Pedro entrega cargos e Raul sobe o tom com a imprensa: de quem é a culpa?

Irmão da deputada Solange Duailibe, primeira-dama de Palmas, o super secretário Pedro Duailibe deixou na manhã desta terça-feira, a Prefeitura de Palmas. A mim, em entrevista no sábado ele afirmou sair por decisão pessoal, a fim de que sejam investig...

Como o leitor mais atento sabe, o depósito de que se tem conhecimento público, foi revelado pela Folha de S. Paulo e foi feito em agosto do ano passado, na conta da ex-assessora, Rosilda Rodrigues, no valor de R$ 120 mil. Segundo o jornal, as investigações da PF apontam que a empresa Delta teria feito o depósito. A Construtora, que opera negócios em diversos estados brasileiros, tem contratos com a Prefeitura de Palmas desde 2006, primeiro mandato do prefeito Raul. E atualmente recolhe o lixo da capital.

 Segundo Pedro Duailibe, o depósito foi feito por outra empresa, a Miranda e Silva Terraplanagem Ltda, para quem ele teria vendido uma máquina retroescavadeira. Por R$ 120 mil. Os quais recebeu pela conta da assessora de Solange, Rosilda, que a deputada nem lembrava quem era, quando procurada pela Folha de S. Paulo. Solange também não sabia, segundo afirma Pedro, que este movimentava a conta da assessora. O motivo? uma dívida, da qual é anuente, e pela qual tem sido cobrado solidariamente, impedindo depósitos em sua conta, que possam sofrer bloqueio judicial.

 Estes são os fatos.

A licitação como também é público, é objeto de suspeita pelo fato da empresa ter se qualificado com base em atestado de capacidade técnica fornecido pelo próprio secretário de Obras do município, à época, o empresário Jair Jr. Contra a lisura deste contrato pesam desde reclamação da empresa que perdeu a licitação - a Qualix, multinacional reconhecida no ramo da coleta e processamento do lixo em países como a Argentina, Canadá e Estados Unidos - até recomendação do Tribunal de Contas do Estado.

O desgaste eleitoral trazido pela suspeita de favorecimento

 Mas não é só isso. O inferno astral que se abateu sobre o gabinete da deputada, com reflexos óbvios na mudança de humor do prefeito Raul Filho com a imprensa - a qual ele acusa genericamente, sem citar os veículos que afirma estarem contra ele - vai além. Em último ano de uma gestão de oito anos, Raul quer, obviamente, fazer seu sucessor. Se não der, dizem os mais próximos, a meta de Raul é fazer a maioria na Câmara Municipal, garantindo a aprovação de suas contas e o futuro político lá na frente, em 2014.

 Sobre sucessão, é importante observar os últimos movimentos do prefeito. Até aqui, como se vê, Raul deixava o barco correr solto, e esperava um milagre do entendimento entre os quatro postulantes ao seu apoio. Nos últimos dias, deu cheque mate no PR comandado pelo senador João Ribeiro, cobrando rompimento público com o Palácio Araguaia para cogitar o nome de Luana como apta a receber apoio para disputar em nome do grupo. Seu grupo.

Nos bastidores, o que corre é que o prefeito teria dificuldades em apoiar o PMDB de Eli Borges, e que também não estaria estimulado a apoiar sua vice-prefeita Edna Agnolin. O que ouvi de gente do grupo de apoio de Raul é que o convocado é o deputado Vanderlei Barbosa. Este, após o incentivo do prefeito, teria voltado a procurar o presidente do seu partido, deputado federal Laurez Moreira, para cobrar o compromisso que este teria feito de lhe dar legenda, caso fosse o candidato de Raul.

É óbvio que todos estes fatos, noticiados pela imprensa - que cumpre sua obrigação, como cumpriu ao noticiar as doações de campanha das empresas, sócios e amigos de Cachoeira aos dois candidatos ao governo nas eleições de 2010 - terão seus reflexos.

Mas a questão que o prefeito tenta levantar no momento de crise, explicações mal dadas (como entender tanta ignorância dos fatos que envolvem seu gabinete, como alega a deputada Solange?), e versões atrasadas (demoraram mais de15 dias para descobrir a origem do depósito de R$ 120 mil) é que é vítima de uma espécie de teoria da conspiração que tenta atingir a ele, sua família, sua gestão em ano eleitoral.

Perguntas que não querem calar

 Penso que há um despropósito neste ataque. Que até aqui não dá para saber bem a quem se destina, especificamente. E como já vi este filme antes, em tempos bem recentes na nossa memória, vale fazer algumas perguntas e reflexões.

 Quem contratou a Delta, com todas as irregularidades questionadas no processo licitatório? Quem fez o depósito de R$ 120 mil na conta da coitada da Rosilda, que foi parar na imprensa nacional?

Quem movimentava a conta de uma assessora da irmã (seja lá por que motivo) supostamente sem o conhecimento da mesma?

 Se para qualquer pergunta destas a resposta for "a imprensa", terei que dar razão a Raul.

 Se não for, é sempre bom lembrar que para todos os questionamentos, homens públicos devem ter calma e paciência suficiente para dar respostas claras e verdadeiras. É o que a sociedade espera.

Não existe categoria sacrossanta. Nem impoluta. Profissões são exercidas por pessoas, com ambições e interesses. Gente das mais diferentes formações, concepções. Idealistas ou simplesmente capitalistas no sentindo usual da palavra. No jornalismo não é diferente. Existem bons e maus profissionais.

Imprensa presta serviço inegável à sociedade

 Por outro lado, veículos são empresas. Umas ligadas a tradicionais grupos empresariais que aprenderam com o tempo a sobreviver a governos e governantes defendendo seus próprios interesses. Outros criados ou ligados a grupos políticos. Outros ainda defendendo sua própria sobrevivência num constante exercício que envolve liberdade, responsabilidade e necessidade.Mas o fato é que movida por seja lá que forças forem além do idealismo, a imprensa tem prestado um grande serviço à sociedade.

 A imprensa tocantinense e especialmente a de Palmas, tem tratado a gestão do prefeito Raul ao longo dos últimos oito anos com polidez , benevolência e até complacência diante da incapacidade que o poder público municipal manifestou em diversos momentos, de conseguir cuidar da cidade, seja na área de infra-estrutura (onde as obras emperraram), na manutenção de sua cobertura de parques e jardins, atendimento nas unidades de saúde (que melhorou muito ao longo dos anos, é importante reconhecer) e diversas outras questões.

Raul será lembrado pelo legado que deixa em dois setores: moradia popular e educação de tempo integral. Isto nenhum adversário lhe negará, por mais que sejam programas com forte investimento federal. São legados.

No mais, num momento deste de crise, é ruim ver o prefeito procurando culpados fora de casa, fora da equipe, fora do universo que ele controla ou deveria controlar.

É possível que Pedro (que neste episódio lembra o versículo bíblico: "Pedro, tu és pedra, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja") consiga explicar todas as movimentações que fez, na sua própria conta ou em outras. A mim ele pareceu seguro ao dar as explicações que publicamos ainda no sábado.

Até lá, vamos seguir publicando os fatos. E apenas os fatos. Uns sugerem ilegalidade, outros irregularidade, outros ainda, quebra da ética que deve nortear a administração pública. Os órgãos (PF, Ministério Público) que estão a cargo das investigações de toda a esta rede de tráfico de influência que beneficiava as empresas de, ou ligadas a Carlinhos Cachoeira, é que devem se incumbir delas.

A nós cabe noticiar. Mesmo quando as notícias não são boas. É isto que todos os homens públicos tocantinenses citados nesta teia precisam entender: a culpa, não é da imprensa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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