Por senso de justiça, Siqueira merece a homenagem

Eu sei que é ilegal dar nome de pessoas vivas a avenidas. E sei que Siqueira Campos está bem vivo. Conheço de perto seu temperamento forte, assim como a sua generosidade. Não ignoro suas ações polêmicas enquanto foi governador. Nas últimas duas décad...

Posso dizer isso sem medo de ser metralhada nos comentários abaixo, por um motivo bem simples: não tenho mandato. Não fui eleita com discurso maniqueísta no grupo A, nem no grupo B. Participei no Tocantins de duas eleições: uma na chapa de Siqueira governador, outra na chapa de Marcelo governador. Recuperei o juízo a tempo, e de volta à rotina simples de cidadã e jornalista – observadora privilegiada dos personagens da história que é construída diariamente – estou à vontade para expressar esta opinião.

Admiro o vereador Bismarque do Movimento pela sua coerência política. Seu mandato é fruto dos movimentos populares, e com todo histórico de enfrentamento seria de se estranhar que ele pensasse e votasse a favor do projeto de lei encaminhado à Câmara. Eu gosto de gente coerente. Por isso também admiro o vereador Aurismar Cavalcante, que eu não conhecia até o dia de sua diplomação. É outro homem intransigente na defesa do que acredita. E ele acompanha seu líder, Siqueira Campos.

Não posso dizer o mesmo de todos os argumentos que ouço, contra e a favor da mudança de nome desta avenida. Alguns são pífios, outros contraditórios. É ilegal? É. E sabe-se lá porque, Palmas e os demais municípios do Tocantins estão repletos de ilegalidades deste tipo. Para nominar tantas outras obras com nomes de pessoas vivas, os legisladores já poderiam ter tido o cuidado de alterar as leis.

Tenho medo de quem quer mudar a história. Não confio naqueles que pensam que rasgando os livros, queimando os jornais e as revistas, apagam os homens e seus feitos da memória dos povos. Cada um escreve a sua passagem pela vida e pela política a seu modo. Todos os governantes que dirigiram os destinos do Tocantins deixaram sua marca.

Siqueira do primeiro governo, a implantação. Avelino no segundo governo trouxe o equilíbrio de forças. Siqueira no terceiro, a construção. Siqueira no quarto mandato, a consolidação. Marcelo no quinto mandato, a participação. Marcelo no sexto, a quebra impensável da hegemonia de um grupo. Como as futuras gerações os verão? O tempo dirá.

O que eu sei é que Siqueira Campos tem a vida, o nome e a história entrelaçados de tal maneira com tudo o que se passou no Tocantins nestes 21 anos, que soa pequenez dizer que ele não merece uma simples e pequena homenagem. É até constrangedor para tantos que se serviram das oportunidades proporcionadas por sua iniciativa e trabalho, discutir agora toda sua vida, como se fazendo o papel de Deus, nos fosse possível julgá-lo.

Homenagear Siqueira em vida não quer dizer lhe devolver o governo. Este julgamento eleitoral é o povo quem faz, nas urnas, a cada eleição. Nas últimas, de 2006, a derrota chegou para a União do Tocantins, como um sinal de alerta. Nenhum julgamento dos tribunais vai mudar aquele dia de outubro em que Marcelo Miranda foi reconduzido ao governo.


Não é preciso temer que as experiências negativas se repitam. Elas foram fruto de um momento. Daqui pra frente basta vigiar. Basta ter a coragem de defender aquilo em que se acredita. O que os homens e mulheres de bem devem temer, de verdade, são todos os sentimentos e paixões que os tornam menores.

 

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