Raul e Solange alforriados, e o PT como antes no quartel de Abrantes*

A decisão da nacional do Partido dos Trabalhadores ontem no Rio de Janeiro foi daquelas esdrúxulas, em que não se sabe ao final quem tinha e quem não tinha razão. Perdeu Donizete e a executiva regional, com a revogação da expulsão do prefeito e prime...

Olha, essa decisão do PT Nacional em não manter a expulsão de Raul Filho e de sua mulher, a deputada Solange Duailibe, já era esperada. Desde o início da confusão afirmávamos aqui que seria difícil para o PT abrir mão do prefeito da capital, simplesmente por que ele apoiou um candidato a senador da base do então presidente Lula, e agora da presidenta Dilma.

Quanto à Solange, mecanismos partidários que referendaram o acordo com a base governista na Assembléia Legislativa a parte, os fatos no final falavam a favor dela. Afinal, a deputada concorreu à presidência da Casa, com o apoio de seus pares de outras legendas. E perdeu por falta dos votos do PT. Grosso modo, a leitura final dos fatos é esta.

Por isso, a decisão de suspender os dois ao invés de expulsar, ficou tão difícil de entender como a história da mula sem cabeça. Suspender por quê? Ou estavam certos, ou estavam errados. Mas na dialética petista tem jeito de estar ao mesmo tempo certo e errado. E assim merecer uma penalidade. Não a expulsão, mas uma pena mais branda, que não deixe a executiva regional aqui com ‘cara de tacho’, como se diz no português rasgado do interior.

Donizete brigou muito para manter o resultado. É o que se sabe. No final, teria perdido a calma e partido para a agressão verbal contra Célio Moura, que fazia a defesa do casal na reunião do rio de Janeiro. Estavam por lá para acompanhar o resultado o vereador Ivory de Lira e Bismarque Roberto. Cada um de uma corrente diferente dentro do partido.

Quem ganhou? Quem perdeu?

Ao final, se o leitor se perguntar, quem ganhou esta briga eu diria: ninguém. Tem quem perdeu menos e quem perdeu mais, por que os dois lados perderam. Talvez um ganho possa ser registrado para a militância, que fortaleceu lideranças e não queria vê-las saindo por conta de uma direção menos flexível, por assim dizer à diversidade de pensamento e posições dentro do partido.

Donizete não ganhou, uma vez que não conseguiu impor até o fim a sua vontade, acompanhada pela maioria dos que tinham poder de voto no PT Regional.

Raul e Solange também não ganharam nada, além do direito de permanecer onde estavam. E esta posição, diga-se de passagem, não é nada confortável. O prefeito, é sabido, não tem a maioria na executiva estadual, e ao que tudo indica, nem na municipal. Vai fazer o quê mesmo no PT? Tentar ganhá-lo de Donizete? Tentar unificar as correntes minoritárias, e dentro de pouco tempo, sem mandato? Difícil.

A questão agora é que rumo tomará o casal na sua vida política: ficar e brigar, ou bater asas e voar. Para Raul, esta é uma decisão que pode esperar. Para Solange, nem tanto. Bora ver no que vai dar.

* "Tudo como antes no quartel de Abrantes" - ditado popular que quer dizer mudou, mudou e continua tudo como estava

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