Um dia na história: Ponte do Lajeado manda as balsas para a memória e resgata margem esquerda do rio

É sempre um privilégio assistir, participar e registrar momentos históricos deste Tocantins que vai se erguendo, tomando forma e avançando mais a cada página virada da antiga realidade vivida aqui. É o que acontece hoje com a inauguração da Ponte que...

Já se vão mais de 20 anos da primeira vez que cruzei o Tocantins de balsa, para chegar a Miracema e de lá subir à Colinas e Araguaína. Eram tempos heróicos, de ocupação e construção da cidade, nova capital. Cercados de poesia, como tudo que envolve o rio, estas matas, o céu e a lua cheia que sobe de trás da serra todo mês. Muitas destas coisas ainda fazem parte do espetáculo da natureza que privilegia quem escolheu o Tocantins para viver.

As balsas no entanto vão ficando para trás, prontas para flutuar nas águas da memória, para dentro de algum tempo restarem apenas nas fotografias de um passado que precisa ser superado para que tudo possa avançar.

A inauguração da Ponte dos Imigrantes Nordestinos Padre Cícero, faz dois resgates nesta sexta-feira, 21: o da interligação segura e ágil das duas margens do rio e o da homenagem ao que seja talvez o maior número de imigrantes que o Tocantins recebeu no processo de sua construção, os nordestinos.

É sempre emocionante fazer parte de uma história que acontece a cada ato importante, a cada obra marcante, a cada evento histórico.

E se estes eventos são especiais para nós, simples coadjuvantes da história, que dizer então dos que trabalharam para que esta ponte se materializasse sobre o rio? Li esta semana em algum lugar que tanto faz quem fez ou ajudou a fazer. Discordo. Estes parlamentares e gestores que contribuíram e em alguns momentos tiveram atuação decisiva para que a obra acontecesse são importantes sim, por que cumpriram o seu papel. E existe uma grande diferença entre passar pelos cargos e deixar o tempo passar, e correr atrás para fazer acontecer.

A ponte iniciada na gestão de Marcelo Miranda, ganhou impulso mesmo foi na gestão de Carlos Gaguim, para ser concluída agora por Siqueira Campos. Avançou graças aos recursos federais garantidos com sua inclusão no PAC, no que foi fundamental o empenho do senador João Ribeiro, à frente da coordenação da bancada tocantinense, toda ela trabalhando a favor. Tem a marca forte de Lula e de Dilma. Coisas que não há por que negar.

Mas para fazer justiça mesmo, a placa de inauguração tinha que ser como aquelas dos monumentos americanos: cheia de nomes. Desde o do primeiro líder que começou há décadas a pedir por uma ponte para ligar os dois lados do rio. Reivindicação que veio crescendo e ganhando o coro de outras vozes, mãos e braços. Inclusive os que levantaram as ferragens e moldaram as vigas.

A inauguração de uma ponte pode mesmo soar como uma obra a mais para quem está distante. Nunca para quem viveu a dificuldade de atravessar o rio e tem suas histórias tristes e alegres para contar sobre a Era das Balsas, que vai ficando para trás. Quis a história que fosse Siqueira o governador a concluí-la e inaugurá-la, podendo também escolher o nome que homenageia os nordestinos, que a exemplo dele vieram para esta região para ajudar a construir e fortalecer um novo Estado.

Esta ponte para o Tocantins é repleta de significados. E sua inauguração, um dia para ficar na história que será relida daqui a décadas, como uma velha fotografia deste tempo em que as coisas parecem acontecer rápido demais para nós que fazemos parte dele. Um dia para viver e guardar.

Nota de Rodapé: O Padre Cícero José de Souza, nasceu em Filadélfia, em 16 de dezembro de 1922. Estudou e entrou no seminário em Porto Nacional. Ordenado presbítero em 1951 por Dom Alano Marie Du Noday, exerceu seu ministério em Pedro Afonso, Miracema, Miranorte, Guaraí. Era um "padre do sertão", curtido pelo sol, ao buscar trabalhar nas comunidades marginalizadas. (Atualizada)

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