador também fez a sua parte. Foi cortês e afável com todos.Mostrou que está pronto para superar diferenças de um passado recente para construir um projeto conjunto. Mas foi claro: com ele na cabeça da chapa.
Entre “todos”, estavam alguns que lhe fizeram oposição cerrada nas últimas disputas eleitorais. Lutero Fonseca, presidente do DEM de Palmas, estava rompido há 20 anos. Fernando Rezende tornou-se adversário há menos tempo, mas fez um discurso duro contra Siqueira ao coordenar boa parte da campanha de Marcelo Miranda à reeleição. Novamente aliado do ex-governador, terá pela frente o desafio de reconstruir um clima favorável dentro da base de Dorinha: os servidores da Educação, no meio dos quais uma imagem negativa de Siqueira foi fortemente trabalhada nos últimos anos.
Olhando pra frente
Um dos construtores do diálogo e que provavelmente será peça fundamental para criar as condições para este acordo - caso ele de fato prospere - é o ex-senador Eduardo Siqueira Campos. Foi entre ele e Kátia que se travou o embate mais duro na eleição de 2006.
Muitos siqueiristas ainda se lembram do discurso forte da senadora contra ele - estratégia que terminou funcionando – provocando a queda de Eduardo nas pesquisas e a subida dela, com eleição confirmada no final.
Do lado de Kátia também nem todos esqueceram os panfletos atribuídos a Eduardo,com ataques à honra dela durante a campanha. Mas, como a política muda tão rápido quanto as nuvens no céu, tudo isso ficou lá atrás, em 2006. Hoje os dois demonstram compreensão e maturidade para entender que juntos os dois grupos são difíceis de serem vencidos.
Ao Site Roberta Tum, em entrevista que circulará ainda esta semana, o ex-senador fez uma análise do momento político atual, em que foi claro: “Não temos que falar de passado. Temos que olhar pra frente. Queremos construir um futuro melhor para o Tocantins, aprendendo com os nossos erros”.
Os desafios
Num momento em que a base aliada do presidente Lula no Estado trabalha com três possibilidades para a escolha do candidato ao governo em 2010, DEM E PSDB avaliam a vantagem que as pesquisas quantitativas pré-eleitorais indicam.E as desvantagens que a qualitativa também demonstra.
Na cúpula, a conversa está avançada, mas ouvi também que é preciso avaliar o que ficou de resquícios na memória e no coração do eleitor de cada um dos grupos, e que pode atrapalhar a união de Kátia e Siqueira.
Entre os desafios que democratas e tucanos precisarão vencer para coligarem-se no Tocantins há mais que a personalidade forte do ex-governador, e sua determinação de não ser candidato a mais nada além do governo do Estado. É preciso ver o que cada lado perde com a união em suas bases. E o que cada um tem a ganhar lá na frente.
Afinal, vencer em 2010 não significa apenas quatro anos de governo. Os últimos fatos demonstraram que o tempo passa rápido. O que está em jogo é mais uma década no poder para a geração de políticos que chegar à vitória ano que vem.
Comentários (0)