Produtores rurais de Pedro Afonso em contato com o T1 Notícias reclamaram que a multinacional Bunge, instalada na cidade, está praticando política de negócios que desvaloriza as terras tocantinenses, se comparada com a praticada no mercado nacional pelo arrendamento das terras para produção da cana-de-açúcar. Segundo o produtor Sebastião José de Carvalho, pioneiro na região, mesmo com a produção no Tocantins sendo cerca de 18% maior que a média nacional, o arrendamento, muitas vezes, não chega a 50% do que é previsto no Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
“Se nos situarmos pelas regiões sul, sudeste e centro oeste do país veremos com extrema facilidade que os contratos de arrendamentos destas regiões se situam nos patamares entre 21 a 29 toneladas de cana de açúcar, com a média ponderada de 25 toneladas por hectare, enquanto que o produtor local da região de Pedro Afonso não consegue em seus contratos superar a marca de 15 toneladas, isto em raríssimos contratos, sendo que a grande maioria dos contratos de arrendamento estão situados entre oito e 10 toneladas por hectare”, relatou o produtor.
Segundo Tiãozinho, como é conhecido em Pedro Afonso, a empresa utiliza de “subterfúgios” para alcançar lucros maiores já que “não repassam” parte desses lucros aos produtores locais que, segundo ele, “estão sendo enganados através de contratos de parceria agrícola”.
Neste sentido o produtor questiona o porquê da “gigante de alimentos” agir de tal forma com os produtores tendo em vista que as terras, objeto de arrendamento para o cultivo de cana-de-açúcar, são corrigidas por mais de 10 anos de cultivo de soja e por este motivo eleva a produtividade.
Para uma melhor compreensão o valor médio pago pelas indústrias é de R$ 60,34 por tonelada de cana-de-açúcar, e se a terra é arrendada para a produção de 21 toneladas, por exemplo, a receita daquele hectare chega a R$ 1.267,14, mas quando ela é arrendada para a produção de 10 toneladas, o valor pago pela empresa é de R$ 603,40, ou seja, menos da metade do valor médio praticado no restante do Brasil, mas a produção no Tocantins, na prática, não é inferior à nacional.
“A selvageria desta empresa não tem limites, e se não houver a intervenção das autoridades para saneamento de tais impropérios, esta gigante continuará massacrando os interesses de toda uma comunidade”, disparou Tiãozinho.
Contraste
A Bunge integra um mercado em crescimento e trabalha no processamento da cana-de-açúcar para a produção de açúcar, etanol e energia elétrica. Em entrevista a revista Terra Fértil, publicada no último mês de maio, o diretor regional centro-oeste norte de operações, Luiz Lima, falou sobre o potencial das terras tocantinenses para o plantio da cana e segundo a revista o Tocantins tem um dos melhores índices de produção “ficando bem acima dos índices nacionais”. A média de produção prevista no Brasil para a atual safra, 2014/2015, é de 71.308 kg/hectare, já no Tocantins é de 84.293 kg/hectare.
De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em todo o Brasil a estimativa de área destinada ao setor é de 9,13 milhões de hectares o que representa um aumento de 3,6% se comparado com a safra anterior, 2013/2014 e a produção também deve ter aumento, passando de 658,82 milhões de toneladas para uma estimativa de 671,69 milhões de toneladas nesta safra.
Já o Tocantins, que deve ser responsável pela produção de 2,3 mil toneladas de cana-de-açúcar na atual safra, também deve apresentar um crescimento no tamanho de área plantada, que passa de 26,6 mil hectares para uma expectativa de 27,9 mil hectares. Segundo dados da Conab, o Estado teve um crescimento, nos últimos nove anos, de 600% nos índices de produtividade.
Neste sentido a preocupação dos produtores é que mesmo com o evidente crescimento do setor no Estado, os lucros não estariam sendo destinados ao produtor local. “Esta Empresa vem de muito trazendo prejuízos irreparáveis para nossa região na medida em que mesmo tendo lucros estratosféricos a mesma não deixa estas divisas para o nosso município”, destacou Tiãozinho.
De acordo com o produtor, Pedro Afonso poderia estar crescendo na mesma lógica da produção de cana. “O que vemos hoje é uma cidade de crescimento aleatório, com a pobreza se disseminando, pois a renda que seria do produtor local está estrangulada enquanto que os lucros da Empresa vão para o exterior”, avaliou.
O outro lado
Desde a última quinta-feira, 13, o T1 Notícias solicitou resposta sobre as informações abordadas nesta matéria, mas até o seu fechamento a empresa não se pronunciou. O espaço continua aberto para as considerações.
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