Sobre os fatos que separam João Ribeiro de Siqueira

No final do ano que passou, tive a oportunidade de conversar por mais de uma hora com o Senador João Ribeiro (PR), em Brasília, num intervalo feito por ele nos trabalhos da Comissão de Orçamento, onde era relator setorial. Lendo matéria de um Site do...

O senador João Ribeiro (PR) é um político de destaque no cenário tocantinense, com um peso e um valor na posição de articulador em nível federal que qualquer prefeito reconhece. Foi aliado de primeira hora do governador Carlos Gaguim (PMDB) em sua pretensão de chegar ao Palácio Araguaia via pleito indireto, antes mesmo da cassação do ex-governador Marcelo Miranda.

Nas últimas semanas, antes ainda do Natal e Ano Novo, um processo de esvaziamento de sua pré-candidatura ao governo neste 2010 pode ser notado nos bastidores, nas falas de personagens importantes, e nas articulações do PMDB comandadas pelo presidente Osvaldo Reis.

O argumento que mais propalado é de que Ribeiro não se viabilizaria eleitoralmente, em razão dos números apresentados nas pesquisas quantitativas. Ele rechaça este discurso, e diz ter em mãos números bem mais competitivos, fruto de consulta nos 139 municípios do Estado.

Enquanto a briga por espaço caminha na base aliada do governo, uma notícia publicada no site Sudeste Hoje no final de semana dava como certa uma movimentação de Ribeiro em direção ao ex-governador Siqueira Campos (PSDB), prontamente negada por ele. Estranhei a hipótese não pela impossibilidade, afinal tudo é possível para viabilizar um projeto de poder. A questão são os fatos recentes que afastaram Siqueira de João e João de Siqueira. Vamos a eles.

A campanha de Luana e a coordenação da UT

O entrevero entre o ex-governador e o senador começou com o lançamento da candidatura da deputada estadual Luana Ribeiro (PR), ainda em 2006. Segundo o senador, ele próprio não queria que a filha disputasse, mas o próprio Siqueira, então candidato ao governo a convidou. “Isso me causou problemas em casa, por que eu não queria, ela é minha filha e eu não aceitei a idéia a princípio, por que sabia onde isso poderia levar”, rememora Ribeiro.

Diante da insistência do ex-governador em que Luana disputasse a Assembléia, o senador terminou cedendo, mas afirma ter alertado em reunião com a cúpula Utista: “A partir de hoje existem apenas 23 vagas em disputa na Assembléia, por que uma já é dela”. Ribeiro teria dispensado qualquer ajuda financeira da coordenação, para buscar sozinho os recursos para a campanha da filha.

Tentativa de recuo

Duas semanas depois, e com a campanha já deflagrada começaram os problemas. A posição de coordenador da campanha ocupada por Ribeiro passou a ser alvo de ciúmes normais em campanha, mas agravados pela suspeita de favorecimento à Luana. “Eu fui procurado pelo então senador Eduardo, com a sugestão de retirada da candidatura de minha filha”, relembra Ribeiro. Bem ao seu estilo, o senador afirma ter colocado o cargo de coordenador à disposição mas não aceitou retirar a candidatura dela.

O clima entre Ribeiro e Siqueira só deteriorou desde então. No decorrer da campanha, ainda houve um episódio no Norte do Estado, em que Ribeiro teria autorizado um dos aviões que acompanhavam a chapa majoritária a decolar na frente do avião do ex-governador, para uma cidade próxima onde estava programado o lançamento da candidatura de um deputado estadual.

Voando ao lado de sua esposa Cínthia, tendo nos dois bancos à sua frente o ex-deputado José Freire e Siqueira, Ribeiro foi duramente repreendido pelo ex-governador por ter liberado o avião, e por ter permitido a presença de outros pré-candidatos a deputado estadual. “Este dia não agüentei, e depois de ouvi-lo falar daquela forma comigo, respondi a ele que um dia depois das eleições, se ele fosse eleito governador, nós estaríamos rompidos. E caso ele não se elegesse, nós poderíamos conversar”, me disse o Senador.

Mais distanciamento

Luana Ribeiro foi eleita deputada estadual, como havia prometido seu pai na primeira conversa com o ex-governador, Siqueira Campos perdeu as eleições na controversa reeleição de Marcelo Miranda que findou em cassação. A campanha de 2008 aumentou o distanciamento entre Ribeiro e Siqueira, com o primeiro dando aos candidatos a prefeito estrutura material para a disputa. O ex-governador permaneceu distante.

No frigir dos ovos, o PR cresceu, o prestígio de Ribeiro junto a Lula cresceu e chegou o momento do Senador buscar construir uma candidatura a governador. “Eu disse para o ex-senador Eduardo Siqueira que este momento chegaria, e chegou. Tenho pelo pai dele todo respeito, mas é hora de construir um novo capítulo na história política do Estado”, argumentou.

Por estas e outras histórias que reservo para outra hora, vejo com dificuldade uma aliança neste momento entre Ribeiro e Siqueira. Se não encontrar espaço na base do governo para ser o candidato a governo, o Senador poderá concorrer à reeleição. Se considerar-se traído, pode até buscar vôo próprio em companhia do PT e do PDT.

Quem viver verá, mas o processo eleitoral no Tocantins está somente começando.

Comentários (0)