A capital do Tocantins ganhou destaque na imprensa nacional nos últimos dias depois da divulgação feita pelo Fantástico de um vídeo gravado em 2004, que mostra detalhes de um encontro entre Raul Filho, então candidato a prefeito de Palmas, e o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Dentre tudo o que dito e acordado no encontro, teve algo que despertou minha atenção e curiosidade, a afirmação do prefeito quando diz: “Nós temos um projeto de poder no Tocantins; Palmas é um estágio“. Bem, desde então eu estou a refletir o que seria na visão do prefeito, esse tal “projeto de poder“. Fiz várias pesquisas para tentar entender melhor o que venha significar a assertiva.
A constituição federal determina em seu Artigo 1ª parágrafo único que “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Ou seja, o povo é soberano. A ele pertence o poder. Partindo desse princípio, posso entender que todo projeto político que não tenha como base os anseios da população não poderá ter vida longa. Mas como conseguir sucesso, honra e poder, tendo como regra o que determina o princípio constitucional?
A primeira coisa a ser observada sobre isso, no meu entendimento, é saber diferenciar “projeto de poder”, de projeto de gestão. Nisto, a gestão precisa vir antes do poder, e deve ser prerrogativa para a manutenção deste. É inconcebível pensar em poder como um projeto a curto, médio e longo prazo (como desejava o prefeito), sem antes idealizar um plano de gestão sustentável que coloque o ser humano, e o meio onde ele vive, como prioridades no projeto.
Quem estava em Palmas durante a campanha de 2004 deve lembrar bem como ela foi feita. Militância do PT nas ruas, Raul como a nova força popular que surgia como um grito de esperanças a acalentar os sonhos de uma população ávida por cuidados e atenção do poder público. Foi uma campanha bonita e uma vitória incontestável: 57.244 votos, isso correspondia na época por 64,46% dos votos válidos.
Foi assim que Raul chegou ao poder que tanto aspirava: pelos braços do povo; Pelas forças das massas. Porém isto não foi suficiente para ele. Ele queria mais, e por esta razão buscou aliados e fez acordos que aqueles que lhe seguiam jamais imaginavam que ele seria capaz de fazer. Só para rememorar, a base do discurso do Raul como candidato, era uma gestão “austera, propositiva e moderna“. Algo que fosse “modelo para o país“.
Hoje, passados quase oito anos, Raul caminha para o fim de sua gestão à frente da prefeitura de Palmas, e com isso o “projeto de poder” será obstruído. Os planos serão interrompidos, ou pelo menos postergados, porque doravante, Raul Filho terá que se dedicar à defesa das acusações que surgiram, e que pelo visto, continuarão surgindo até o final de seu governo e mesmo depois dele.
A lição que fica para a nova geração de políticos que se levanta, no executivo e legislativo, é que o povo espera por projetos de gestão que sejam sérios e viáveis; que contemplem seus anseios e necessidades. E que todo sentimento ou sede de poder que esteja acima da soberania do povo, não se confirmará como algo duradouro, que mesmo depois de concluído, deixe um legado digno de reverência e aplausos.
Que possamos refletir sobre tudo o que está acontecendo na política e nas administrações de nossas cidades. O tempo é oportuno para essa reflexão. Vamos saber analisar com critérios rígidos as propostas de cada candidato. Procurar saber de sua vida pregressa. Para aqueles que já ocuparam cargos públicos, observe sua forma de atuação e também a coerência que tem com aquilo que dizem defender.
As opções por critérios de amizades ou garantias de benefícios individuais também precisam ser substituídas por algo maior, que é o bem de todos: a cidadania plena. O mais viável projeto de poder, é aquele que emana do povo e para o povo. Observemos, pois, para tentar saber quem está preocupado com a qualidade de vida do povo que irá representar, e aqueles que estão pensando apenas em poder. Poder ter sempre mais (fazendas, bois e outros patrimônios), em detrimento daqueles a quem representa.
Antonio Bandeira
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