Hoje será escrito mais um capítulo da intrigante história de aproximações e separações entre PMDB e PT. É que a Executiva do PMDB regional tem encontro marcado na sede do diretório logo mais à tarde. Oficialmente, o tema são as eleições do ano que vem.Entre quatro paredes, a conversa é outra. Praticamente 15 dias depois do anunciado rompimento público em que o PT tomou a iniciativa de dizer que é oposição ao governo Marcelo Miranda, pode ser que o PMDB trate de sua organização interna e deixe a querela com o PT como está.
Afinal, notas para a imprensa e declarações ácidas já vieram de vários partidos e movimentos ligados de alguma maneira ao Palácio Araguaia. Se isso fosse uma história de amor seria mais ou menos assim: o PMDB tinha o noivo cobiçado em 2006, quando rompido com a UT, Marcelo Miranda iria às urnas com toda leveza e condições de ser eleito, como de fato foi.
O PT queria o casamento, o DEM também, e diversos partidos acabaram compondo a base aliada que levou à reeleição do governador, com Kátia Abreu concorrendo à vaga única de senadora.
Naquele momento - cada um tem uma versão dos por quês para contar - aconteceu de fato o primeiro rompimento entre PMDB e PT. É como se o noivo escolhesse uma das pretendentes, e a outra sobrasse na praça. Namoro estragado, foi cada um para o seu lado. Mas da mesma maneira que o PMDB se divide, o PT também o faz. No PMDB, são vários grupos. No PT, diversas correntes. É como se na mesma casa, a mãe quisesse o casamento da filha com um, e o pai com outro.
O PT começou a campanha com Quintanilha e terminou com Marcelo. Primeiro tímida e sorrateiramente - afinal havia uma decisão formal de apoio ao PC do B - e no final escancaradamente. Eleição ganha, Marcelo e Raul se reaproximaram, ensaiaram alguns convênios, mas a parceria não vingou.
No governo - ouvi nos bastidores - ficou a impressão de que o PT pediu demais e foi intransigente nas regras para a coligação de 2006.
No PT - ouvi do prefeito - ficou a certeza de que Marcelo "sempre tratou o partido como adversário". Cansado de ser "a outra" da história (aquela que está sempre disposta, aceita as ausências e releva) o PT partiu para o rompimento.
E as consequências disto para 2010?
Quando Marcelo concorreu contra Siqueira Campos, a turma do governo e da prefeitura tinham em comum o temor pela volta de velhas práticas. O espírito era "todos unidos contra Siqueira e Eduardo", e o discurso era "a necessidade de romper com o autoritarismo e garantir a liberdade e a democracia".
Agora as coisas são diferentes. Passadas as eleições, o Governo não deu à Palmas de Raul, o que dava à Palmas de Nilmar. E o PT, tantas vezes ameno na Assembléia Legislativa, se cansou de esperar. É certo que parte do PMDB é governo no Paço Municipal. Este é um traço do partido.
A legenda vai com um, e os grupos se dividem em apoios a quantos for necessário, ou conveniente.
Não se trata de julgar quem está certo ou errado. Mas na política, como no amor, mais vale um afago que um grito. E às vezes, mais vale o silêncio para esperar uma briga esfriar. Por isso, talvez hoje o PMDB de Marcelo prefira ficar calado, deixando que o tempo cure as feridas e mostre as conveniências de uma possível reconciliação no futuro.
A diferença que eu vejo (dada a série de fatos e encontros que selam a aproximação entre velhos adversários) é que o PT já não teme a volta do ex-governador Siqueira Campos. Seu filho, ex-senador Eduardo Siqueira Campos, vem costurando relações de amizade e aliança com setores ligados ao PT e a Raul.
Ninguém mais é inimigo de ninguém. Em campos opostos, separados pelo abismo das mágoas e ressentimentos só sobraram os Miranda e os Siqueira.
Neste cenário, fica fácil para os outros construir aliança com quem até ontem era adversário. Parafraseando o velho Ulysses: "Em política nunca se deve estar tão distante que não se possa juntar, nem tão próximo que não se possa romper". Como diz o tocantinense: "Bora ver no que vai dar".
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