Em entrevista à Folha, Dilma ressurge e diz que pode reverter seu afastamento

Em conversas com a Folha, a presidente afastada revela que continua trabalhando, não com a mesma intensidade, mas está recebendo senadores e deputados aliados, buscando votos para reverter afastamento

Presidente está afastada há 18 dias
Descrição: Presidente está afastada há 18 dias Crédito: Foto:Marlene Bergamo

Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, divida em três matérias, uma publicada no último sábado, 28, e duas neste domingo, 29, a presidente afastada Dilma Rousseff , afastada há 18 dias do comando da presidência, afirma ter certeza que pode barrar o impeachment. Na entrevista a presidente afastada revela que continua trabalhando, não com a mesma intensidade, mas recebe senadores e deputados aliados, buscando votos necessários para rever seu afastamento e conseguir retornar a presidência.

 

Conforme a Folha, a presidente se mostrou mais confiante, após a divulgação de gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, com os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros e com José Sarney. Nas conversas os envolvidos relatam a tentativa de interferir na Operação Lava Jato e falam que se Dilma saísse do governo, as investigações poderiam esfriar.

 

“As razões do impeachment estão ficando cada vez mais claras. Nós podemos reverter isso. Vários senadores, quando votaram pela admissibilidade disseram que não estavam declarando [posição] pelo mérito [das acusações, que ainda seriam analisadas]. Então eu acredito. Sobretudo porque as razões do impeachment estão ficando cada vez mais claras. E elas não têm nada a ver com seis decretos ou com Plano Safra [medidas consideradas crimes de responsabilidade]. Fernando Henrique Cardoso assinou 30 decretos similares aos meus. O Lula, quatro. Quando o TCU disse que não se podia fazer mais [decretos], nós não fizemos mais. O Plano Safra não tem uma ação minha. Pela lei, quem executa [o plano] são órgãos técnicos da Fazenda. Ou seja, não conseguem dizer qual é o crime que eu cometi. Em vista disso, e considerando a profusão de detalhes que têm surgido a respeito das causas reais para o meu impeachment, eu acredito que é possível [barrar o impedimento no Senado]”, assegurou Dilma à Folha.

 

No decorrer da entrevista, a presidente afastada não economizou críticas ao presidente interino Michel Temer e diz que ele terá que "se ajoelhar" para Eduardo Cunha, com quem "não há negociação possível", reafirmando que seu impeachment foi uma tentativa de obstrução da Operação Lava Jato por parte de quem achava que, sem mudar o governo, a "sangria" continuaria. A "sangria" é uma citação literal do senador Romero Jucá. “Outro dos grampeados diz que eu deixava as coisas [investigações] correrem. As conversas provam o que sistematicamente falamos: jamais interferimos na Lava Jato. E aqueles que quiseram o impeachment tinham esse objetivo”, aponta Dilma.

 

A presidente ainda ressalta que o economista e prêmio Nobel Joseph Stiglitz fez um diagnóstico sobre o Brasil e mostrou que a crise econômica era inevitável. “O que não é inevitável é a combinação danosa de crise econômica com crise política. O que aconteceu comigo? Houve a combinação da crise econômica com uma ação política deletéria. Todas as tentativas que fizemos de enviar reformas para o Congresso foram obstaculizadas, tanto pela oposição quanto por uma parte do centro politico, este liderado pelo senhor Eduardo Cunha”, desabafa.

 

“Dou murro, mas não em todas as facas”

Ainda na série de entrevistas, Dilma afirmou que levará "ao extremo" a denúncia contra "o golpe", como define o impeachment. “O impeachment pode funcionar como um golpe. Você tira um governante, mas não quebra o modelo democrático. Não pode impedir a reação, as manifestações. Essa é a grande contradição desse processo. E eu vou levar até o extremo essa contradição. Sinto muito, sabe, sinto muuuuito se uma das características deste golpe é detestar ser chamado de golpe”, apontou Dilma.

 

“Nunca bati na mesa dizendo que eu sei tratar com bandido. Eu não sei tratar com bandido. Eu dei murro em ponta de algumas facas. Mas eu não tenho como dar murro em todas as facas”, finalizou Dilma.

 

(Com informações da Folha de São Paulo)

 

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