As últimas declarações do governador Mauro Carlesse criticando os que estão aí há muito tempo e que, na sua visão, não contribuíram em nada com o Estado, tiveram resposta pronta por parte da senadora Kátia Abreu recentemente, mas têm outro alvo: o ex-governador Marcelo Miranda.
Se engana quem acha que as críticas de Carlesse são aleatórias. Além do próprio governador e do senador Eduardo Gomes, o nome que mais aparece em qualquer pesquisa é o do ex-governador Marcelo Miranda, que está fora do cenário, mas não está inelegível. O problema das progressões e datas-base que não foram pagas, por exemplo, é alvo de comentários críticos no primeiro escalão do governo. “Falta memória para muita gente. No Tocantins bom é quem dá o benefício, nem precisa pagar”, ouvi de um secretário. Ou seja: Gaguim e Miranda concederam, mas sobrou para quem veio depois pagar. “E estão pagando?”, retruca Marcelo Miranda.
Falando de suas contas de 2009 – que já foram rejeitadas uma vez pela Assembleia Legislativa – e que em tese poderia gerar inelegibilidade, Miranda circulou pelos corredores da Casa de onde saiu da presidência para o governo, ainda nos áureos tempos da União do Tocantins. O tumulto foi grande, de servidores, pedindo para tirar foto e cumprimentando Marcelo. O ex-governador não entende como as contas – já rejeitadas - serão apreciadas novamente pela Assembleia.
Lembrando que estas contas foram alvo de questionamento em 2014, quando Marcelo disputou o governo, e por força de liminar, não tiveram efeito de inelegibilidade.
O ex-governador que visitou e conversou com os deputados Claudia Lelis e Elenil da Penha evitou falar de política, mas também não deixou de contar a seguinte história...
Disse que conversando com seu pai, Brito Miranda, ouviu dele: “Meu filho, se eu fosse 20 anos mais jovem e assinasse Miranda, não deixaria de disputar o Senado”.
Carlesse aposta na possibilidade de reeleição, com base no caso de Andrade
A verdade é que, enquanto Ronaldo Dimas (Podemos), aparece bem posicionado em duas pesquisas que testam nomes ao governo - a dele própria e a que foi encomendada pelo senador Irajá -, o grande nome na pesquisa feita pelo governo é o próprio Carlesse, que quer permanecer mais quatro anos no comando do Estado.
O governador decidiu permanecer no cargo e buscar uma posição do TSE para a tese de que mandato tampão não conta para efeito de reeleição. Nas redes sociais, advogados do eleitoral sobem o tom no debate, afirmando que isso não é possível. Entre eles, Rubens Dario, Edy Cesar e Jorgam Soares, entabularam conversa neste sentido no Twitter há uma semana, afirmando que a tese do Palácio é mais eleitoral do que jurídica.
Na contramão deste pensamento, está Juvenal Klayber, que garantiu a segurança do mandato do presidente Antonio Andrade na Assembleia Legislativa, com argumento parecido. Lembrem-se que Andrade substituiu Carlesse, quando este assumiu o governo, ganhou a eleição para presidente em seguida, e por último foi reeleito.
Os contrários à tese insistem: sucedeu, na primeira vez, na condição de vice. Foi eleito e reeleito. Não é o caso do governador, que venceu eleições suplementares, em dois turnos e uma ordinária.
Mas, para quem ouve o grupo de Carlesse, a possibilidade é real.
O plano B, que se ouve nos bastidores, é um nome técnico, umbilicalmente ligado ao governador: o advogado e secretário de Fazenda, Sandro Armando.
Semana passada no Palácio, Sandro saiu do papel meramente técnico e apresentou o Refis para mais de 90 prefeitos reunidos no auditório do Araguaia.
O evento parece ter sido construído sob medida para projetá-lo, senão vejamos: o Refis abrirá a possibilidade de qualquer devedor de tributos ou dívidas de qualquer natureza, negociar seu pagamento com o Estado, com até 95% de desconto nos juros e multas. A entrada, que normalmente é paga nesses parcelamentos, foi reduzida de 25% para 10%. Os prefeitos receberão 25% dos créditos de ICMS, 50% do IPVA. Não é pouca coisa.
Esse Refis é coisa de pai para filho. E o pai do Refis, apresentado aos prefeitos, não foi o governador, mas sim o secretário, super elogiado pela condução das finanças do Estado na crise gerada pela pandemia.
Parênteses para uma regressão histórica...
Construir candidatura do zero é uma aventura nada fácil no Tocantins de hoje em dia. A última vez que se viu algo assim, aconteceu na virada do século, há mais de 20 anos, quando Eduardo Siqueira pariu a candidatura de Nilmar Ruiz. O nome dela foi recebido com ressalvas. No dia em que foi anunciada no barracão da vitória - e eu estava lá - ouvi de um Fabion Gomes, inconformado, que nem tudo que se queria era possível de fazer em política.
Ela venceu as eleições em Palmas e fez uma das gestões mais bem sucedidas da história da Capital. Não tinha muito traquejo político - o que adquiriu com o tempo -, mas como gestora deixou boas marcas.
Fecha parênteses.
O caso é que o Tocantins tem muitos nomes, de virtuais candidatos tanto ao governo quanto ao Senado. Gente que está na fila há anos. Unir o grupo que atualmente acompanha o governador numa eleição em torno de alguém que conhece pouco o Estado e é quase desconhecido, não será tarefa fácil.
É por estas e outras que o cenário político para o ano que vem está bem aberto. E cheio de possibilidades. Este desenho só estará realmente claro, entre março e abril do ano que vem. E olhe lá.
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