Esta semana foi marcada por dois incidentes expondo o governador Siqueira Campos à opinião pública como alguém mal educado ( no episódio com o prefeito) e mal assessorado (no episódio com a repórter Silene Borges em Araguaína).
Não tínhamos repórter cobrindo nenhum dos dois. Por isso a cautela ao nos referimos aos dois fatos e suas versões.
No caso da suposta agressão, um vídeo postado no Youtube e veiculado num programa de TV de Araguaína mostra a tentativa de Silene em se aproximar de Siqueira da pior forma possível: desferindo golpes de microfone no segurança que com o braço dobrado, fazia a proteção. As imagens podem ser conferidas aqui. Cotovelada mesmo, nenhuma. Pelo menos não que as imagens registrassem.
Do 7 de setembro, sobrou o mal estar
No caso do 7 de setembro, seja lá o que tenha motivado os acontecimentos, ficou um mal estar entre os representantes do Paço Municipal com a sequência de desencontros ocorridos lá, desde a chegada de Raul, Solange, Ivory e comitiva - mais cedo – até a chegada do governador e a composição do palanque.
Ouvimos de vereadores a primeira-dama, gente de imprensa e assessores do governador para ter a composição completa da cena. Diante dela chego à conclusão: Siqueira não estava nos dias de seu melhor humor, mas um pouco mais de atenção do cerimonial na execução de suas tarefas e o estrago teria sido bem menor.
De fato, Raul concedia uma entrevista, distante poucos metros do palanque, quando o carro que transporta o governador, um Corolla, estacionou. Siqueira foi recebido pelo chefe do cerimonial, figura conhecidíssima, Sr. Lázaro. O prefeito já aguardava para compor o palanque, mas embaixo, e não em cima. Siqueira no entanto, não teria sido informado disto.
A informação que recebeu, segundo fontes do Site Roberta Tum, é de que Raul o aguardava para fazer a revista às tropas. Em carro aberto. Com o horário avançado: 18h15, o governador preferiu não fazê-lo. Se Danilo de Melo, o organizador do desfile conjunto, e secretário de Educação disse a ele que esta era uma praxe dos últimos anos, não se sabe. O secretário não atendeu nem retornou nossas ligações para esclarecer.
Aos próximos Siqueira teria dito que as pessoas já haviam esperado muito, e que revista à tropas era coisa de “Odorico Paraguassú”. Humor ácido próprio do governador, normal para quem o conhece.
O segundo ato, e que causou o segundo constrangimento poderia ter sido evitado novamente. Caso alguém tivesse informado ao governador que Raul esperava embaixo e não em cima do palanque, por ele.
Ao se deslocar, segundo uma pessoa próxima dele, Siqueira não viu o prefeito, e subiu ao palanque ao ser chamado. Manda a norma que a composição de palco, mesa, ou o que for numa solenidade, seja feita pela ordem de precedência das autoridades. No desfile, primeiro deveriam ter sido chamados vereadores, secretários, prefeito e primeira dama da cidade, para então ser chamado o governador. Ou subiriam os quatro juntos.
Na hora de interferir, faltou coragem à assessores
Aqui cabe um parêntese: o governador, talvez em conseqüência da idade, não tem demonstrado a mesma acuidade visual nem em ambientes fechados. Não raro passa por prefeitos, secretários, líderes, sem notá-los nas laterais. Parece estar com o foco sempre à frente do seu campo de visão. Um ato falho que poderia ser corrigido com a observação de alguém próximo que chamasse sua atenção para a presença do prefeito. Ninguém teve coragem.
Do outro lado, o do prefeito, o que soou foi mesmo grosseria: o governador passara a poucos metros de Raul sem cumprimentá-lo e cancelara um ato rotineiro do desfile, em cima da hora: a tal revista às tropas. Estava para acontecer o terceiro ato: a bronca no cerimonial pela citação às autoridades.
Quem conhece Raul Filho sabe que no seu palanque, o cerimonial nomina e saúda todas as autoridades, mesmo as que não são tão autoridades assim, como líderes de bairro. É o jeito do petista de ser. No palanque de Siqueira o formalismo é maior. Chamar o governador primeiro e depois nominar os que deveriam ter sido chamados antes dele é um “pecado” inadmissível. Aliás, as broncas do governador em seu cerimonial acontecem desde a campanha, e já se tornaram um lugar comum, mesmo depois que voltou ao Araguaia.
E foi aí que Siqueira teria mandado o recado: não era para chamar mais autoridades, por que o povo estava esperando.
Estas são as outras faces da história cujas versões correm nos bastidores. Reforçadas por um outro detalhe: duas cadeiras estavam vazias. preparadas ao lado de Siqueira e Marilúcia para receber Raul e Solange. Mas ao final de tantos desencontros, os grupos permaneceram separados.
Que algo tenha aborrecido Siqueira antes da chegada e comprometido seu humor, é bem possível. Mas que metade das saias justas poderiam ter sido evitadas, é evidente.
Neste e noutros incidentes, falha de comunicação
Este é só um incidente sem maiores conseqüências práticas que não o reforço público de uma imagem de pouco democrático e carrancudo do governador, mas na minha opinião mostra uma flagrante, evidente, falha de comunicação em sua equipe. Coisa que já tenho apontado aqui em outras ocasiões.
Secretários e assessores mais próximos parecem temer tanto a reação do governador, que evitam dizer as coisas a ele claramente. E dá no que dá. Fatos importantes aconteceram esta semana. Mas o que ganha destaque é sempre o que é negativo. Não que ele pessoalmente fique sabendo. Também nos bastidores descobri o seguinte: Siqueira não acompanha os portais de internet, que é onde a notícia e suas repercussões são publicadas mais rápido. O governador lê o que imprimem para ele. E aí, imprimem só o que interessa. Ou o que não aborrece.
Conclusão: da crise de imagem sofrida por ele em Araguaína o governador quase que não toma conhecimento. Simplesmente por que ninguém contou. A Secom por sua vez, demora a reagir e a responder, e muitas vezes deixa por isso mesmo, subestimando o estrago que estas coisas aparentemente pequenas fazem nas redes sociais e na internet.
É o que eu digo e não canso de repetir: os tempos mudaram. O governador ainda mantém seu estilo antigo, e ninguém vai esperar que ele mude radicalmente do alto dos seus 83 anos. Mas a assessoria tem a obrigação de mantê-lo atualizado. E pelo menos tentar evitar cenas como estas, que rapidamente evoluem para uma coisa que no fundo, na maioria das vezes, nem é o que parece.
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