PMDB: verga, mas não quebra

O velho ditado popular para definir os resistentes se aplica bem ao PMDB: o partido "verga", mas não quebra. Ou, em linguagem mais elaborada: implode, mas não explode. A crise vivida esta semana pelo partido, às vésperas do final do prazo para desfil...

O desafio maior do PMDB esta semana é permanecer unido depois de tudo que aconteceu nos últimos dias, desde que Marcelo Miranda desceu a rampa do Araguaia, e Gaguim ascendeu ao terceiro andar, até a tumultuada reunião de ontem. De lá, o interino trocou secretariado, deu entrevistas, “abriu a caixa preta”, chamou o Tribunal de Contas para auditar tudo, e desceu ao auditório no primeiro domingo para expor a dívida, empenhada e sem empenho, que o antecessor deixou.

Foi um rompimento nítido com Marcelo Miranda, e por conseqüência com o grupo que o cercava. O Tocantins teve três governadores, dois do PMDB. Está no mandato interino do quarto, também do PMDB. Para voltar ao poder, pegou o cavalo arriado por Siqueira. Para sucedê-lo com Gaguim, se aliou ao senador João Ribeiro, e através dele, ao lado B da União do Tocantins.

As reclamações de Derval

Com tanta história na bagagem, tantas lutas vividas (umas vencidas e outras não), era de se esperar que a ala histórica do PMDB se rebelasse. Nas exposições de motivos na reunião de ontem, Derval de Paiva deixou isto nítido. Elencou seus cinco pontos de descontentamento com o governo, disse que também poderia “abrir uma caixa preta”, mas não é “entreguista”, fazendo referência a acordos partidários que não devem ser expostos.

Na construção do acordo e da unidade, estava claro que era preciso que o “novo” comando do Palácio Araguaia, respeitasse o “antigo” comando. Mas a reunião já havia começado truncada. Logo na chegada, Derval, Avelino, Eudoro, ficaram “escanteados” numa sala, enquanto Osvaldo Reis, e o grupo ligado à Gaguim se articulavam para o começo da reunião em outro.

Resistência à chapa

A chapa de Derval já tinha resistências anunciadas ao seu registro. Ele por outro lado, queria discutir sua candidatura. Na verdade, desde que a postulação foi anunciada, os deputados peemedebistas entraram em campo, fazendo o periclito entre o Palácio Araguaia e a casa de Marcelo Miranda, na 41, em busca da unidade. E é claro que ela passava pelo ex-governador.

Moisés Avelino, ex-governador, também peemedebista de primeira hora, deixou claro que não votaria contra a homologação da chapa de Derval. E mandou que Carlos Braga, secretário geral, registrasse em ata sua recusa. Braga, por sua vez, também tem sido alijado das discussões da executiva nos últimos dias. Em resumo, é muita gente, e com muito peso para ficar de fora das conversações.

O tricô em Brasília

Derval de Paiva caminha em Brasília, em busca de apoio para a presidência há muito tempo. Antes do julgamento do Rced, no começo do ano, esteve reunido com Osvaldo Reis, e Michel Temmer. Depois que a disputa esfriou dentro do partido, e a paz temporária foi selada, a cassação do governador veio e mudou todo o cenário e jogo de forças.

Há cerca de 15 dias, Derval voltou a caminhar entre as lideranças maiores do PMDB. Expressando sua preocupação com os rumos que o partido pudesse tomar, e também deixando clara sua postulação. Queria e quer presidir o PMDB.

Marcelo Miranda por sua vez, também caminhou por Brasília e Goiânia visitando os grandes líderes do partido. Segundo ele, para agradecer o apoio recebido nos últimos dias de governo. Segundo Gaguim, numa entrevista recente, “para atrapalhar o novo governo”.

Alertado da "costura" em nível nacional Gaguim também correu aos gabinetes da cúpula peemedebista. De toda maneira, o trânsito com as lideranças nacionais em Brasília é facultado às duas alas que hoje se batem dentro do PMDB. E a nacional do partido deve terminar ocupando a difícil função de juiz em meio a este turbilhão de interesses.

Garantindo legenda

A grande preocupação do grupo “das antigas” do PMDB, é garantir legenda para a disputa. Do jeito que a coisa vai, e caso o deputado Osvaldo Reis mantenha a direção do partido, muitos dos que hoje são deixados de lado nas discussões, temem perder o direito de concorrer. Por isso a tentativa de equilíbrio de forças, e de selar um acordo agora.

Ficou claro pelo andar da carruagem, que não só o ex-governador Marcelo Miranda poderia ficar sem condições de disputar o senado, mas também outros peemedebistas  interessados em disputar mandatos.

A força de Gaguim hoje no PMDB é notória. É a força de quem é governo, e tem todas as condições para abrigar companheiros, fazer compromissos e cumprir. Mas o PMDB não é exatamente um partido novo, recém chegado e deslumbrado com o poder. Quem se forjou nele nos tempos da ditadura, já enfrentou muitas lutas, e passou mais tempo apeado de cargos do que neles.

E talvez seja por isso que o PMDB implode mas não explode. Ninguém quer por a viola no saco, e ir cantar em outro lugar, se isso significar deixar para trás tanta coisa construída. O desafio do partido nesta semana, é juntar o velho e o novo PMDB num só. Sem fraturas expostas à luz do dia, em entrevistas explosivas na imprensa.

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