Quatro anos atrás, Eulina Silva Farias, 38 anos, levava uma vida ativa até receber a notícia que transformou completamente a sua vida: estava grávida. Pouco tempo depois, descobriu que o futuro Deividy Farias Batista apresentava sintomas da Síndrome Congênita do Zika Vírus. “O diagnóstico foi terrível e desesperador. Ainda hoje é tudo muito difícil porque, apesar de o pai dele conviver comigo, não me ajuda nas atividades. Eu sou sozinha para praticamente tudo. É como se eu tivesse perdido a minha identidade”, conta.
O menino Deividy, hoje com apenas três anos, depende totalmente da mãe nas sessões de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia no Centro de Prevenção e Reabilitação da Pessoa com Deficiência (Cepred); nas consultas com neuropediatras, pediatra, oftalmologista e nutricionista, no Hospital Geral Roberto Santos; além das sessões de fisioterapia e hidroterapia na Organização não-Governamental (ONG) aBRAÇO a Microcefalia.
Sem trabalhar desde então, devido aos cuidados em tempo integral exigidos pela condição do filho, Eulina sonha em montar o próprio negócio para dar uma vida melhor à família e entende que dar continuidade aos estudos é um passo importante para a concretização deste objetivo. “Acredito que o ensino superior é importante para que eu possa me capacitar, ingressar novamente no mercado de trabalho e ser útil à sociedade. Penso em ser uma microempreendedora e a graduação em Logística vai me ajudar a gerir o negócio, ou até mesmo conseguir emprego, e ter como dar uma qualidade de vida melhor ao meu filho”, afirma.
Mães Produtivas
Eulina não imaginava que conheceria o projeto Mães Produtivas através de um aplicativo de mensagens instantâneas, que oferta bolsas de estudo integrais específicas para mulheres que têm crianças com síndromes e doenças raras e com isso poder realizar o seu sonho. O projeto foi idealizado pela ONG Alianças de Mães e Famílias Raras (AMAR) e o grupo Ser Educacional/UNINASSAU, em 2016, em Pernambuco, devido à grande incidência de casos de Microcefalia. A iniciativa, no entanto, foi ampliada para contemplar casos de crianças com outras condições
Em 2019, são 250 bolsas de estudo gratuitas em graduações e pós-graduações na modalidade Educação a Distância (EAD). “A ação foi criada para levar a qualificação profissional para essas mães, que não podem fazer aulas presenciais, pois são cuidadoras dos filhos. Mais de 70% das mães foram abandonadas pelos companheiros, muitas estão desempregadas e em processo de depressão”, ressalta o presidente do grupo Ser Educacional, Jânyo Diniz.
As inscrições podem ser feitas até 10 de maio. As candidatas devem buscar informações por meio do telefone 4020-9734 (ligação local) e, em seguida, entrar em contato com o Núcleo de Atendimento ao Educando (NAE) da unidade de ensino para agendar o atendimento presencial.
As oportunidades estão disponíveis nas seguintes instituições: a Universidade UNIVERITAS/UNG, em Guarulhos; a Universidade da Amazônia (UNAMA), em Belém; os Centro Universitários Maurício de Nassau – UNINASSAU em Recife, Salvador e Maceió; o Centro Universitário Universus Veritas (UNIVERITAS), no Rio de Janeiro; as Faculdades UNAMA em Boa Vista, Porto Velho e Rio Branco; as Faculdades UNINASSAU em Fortaleza, Natal, João Pessoa, Manaus, São Luís, Teresina e Aracaju; e as Faculdades UNIVERITAS em Belo Horizonte, Anápolis, Cuiabá e Palmas.
Oportunidade e Cidadania
Se existem mães que estão em busca de participar do projeto pela primeira vez, a estudante Valéria Santos foi selecionada na primeira edição, em 2016, e já está no 6º semestre da graduação. “Escolhi Pedagogia porque estar com crianças é um aprendizado para mim. Me identifico com a ideia de formar, não só bons alunos, que sejam capazes de tirar boas notas, mas que também possam ser cidadãos críticos e construtores dos seus conhecimentos”, afirma a mãe de Larissa Vitória Santos Ferreira, menina de cinco anos de idade que sofre de Microcefalia e paralisia cerebral.
Valéria conheceu as bolsas de estudo Mães Produtivas por meio da Aliança de Mães e Famílias Raras (AMAR), que atende atualmente 420 famílias de Pernambuco e idealizou o projeto em parceria com o grupo Ser Educacional/UNINASSAU. A ideia nasceu dos atendimentos feitos pela ONG às mulheres afetadas pelo surto da Síndrome Congênita do Zika Vírus. Segundo a fundadora e presidente da AMAR, Pollyana Dias, geralmente eram mães muito jovens, não tinham rede de apoio – ou foram abandonadas pelos companheiros ou estes não cumpriam com as responsabilidades de pai – e questionavam sobre como voltariam a estudar, já que precisavam estar disponíveis para os filhos.
Redescoberta de sonhos
Devido ao alcance social e humanitário, Mães Produtivas é uma das mais belas e importantes iniciativas na área educacional, na opinião do presidente do grupo Ser Educacional, Jânyo Diniz. “O projeto contribuirá com o processo de reencontros e redescoberta dos sonhos, de projetos deixados de lado; com o aumento da autoestima destas mães; com a possibilidade de melhorar sua qualidade de vida; e com o empoderamento que impulsionará a sua luta pela inclusão social do seu filho”, acredita.
O processo seletivo em que as candidatas deverão participar será entre os dias 13 de maio e 10 de junho de 2019. Serão levados em consideração critérios como o grau de doença da criança; a situação acadêmica e socioeconômica das mães e famílias; as motivações e também as condições de estudo de cada mulher.
Haverá assistência prestada por tutores para as futuras graduandas, acompanhamento humanizado que leva em consideração as individualidades, possibilidade de cursar a pós-graduação e a inserção no mercado de trabalho.
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