As drogas se dividem entre lícitas e ilícitas. Álcool e tabaco matam lentamente – ou rapidamente, nos casos de acidente – mas podem ser comercializados e têm sua publicidade mais do que liberada: incentivada até em eventos esportivos.
Maconha, cocaína, pasta base, crack, OX e outras porcarias: proibidos: o consumo, a venda, a propaganda. Ao usuário no entanto, a lei dá um tratamento e ao traficante outro.
Pois bem, o STF – Suprema casa para fazer valer a Constituição, entendeu, por unanimidade, que marcha pela liberação da maconha pode. É direito à livre expressão. Fico aqui pensando onde isso vai parar.
Tenho ouvido argumentos do tipo “o estado não deve interferir em questões de livre escolha do indivíduo”, ou “a maconha faz menos mal do que o cigarro vendido em padarias e supermercados”. Pode até ser verdade, mas é preciso pensar esta questão pelo menos no aspecto da saúde pública.
O Estado brasileiro gasta duplamente com atendimentos à saúde derivados do uso excessivo do álcool e nossa legislação passou a ficar mais dura ao penalizar no bolso os que abusam das bebidas e se excedem no trânsito. Agora imaginem a maconha liberada e os comerciais de TV para promover em breve os cigarros de marihuana. É para este cenário que caminhamos.
É uma estupidez, liberar por um lado, sobretaxando impostos, e gastar todo este dinheiro com campanhas educativas e atendimento médico hospitalar num já sobrecarregado SUS. Não concordo, nem vou concordar nunca com uma política obtusa destas.
Agora, o que a lei proíbe, taxativamente, o Supremo liberou como liberdade de expressão. O jornalista Reinaldo Azevedo escreve sobre isto hoje em seu blog um artigo pra lá de irônico. Diz ele que brevemente teremos uma marcha liberada nas praças em defesa da pedofilia. Afinal, liberdade de expressão é isso não? E sugere o coro: ‘Ei polícia, pedofilia é uma delícia”. Na veia, a comparação choca, e mostra onde poderemos ir parar na onda do liberalismo sem limites endossada pelo STF. Que agora escolhe quais crimes podem ser defendidos em praça pública.
Na esteira da liberação, recebi um convite hoje na minha página do Facebook, convidando para a marcha pela liberação da maconha em Araguaína. Me perdoem os ministros do STF e especialmente a ministra Carmem Lúcia, a quem faltou a liberdade de ir à praça defender bandeiras tão importantes quanto esta, mas não vou. Sou contra. E gostaria de ver a nova geração crescendo sem estímulo público, patrocinado com dinheiro público a usar substâncias que atentam contra sua saúde. E que custa tão caro às famílias e ao Estado recuperar.
Podem me chamar de reacionária. Não tem importância. Liberdade de expressão é isso: achar que o Supremo passou dos limites ao decretar que o direito não está na lei, mas nas praças. A máxima pode até já ter sido verdadeira nos duros anos da ditadura, mas não para este caso.
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