Desde que ocorreu a troca de comando na Secretaria de Segurança Pública, corre no meio policial que as mudanças realizadas estão caminhando para enfraquecer o modelo implantado no começo do governo e que apesar da pequena estrutura já dava resultados.
Vejam só o caso da Deic: uma delegacia criada para elucidar crimes complexos e que reúne grupos especiais no combate a seqüestro, assalto a bancos, homicídios, tráfico de drogas e crimes contra a administração pública. Cada grupo destes tem pelo menos um delegado chefiando as investigações e mesmo sem rádios, celulares de trabalho e ultimamente sem viaturas em número suficiente (depois do fiasco da plotagem de carros recuperados sem autorização judicial para sua utilização pela polícia) o time se vira como pode.
Foi o que aconteceu há pouco mais de dez dias, quando sob o comando de uma delegada da safra dos mais jovens, sete equipes de agentes e delegados deflagraram a operação que prendeu um dos dois possíveis autores do assassinato do assistente social Paulo Sérgio, no caixa do Banco do Brasil do HGP em Palmas. Era uma prisão improvável. O suspeito tinha feito saques até em Imperatriz, no Maranhão. Mas prevaleceu a inteligência e o trabalho duro da polícia no cruzamento de dados, monitoramento de conta bancária e providências burocráticas legais. A notícia completa está aqui para quem perdeu.
À frente, uma delegada das mais combatidas
Quem era a delegada? Celina Ribeiro, advogada jovem, daquelas que vem de uma família do meio jurídico, devorou muitos livros para passar em concursos, trabalhou em área de fronteira e que veio parar no Tocantins depois de ser classificada no cadastro reserva do certame para delegados e ver um colega com classificação posterior a sua ser chamado. Para resolver o problema tentou um procedimento administrativo para assumir uma das vagas.Deu certo, embora tenha gerado questionamentos por parte de outros que não conseguiram.
E quem prendeu o primeiro dos envolvidos? Adriano Carrasco, delegado também da safra dos novos e o agente Alexandre (sobrenome não divulgado). Tiveram o apoio de uma equipe que chegou logo em seguida, acionada pela delegada, via celular.
Alguns vão dizer que foi sorte. Quem sabe a sorte ajude quem cedo madruga e muito trabalha. E por que digo isto? Por que embora não fossem os únicos a entrar com um processo administrativo alegando preterição (Estado dar posse a alguém que estava na fila depois deles, nos excedentes), foram os dois que tiveram seus nomes diversas vezes repetidos, publicados e acusados de terem sido privilegiados ao serem efetivados e posteriormente lotados na delegacia estadual, com sede na capital.
Abro este parêntese por que corre aí nos tribunais, uma briga de outros candidatos do quadro reserva que foram classificados em outras regionais e que também querem assumir. Alegam que Celina e Adriano não fizeram academia, muito embora já seja do domínio público que cursaram no Acre (onde eram delegados já conhecidos e de atuação reconhecida) preparatório de 4 meses, conteúdo e carga horárias superiores aos exigidos no Tocantins (45 dias e até disciplinas telepresenciais).
Acho bobagem este questionamento dos outros excedentes. O Tocantins precisa tanto de pessoal na área de segurança que a defesa teria que ser a chamada de todos os excedentes para as regiões em que faltam delegados. Em todo caso, não vamos descer aos detalhes desta disputa judicial neste artigo (é uma longa história para a qual ainda me faltam alguns dados específicos, mas prometo voltar a ela logo).
O que chama atenção e por isso abordo aqui é que Carrasco foi defenestrado diante da opinião pública depois que comandou a Operação Inconfidente e Celina foi parar diante dos holofotes pela mesma via, já que sua área é homicídios e tal operação começou com a investigação da morte do oficial de Justiça de Miracema, Vanthieu. Que aliás, parou né? A Inconfidente levantou tanto podre que esqueceram-se que alguém morreu e que este crime precisa ter autoria elucidada. A família conta com isto. E são cidadãos, pagadores de impostos que perderam um ente querido.
Delegados transferidos, equipe quebrada ao meio
O que ouvi de pelo menos duas fontes diferentes é que o clima na Deic começou a ficar “xôxo” com a substituição e transferência do delegado Evaldo Gomes. Ele que tinha conseguido dar unidade à equipe sob seu comando, foi o primeiro a sair. Considerado competente pelos colegas, respeitado por agentes e delegados, foi mandado de volta para o interior. E o interessante: provocou a decisão dos agentes que vieram com ele do Bico para a capital, de retornarem para não sair do seu comando. Deve ser um bom chefe, no mínimo.
A transferência de delegados começou com a troca de comando na SSP e atingiu em seguida justamente a delegada Celina e o delegado Carrasco. Soou como uma punição a quem trabalha. Mesmo que a forma como foram lotados na Deic tenha causado arrepio aos delegados da antiga, são profissionais de primeira. Basta uma curta pesquisa no Google para achar seus feitos lá no estado de onde vieram.
Expostos a todo tipo de questionamento público, devem estar se lamentando a hora em que deixaram seus cargos depois de dois anos de posse em concurso público no Acre para lutar por seus lugares no certame do Tocantins. Mas diante do que fizeram por aqui neste curto tempo em que atuaram em investigações complexas, fica claro que perderam os acreanos e ganharam os tocantinenses em matéria de segurança com suas vindas. Picuinhas administrativas e interferências políticas à parte.
De outra forma, como entender a ação popular que rola por iniciativa do deputado Stálin Bucar, motivada pela investigação policial que chegou a seu filho, Stálin Júnior. Na ação o deputado questiona apenas os dois e se esquece que não foram os únicos excedentes a tomarem posse por que foram preteridos na ordem das nomeações. Também não são os únicos no Tocantins nomeados delegados que não fizeram academia. Sobre isto o STJ tem entendimento de que academia pode ser feita depois. E a Senasp entende que uma( a do Acre) pode validar a outra (do TO).
É de se pensar se o oposicionista Stálin tem ainda seu grau de influência garantido dentro do governo ou se agora, depois que cabeças rolaram na SSP, estão ligando por todas as vias os dois delegados ao secretário que saiu, como se fossem “crias” do ex.E por este motivo suas transferências tenham sido efetivadas.
É compreensível que um novo secretário, de um novo governo, como Costa chegou ao Tocantins, desconfiasse dos antigos (que pressupôs serem ligados aos mandatários anteriores) e aposte nos novos. Mas isto, por si só, não os descredencia. Nem os novos, por terem sido desginados para funções importantes. Nem os antigos, por já estarem aí há vários governos.
Desprendimento, inteligência e agilidade: elementos a ser valorizados
O que vejo caros, depois de ler e reler os detalhes da operação que juntou delegados e policiais para prender um dos suspeitos de assassinato de Paulo Sérgio, é que inteligência, faro investigativo e determinação não faltaram. Os detalhes que ouvi dos amigos do assistente social sobre a agilidade e comprometimento da delegada (sobre o trabalho da qual enviaram elogios à secretaria, trouxeram carta ao Site RT e distribuíram à imprensa) e toda a equipe que trabalhou no caso revelam uma coisa rara hoje em dia: essa turma aí da Deic, vestiu mesmo a camisa.
Então fica a pergunta: até que ponto desmontar um time que tem desprendimento para andar nos seus próprios carros, usar seus próprios celulares e empreender dedicação e coragem para cumprir o seu papel, favorece a sociedade?
Sei não, mas quanto mais vejo e descubro como vem funcionando a polícia civil no Tocantins, mais me convenço que a SSP é pasta que deveria ser completamente desvinculada de ingerências políticas. Com estrutura de trabalho e liberdade para atuar os bons policiais certamente darão resultados.
Do contrário, a quem interessa desmontar a Deic? Ou alguém acha que caso isto aconteça algum delegado no interior do Tocantins vai se atrever a investigar crimes cometidos por prefeitos, filhos de deputados, secretários, juízes ou promotores? é de se duvidar.
Policiais honestos e comprometidos precisam da segurança de que não serão expostos nem terão suas vidas reviradas em público por trabalhar arduamente. Garantias de que não serão transferidos por picuinha, vaidade ou por que feriram no dever do ofício, o esquema de alguém. É preciso que o governo garanta isso a eles, se quiser realmente ver a segurança funcionar por aqui.
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