A presença feminina no Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) sempre foi uma característica marcante na história da entidade. Elas são chefes de áreas, assessoras técnicas, mobilizadoras, instrutoras e ocupam muitas outras funções. Em busca de desafios maiores, as mulheres também passaram aceitar o desafio de outro cargo de extrema importância e responsabilidade: de superintendente regional do Senar.
Atualmente, seis regionais - Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Roraima e Tocantins - contam com representantes femininas na função mais alta das superintendências. Jeyn’s Martins Alves, do Senar-AM; Letícia Toniato Simões, do Senar-ES; e Carine Menezes Magalhães, do Senar-BA, foram as últimas a assumirem o posto. Antes delas, Maria Cristina Tavares, Amanda Torquato e Rayley Luzza, já lideravam o Senar-RJ, o Senar-RO e o Senar-TO, respectivamente.
Com pouco mais de um mês a frente das suas superintendências, Jeyn’s e Letícia são as mais novatas. Jeyn's entrou no Senar em 2013, como pedagoga, e no ano seguinte foi convidada para assumir a Gerência Técnica. “Adentrar e galgar um espaço no universo mais masculino, inserindo um olhar feminino, com a oportunidade de fazer parte desta minoria, tendo este reconhecimento profissional, é muito satisfatório e gratificante”, declara.
Letícia Simões atuou por muitos anos na área de agronegócios do Sebrae e também passou pela Secretaria de Agricultura do Espírito Santo e pela presidência do Instituto de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) antes de chegar ao Senar. “Me sinto valorizada, tanto como mulher, como profissional, pois o que mais presenciamos ainda, são homens ocupando os cargos/postos mais altos nas empresas e instituições”.
Nomeada no dia 1º de setembro, Carine já tinha um extenso currículo de colaboração com o Sistema FAEB/Senar-BA. Em 2016, ela completará 20 anos de relacionamento profissional com a entidade, onde começou como estagiária na área contábil. Depois de 13 anos de Federação, ela se tornou chefe do Departamento Administrativo Financeiro do Senar-BA, em 2009, e logo depois assumiu a Gerência. “Sinto-me ainda mais comprometida e engajada com a Instituição, apesar de acreditar que a responsabilidade está muito mais inerente ao cargo do que o fato de ser mulher”.
Senar Rio foi o pioneiro
O Senar Rio foi o primeiro a ter uma mulher como superintendente. Desde 1993 a mineira Maria Cristina Tavares, que também é produtora rural no município de Angra dos Reis, comanda a Regional. Na época, ela foi chamada pelo então presidente da FAERJ, José Basílio Moreira de Freitas, para administrar a entidade recém-criada. “Sinto que represento a força das mulheres do meu Estado e que a cada dia o desafio de me superar aumenta, característica essa da maioria das mulheres que conheço e admiro”.
Ex-assessora da atual ministra da Agricultura Kátia Abreu durante 20 anos, Rayley Luzza se acostumou a defender a agropecuária e revela que cresceu acreditando que a mulher pode ser uma grande empreendedora em qualquer área que atue. Ela foi superintendente do Senar Tocantins no período de 1999 a 2003 e retornou ao mesmo cargo em janeiro deste ano. “É uma grande honra e, principalmente, um grande compromisso com o produtor e trabalhador do campo do Tocantins, especialmente neste novo cenário onde a agropecuária é o principal pilar da economia nacional”, ressalta.
Amanda se tornou superintendente do Senar–RR em janeiro deste ano. O caminho começou a ser trilhado em 2002, quando ela foi estagiária na Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Roraima (FAERR). Depois, a jovem assumiu a diretoria administrativa da entidade, onde permaneceu até ser convidada para assumir o cargo de Gerente de Administração e Finanças do Senar/RR, em novembro de 2005. Ela ficou no cargo por sete anos e, em 2011, saiu do Sistema. Mas como todo bom filho, Amanda está de volta e, desta vez, para ficar. “Com esse desafio, continuei com minha grande paixão de defender a classe produtora e realizar a educação profissional e promoção social do meio rural”.
Número menor, desafio maior
Não restam dúvidas de que elas vêm conquistando espaços cada vez maiores no campo profissional, mas a capacidade e a competência feminina ainda podem muito mais. “O desafio é grande, pois somos consideradas por muitos, ainda, como sexo “frágil”, mas de frágil a mulher e profissional de hoje, já mostrou que não tem nada, pelo contrário, ela consegue executar várias tarefas, e tem assumido aos poucos e com muita competência, postos importantíssimos, principalmente no meio rural”, argumenta Letícia.
Jeyn’s também salienta que atualmente o cenário é diferente. Se antes era comum que as mulheres executassem apenas algumas funções específicas na agropecuária, hoje elas estão ganhando espaço e desempenhando atividades antes executadas apenas por homens. “Ocupamos um papel que vai além de realizar tarefas e trabalhos corriqueiros do dia a dia do campo e estamos mais envolvidas e ativas nas questões políticas, econômicas e sociais do setor agropecuário”.
Na visão de Rayley, o universo feminino que trabalha no setor agropecuário no Brasil ainda é muito pequeno e as limitações impostas pelo setor permanecem como um grande entrave para a aceitação da liderança da mulher neste território. “E tudo isso me dá muito orgulho em fazer parte deste grupo que, mesmo pequeno, se mostra competente, eficiente e comprometido”, afirma.
Para a superintendente do Senar de Roraima o maior desafio como mulher é conciliar a vida familiar com profissional. No âmbito profissional, enxerga Amanda, as responsabilidades existem independentemente de gênero no mercado de trabalho. “A mulher tem, cada vez mais, assumido papel decisivo no setor agropecuário, com um maior poder de influência para a condução dos negócios rurais e maior destaque no cenário do agronegócio”, aponta.
Papel de destaque
Na opinião de Letícia, as lideranças femininas têm o papel de incentivar cada vez mais a inclusão das mulheres no campo, seja na organização, gestão e administração de suas propriedades. A superintendente do Senar Espírito Santo defende que a mulher consegue desempenhar atividades importantíssimas e com muito amor e cita como exemplo as produtoras rurais que estão fazendo a diferença em diversas atividades ligadas ao agronegócio. “São cases que devem ser replicados para todo o Brasil, e é com esse propósito que faremos uma gestão mais feminina dentro do setor agropecuário, mostrando a força que as mulheres possuem e o quanto podemos contribuir”.
O respeito pela capacidade de realizar talvez tenha sido uma das grandes conquistas das mulheres neste século, aponta Rayley. Para ela, as mulheres têm oferecido constantes provas de que podem contribuir em diversas áreas e o trabalho executado por elas é extremamente bem cuidado, com resultados surpreendentes e reconhecimento de todo o setor. “Primamos por um relacionamento alicerçado no respeito e na troca de experiências, ao mesmo tempo que incentivamos, dentro do nosso eixo de convívio e alcance, que mais mulheres conheçam e participem deste novo mundo agro, que é cheio de desafios, mas também de muitas realizações e satisfações”.
No Rio de Janeiro, Maria Cristina conta que as mulheres vêm aumentando sua participação nos espaços rurais e o número de instrutoras e participantes do sexo feminino em ocupações “masculinas” tem aumentado muito. “Ainda percebemos o preconceito, mas a competência está ganhando terreno! Nos programas de empreendedorismo, como o Negócio Certo Rural e o Empreendedor Rural o número de participantes do sexo feminino demonstra o interesse entre as mulheres em assumir a gestão da propriedade, seja ela da família ou não”.
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