Sentada por cerca de uma hora ontem, recebendo cópias de relatórios produzidos nos últimos dias por uma comissão da Seduc que está percorrendo as 13 delegacias regionais de ensino, fiquei pasma com o que vi.
Bege. De vergonha, por ver uma categoria conceituada e séria como a de educadores ter elementos que se dizem seus representantes pegos literalmente na mentira.
A defesa da ampliação de vagas para professores é justa. Desde que com critérios justos, corretos a respaldá-la. Reivindicar que as turmas tenham professores de área específica é correto. Mas retirar professores de matemática, geografia, história, das salas de aula e remanejá-los para função de coordenação pedagógica, deixando turmas sem estudar estas matérias até que o Estado contrate outros é mais do que forçar a barra, é irresponsabilidade.
O enredo de mentiras pregadas dentro de escolas, e repassadas através de diretores até as DRE’S, que por sua vez vinham encaminhando (não todas, como mostra o relatório) à secretaria demandas falseadas, é grande. Por outra via, professores, ou gente que se intitula como tal, vinha alimentando redações com denúncias, muitas vezes anônimas sob o argumento de que desejam evitar “perseguições”.
Contra a unificação de turmas
Para convencer a sociedade de que a unificação de turmas é ruim, por exemplo, divulgou-se que no CEM Florêncio Aires havia uma turma com 66 alunos, enquanto que na rede privada, salas cheias contém de 40 a 45 alunos no máximo, que é o que a lei permite. Verdade? Não, mentira. Esta, na qual alguns colegas caíram reagindo com críticas violentas à secretaria e ao secretário.
Diante do corpo técnico de superintendentes, assessores e do próprio secretário, ouvi, ( meio incrédula com a audácia de muitos em criar situações mentirosas) agradecendo internamente à minha própria prudência por não ter escrito aqui antes sobre este assunto, alimentada que estava por uma fonte só de informações.E distorcidas.
Sim, existem turmas sem professores de disciplinas específicas. Sim, existem turmas com 45 alunos, o que não é o ideal, embora seja o limite legal permitido. Mas aquele quadro de caos pintado nos relatos iniciais de alguns, avalizados pelo Sintet ao descrever as situações “problema” e marchar pelas ruas, não existe. É mentiroso.
O sistema de matrícula, descobri ontem, não permite mais de 45 alunos na turma. O módulo não permite a 46ª matrícula. A não ser que hajam desistentes registrados. Foi o que aconteceu no segundo ano do segundo grau no Florêncio Aires. De 66 alunos – mostra o relatório cuja cópia tenho em mãos – 25 ou nunca freqüentaram, recebendo traço e F à frente do seu nome. Ou desistiram e foram transferidos. Restaram 41.
E o golpe (por que não consigo imaginar outro nome) para colocar mais ASG do que necessário nas escolas? Diretor saía contando Box de banheiro como ambiente a ser limpo. Não era um banheiro, na conta, mas seis ambientes, o que permitia pedir mais servidor para a limpeza. E a DRE e a sede acreditando. Questionado ontem sobre os motivos de tanta coisa errada passar desapercebida, o professor Danilo de Melo justificou-se: são mais de 500 escolas, que têm autonomia gerencial. É preciso acreditar nelas.
Mas afinal, quem mentiu?
Insisti: quem mentiu? Quem plantou notícias falsas – como classificar num universo de 86 alunos, 67 como “portadores de necessidades especiais”? Um artifício usado para desmembrar turmas. Os nomes serãom preservados, e as pessoas que propagaram demandas falsas serão chamadas a se explicar.
É lógico que é mais fácil, mais agradável e mais produtivo até, dar aulas para turmas de 25. Mas isto é uma luta, para se obter uma conquista. E que envolve condições materiais do Estado para tanto. Não é na base do engodo e da mentira, que isso será obtido. Nem a opinião pública, estou certa, vai referendar um “esquemão” destes. Imagina lá, seu filho ser classificado como portador de necessidades especiais, para que alguém ganhe umas horas aulas a mais. Absurdo.
E aí tem também os excedentes. Professores ou servidores que não tem função na escola, e não aparecem no sistema modulado da Seduc. Mas que estão lá, à disposição para fazer qualquer coisa, enquanto permanecem na Folha de Pagamento. Ou professores com mais de 50 anos, aguardando aposentadoria no Estado, e dando aula na rede privada. Contraditório não?
Depois de ter cursado técnico em magistério nos anos 80, ter cursado 3 anos de pedagogia entre Goiás e Tocantins (e talvez, principalmente, por ser filha de professora primária aposentada após mais de 25 anos se serviços prestados no interior de Goiás) desenvolvi uma amor pela Educação e um respeito aos professores, inabaláveis. Se não fosse jornalista, ou se um dia me cansar desta frente de atuação, a sala de aula é o que mais me chama. Pela crença absoluta de que informação e educação são as duas poderosas ferramentas capazes de mudar o mundo.
Portal vai trazer até planta baixa das escolas
Ao terminar, entre "sem graça" com os comentários que fiz no Twitter esta semana e decepcionada, levei comigo as cópias de relatório. As mesmas que o Sintet deve ter recebido ontem do secretário, para mudar o tom da conversa que vai nas escolas, nas ruas, na TV e na mídia. Mas confesso, que senti vergonha pelos que mentiram deslavadamente para garantir tratamento diferenciado, privilégios e a convocação de colegas baseada numa falsa demanda.
Lógico que a exceção não faz a regra, mas é vergonhoso que de várias escolas do Estado tenham vindo tantos depoimentos, falseados,distorcidos e ampliados para se obter o resultado esperado. É triste. É lamentável.
Que os problemas da educação pública estadual no Tocantins – que com certeza existem - sejam tratados em sua real dimensão. E sempre com a verdade. Para que a gente saiba de fato o que acontece nas 548 escolas do Estado. Se realmente a secretaria de Educação conseguir colocar na rede, no seu portal de internet até sexta-feira, todos estes dados (de turmas, número de alunos e até a planta baixa da escola para termos uma idéia do espaço que turmas de 25 ou de 40 alunos estão ocupando) pode ser que tudo fique mais fácil.
Mas sinceramente perdi a fé em algumas recentes fontes do meio educacional. Mentira tem perna curta. E é sempre bom trabalhar com a verdade. Ela por si só, tem força suficiente para provocar as mudanças para melhor pretendidas na educação.
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