Num ambiente favorável a Rede Globo de televisão começa uma novela exibindo a atriz consagradíssima, Taís Araújo como protagonista. E não uma protagonista qualquer: uma Helena de Manuel Carlos! A Globo enaltece esse detalhe para reforçar a impressão de que a emissora está preocupada com uma maior e melhor representatividade dos negros na mídia.
Num momento em que o São Paulo Fashion Week teve que, por força da justiça, instituir cotas para modelos negras nas passarelas, devido á falta de representação da beleza negra no evento, a Globo dá uma cartada, veste a camisa da igualdade e coloca em rede nacional Taís como a modelo mais famosa e bonita do Brasil. Ponto positivo para nós, críticos da mídia. Mas é preciso analisar o que está por trás dessa mensagem que parece tão positiva.
Nas passarelas onde Helena se exibe na trama não se vê outra modelo negra. Ela apenas é o destaque. Quando reparo isso esqueço da audiência recorde e da abordagem positiva no personagem e me lembro da polêmica das cotas nas passarelas. Um fashionista declarou que as cotas podem afetar o psicológico das modelos e sustentar um sentimento de “insegurança” com relação ao talento delas. Mas o fato é que o alcance da mídia e desse personagem de Taís pode sim influenciar muito numa mudança positiva nas passarelas brasileiras.Com certeza essa é uma Helena diferente das outras pelo valor social agregado á personagem, num país ainda rumo á uma comunicação mais acessível.
Na teledramaturgia também! Taís já é carimbada como referência: Aos 17 foi Chica da Silva, depois em 2004, “Preta” em Da Cor do Pecado. Temos sim que encarar como um fato que nos leva a uma reflexão positiva, mas é importante ficarmos de olho na reprodução dos estereótipos “tatuados” na imagem do negro. A abordagem negativa ainda faz parte do contingente midiático.
Vi a Taís Araújo sendo chamada de “Musa da Igualdade Racial” numa revista famosa. Deu orgulho, mas temos que ficar de olhos abertos nas tentativas de “falsa democracia racial” nos veículos. Têm empresas que querem pegar uma carona no atual cenário favorável a falar do assunto para abraçar a causa de maneira “superficial” e sair de “boazinha” e “racialmente correta”. Como diz Muniz Sodré, “Comunicação é um instrumento de poder”, e poder está concentrado nas mãos de poucos.
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