Soltando o verbo

Há alguns dias atrás, dando uma aula de Direito Constitucional, deparei-me , lá no artigo 5º da Constituição Federal, com aquele inciso que trata da censura...

Acho que é um bom tema para abordar no lançamento de um site como este.

Há alguns dias atrás, dando uma aula de Direito Constitucional, deparei-me , lá no artigo 5º da Constituição Federal, com aquele inciso que trata da censura. Comecei então, minha explicação. Obviamente, é Impossível falar sobre censura sem lembrar o passado, afinal, a norma existe por que, um dia, durante um período dirigido por militares, era proibido falar.

Contei várias histórias, citei os mais interessantes exemplos. Queria que a turma realmente imaginasse como era viver sem poder manifestar seu pensamento. Impossível, eu estava certa disso.

Foi quando um aluno ergueu o braço. Educadamente ele pediu um exemplo atual. Pediu que eu narrasse um episódio onde alguém tivesse utilizado dessa prerrogativa de falar. Queria conhecer um caso onde um cidadão tivesse “soltado o verbo”. Aproveitado da inexistência da censura para denunciar, esbravejar, não concordar. E foi enfático. Não vale exemplo de Jornalistas, o que eles fazem é em virtude da profissão (e olhe lá).

Comecei a pensar. Nada me vinha à cabeça. Procurei na memória os diversos escândalos políticos. Fiquei imaginando aqui no Tocantins. Quanta coisa acontecendo debaixo dos nossos olhos. Por que tão poucos falam? Afinal, é nosso direito!

O aluno aguardava uma resposta. Alguns minutos se passaram e ele mesmo respondeu. “Nada mudou professora. O preço que pagamos, a nossa censura de hoje, é o nosso emprego; é poder pagar um bom plano de saúde, uma boa escola para nossos filhos. É ter uma sala digna, poder subir de posto, é não ser perseguido, ser mal visto pelos colegas”.

Como discordar? Até que ponto devemos chegar pela nossa liberdade de expressão? Não pude condená-lo. Posso parecer até mesmo patética, mas o certo é que nadamos contra a maré. Devíamos chegar até a praia, mas a cada dia nos afundamos mais. A cada dia somos mais dependentes, mais comprometidos. É essa a expressão usada pela maioria – “não quero me comprometer”. Ninguém quer.

Terminei minha aula abordando um novo tema. O comprometimento. Somos um povo que fala, que grita, que xinga. Falamos, gritamos e xingamos. Com nossos amigos, nas rodinhas de bar. Nada comprometedor.

Censura? Nada. A Constituição nos deixa claro que é proibido qualquer tipo de censura. O que ela apenas se esqueceu de nos dar foi o direito de falar. A verdadeira liberdade de poder falar... sem nos comprometer, é claro!

Parabéns Roberta!

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