O clima de insatisfação e sentimento de desprestígio entre os oficiais da Polícia Militar, especialmente os que integram o quadro de combatentes é notório. Se não fosse uma instituição organizada, em que prevalece a hierarquia e a cadeia de comando, a sociedade tocantinense poderia estar às vésperas de uma nova greve. Desta vez não só por salários.
Várias reclamações chegaram ao comando que, segundo é ventilado nos bastidores, pode ser substituído nesta terça-feira, 30, pelo governador Carlos Henrique Gaguim. Temendo represálias, ninguém quer falar abertamente em nome dos insatisfeitos, mas as reclamações são muitas.
A interferência de Aragão
Um dos problemas detectados nas falas de pelo menos três oficiais é a interferência do deputado Sargento Aragão, que vem promovendo alterações na legislação que rege a PM, por conta própria, e sem discutir com os oficiais. “Ele não representa a PM. Me recuso a ser comandado, de fato, por um sargento”, disse um deles. “Isso nunca aconteceu na história da instituição, a gente fica sabendo o que mudou pelos jornais. O comando sempre foi o canal de comunicação entre a tropa e o governador. E comando não é só o comandante não, somos todos nós”, comentava sob a garantia do sigilo da fonte, um dos oficiais.
Entre as alterações aprovadas pela Assembléia está a exigência de nível superior para soldado e a ampliação da idade limite para ingresso na PM de 30 para 35 anos. “É um absurdo. Temos jovens se preparando para o edital que vai ser aberto dentro de poucos dias, e para eles é uma frustração tremenda, por que a maioria só tem nível médio. Apenas 5% da população tocantinense tem acesso à universidade”, explicou um deles.
A redução do período do curso para formação de Cabo, de oito meses para dois também provoca insatisfação. “É o primeiro curso de formação de comando. Fazer em dois meses é brincadeira. Depois a sociedade cobra uma polícia melhor preparada. Nestas condições é impossível”, argumentou um oficial de alta patente. A finalidade desta redução, segundo corre, seria antecipar promoções.
Salários defasados
A recente mobilização da polícia civil, que não obedece ao código de conduta militar, e que resultou no aumento de R$ 3.500,00 a partir de abril também mexeu com os brios dos militares. Um soldado ganha atualmente cerca de R$ 1.800,00. Até o final do ano estará ganhando cerca de R$ 2.200,00. A disparidade incomoda, uma vez que no reajuste negociado com o governo, a reposição começará a ser feita apenas em dezembro de 2011.
Em clima de rebelião na caserna, a expectativa da troca de comando é recebida como mais um sinal de enfraquecimento pelos oficiais. Alguns chegam a reclamar que o governador Gaguim tem sofrido influência tríplice: Sargento Aragão, que deixou a PM e optou pela política, tendo sido um dos líderes da histórica greve, Cel. Wesley, chefe da Casa Militar e Capitão Chaves, que protagonizou as cenas consideradas mais graves de quebra da hierarquia durante o ano que passou.
“A PM nunca sofreu uma interferência política tão forte em toda sua história. Isto está enfraquecendo a instituição, o que é um perigo”, lamentou um dos oficiais. A portas fechadas a reunião prosseguia quando deixamos as instalações do QCG. Dela deve sair um indicativo do que pensam os oficiais para o governo.
Um protesto discreto, mas poderoso. Um alerta talvez mais grave ainda do que seria uma greve por melhores salários. Por todas as suas peculiaridades, a PM requer atenção especial na sua gestão. Só nos resta torcer para que os ecos da insatisfação encontrem compreensão e acolhida no Araguaia. Para que o tocantinense não veja correr risco de enfraquecimento uma das melhores polícias militares do Brasil.
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