Secretário quer climatizar presídio e pode alterar todo sistema de segurança: o que será do Barra da Grota?

A imprensa não foi autorizada a acompanhar a visita do secretário João Costa ao presídio Barra da Grota, onde esteve com a desembargadora Ângela Prudente no começo da semana. Foram ver as condições em que se encontra a estrutura física do prédio, des...

Com todo respeito que merece o secretário de Segurança Pública, João Costa, suas declarações na saída da vistoria às obras de reforma do presídio Barra da Grota, em Araguaína são preocupantes. A imprensa não pode acompanhar a visita. Mas quem acompanha o projeto do presídio desde a sua construção, e antes ainda de ser colocado em funcionamento, não desconhece de todo como ele foi programado para funcionar.

E quem conhece um mínimo sobre o sistema de segurança implantado lá, sabe que o sistema automatizado de abertura e fechamento das celas é o que há de mais moderno na garantia da segurança de agentes que operam o sistema num lugar onde devem ser guardados, longe do convívio da sociedade, presos condenados.

Uma olhada por dentro do Barra da Grota

Explico: o Barra da Grota tem o formato de um T, com três alas. No encontro das três está a central, de onde se tem a visão geral das alas e onde fica o comando do sistema automatizado. Só para o leitor entender, por este sistema, o agente penitenciário não tem que abrir cela para preso de alto grau de periculosidade passar. Tudo é comandado de longe. O controle libera a porta da cela, por onde os presos passam em direção, por exemplo, ao banho. São quatro banheiros por ala. Ao entrarem no banheiro (tudo monitorado) a porta é travada automaticamente, e a partir daí o sistema libera a água do chuveiro por 3 minutos, tempo que o preso tem para tomar banho.

Agora vejam só: o secretário disse ao Jornal do Tocantins que tanto faz, o sistema automatizado e o sistema mecânico no Barra da Grota, "os dois funcionam bem". Não é verdade. A abertura mecânica de celas e alas vai obrigar o estado no mínimo a aumentar o número de agentes penitenciários no local. Também vai aumentar o contato entre agentes e presos, facilitando que sejam feitos reféns por exemplo, em caso de tentativa de fugas e rebelião. A troca de um sistema pelo outro, é retrocesso, é atraso, inclusive de concepção de sistema de segurança.

A mudança que o secretário considera fazer compromete toda a estrutura de segurança do presídio, que foi projetado dentro do que há de mais moderno e seguro nesta área. São 36 celas, com capacidade para quatro presos cada, por ala, totalizando mais de 400 vagas. As divisas são de policarbonato, que é resistente a tiro, por exemplo, embora mais sensível a fogo.

Com direito a ar condicionado

Na fala do secretário, outra coisa que incomoda é dizer que o lugar é um “forno”. Deve ser mesmo, para quem vai a uma vistoria de terno e gravata e está habituado ao ar condicionado. Ou se o uniforme adotado para os presos for aquele macacão americano colorido sugerido por Costa na portaria polêmica. Quando estava em funcionamento, o presídio utilizava dois uniformes para presos: calção e camiseta dentro do presídio, e calça de elástico para as saídas necessárias. Roupa leve, apropriada ao clima do Tocantins, para ser usada num local de boa ventilação, num presídio localizado em local aberto e próximo a um córrego. Nada que afronte os sagrados direitos humanos dos presos.

Agora se perguntarem a qualquer trabalhador que vive por aí honestamente, com toda dificuldade para manter a família, se ele não quer um “ambiente climatizado” em seu barraco, com certeza a resposta é uma só: todo mundo quer, mas nem todos podem. Se depender de João Costa, ao que parece, no presídio Barra da Grota, vai ter. Com toda inteligência, preparo e fluência do secretário – poupado de críticas aqui neste portal nos primeiros quatro meses praticamente de gestão – tem coisa que não dá para entender.

O sistema carcerário do Estado é deficitário, requer mais investimentos. Mas nem tudo que foi feito no passado está errado. Tem hora que falta esta compreensão aos novos gestores. Tudo que foi investido em segurança, é patrimônio do povo tocantinense e não pode ser jogado fora assim, de qualquer maneira.O Barra da Grota então, consumiu recursos federais e do Estado e não foi projetado como foi, por acaso. É preciso ter mais consciência.

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