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Em Formoso, água contaminada adoece indígenas: prefeitura atua, mas situação preocupa

Nossa equipe visitou a Aldeia Txwiri, na Ilha do Bananal, às margens do Javaés, e viu de perto uma comunidade sofrendo com a cheia, adoecida e que perdeu suas pequenas lavouras...

Crédito: Jonas Souza/T1 Notícias

A cheia do Rio Javaés, em Formoso do Araguaia, está causando diversos transtornos às comunidades indígenas na Ilha do Bananal. O T1 Notícias visitou a Aldeia Txwiri e ouviu do vice- cacique, Émerson Idjoriwe Javaé que o principal impacto é na saúde de adultos e crianças pela contaminação da água. Eles utilizam a água do próprio rio, que arrastou o lixo das margens, provocando contaminação. “A coisa que mais precisa agora é primeiramente a saúde”, disse ele à equipe.

 

Idjoriwe relata que além da gripe e do medo de contrair Covid, os indígenas da Ilha tem sofrido muito com diarréia, provocada pela contaminação da água que é usada para beber e para cozinhar os alimentos. 

 

O problema é enfrentado pelo município, conta o prefeito Heno Rodrigues: “Temos levado cestas básicas, distribuímos dezenas de galões de água mineral, e estamos dando o suporte que podemos, mas a situação é atípica, por conta deste volume d`água”. O prefeito teme que a cheia possa isolar aldeias, e chegar até as casas e trabalha num plano de contigência para transferir as comunidades indígenas afetadas, caso o volume de água volte a crescer em março, quando se espera chuvas ainda mais intensas na região.

 

“Eles são os mais resistentes em sair, por que os agricultores normalmente tem parentes na cidade, então tem onde ficar. Mas os indígenas não tem”, conta.

 

Amor pela terra e pela cultura

 

Vivendo na aldeia desde 1995, Émerson Idjoriwe conta que trabalhou nas casas de madeira que foram erguidas para abrigar a comunidade indígena que ocupou o antigo povoado logo na chegada da Ilha, travessia do Porto Piauí. Ele conta que cresceu no conceito da comunidade, a medida que foi ficando mais velho e aconselhando as pessoas que o procuravam. Idjoriwe assumiu pela primeira vez como vice cacique em 2008.

 

Ele relata a necessidade de manter a cultura e ensinar os mais novos. “Eu não deixo de lado minha cultura. Mesmo quando tô na mata assim, é cantando aquelas cantiga(sic) que aprendi, para não esquecer né?”

 

A aldeia Txwiri conta com um chefe cultural, que também já foi cacique e hoje se dedica à manutenção da cultura, e é quem coordena o grupo de dança.

 

Cláudio Hawarana Javaé, Chefe Cultural contou à equipe que os meninos, a partir de 14 anos, começam a integrar o grupo. 

 

Eles se reúnem na Casa Aruanã, uma casa do segredo, em que mulheres não tem acesso, a não ser na velhice, para limpar. Segundo Idjoriwe é por que as mais velhas sabem guardar o segredo.

 

O Governo do Estado têm assistido as aldeias com a entrega de cestas básicas, que a equipe da prefeitura vai entregar em cada aldeia.

 

Perda das roças

 

Para o cacique Cleyton Oliveira Martins Tewaxure Javaé, a perda do plantio de lavouras é o fator que mais impactou a aldeia com as chuvas. Tudo que foi plantado no começo, foi perdido. “A gente tem trabalhando algumas parcerias com a prefeitura e temos projeto de turismo para desenvolver em conjunto. A prefeitura também tem ajudado com cestas básicas”, conta

 

Para Antonia Javaé, Diretora para Assuntos Indígenas do município, que acompanhou a equipe na Aldeia Txwiri, as comunidades precisam de um suporte maior das instituições, que vai além da estrutura que a prefeitura tem como dispor. “São muitas necessidades”, lembra ela. Uma força tarefa para atender as comunidades unindo esforços das diversas esferas pode amenizar a situação atual.

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