Há um traço comum em (quase) todos os políticos que conheço ao longo de mais de 30 anos atuando no jornalismo político no Tocantins: a tentativa de controle da narrativa.
Não há nada que desagrade mais um político, do que o jornalista contar a história que ele gostaria que nunca fosse revelada, ou que no mínimo fosse contada à sua maneira. Poderia ser um problema de ego, mas não é só isso. É a tentativa de controle da verdade. Ou da verdade de cada um.
É isso que o empresário e agora político, Joseph Madeira tenta fazer na noite deste 19 de abril, colocando para circular uma nota/desmentido, referindo-se a uma matéria que publicamos na editoria de política mais cedo, intitulada “Barbosa escala Joseph para acomodar Eduardo Siqueira no governo”.
Tenta controlar a narrativa que expõe algumas verdades.
Mas vamos lá: antes, preciso corrigir um erro. Sim, erramos na matéria em uma informação: a de que o encontro aconteceria nesta terça. Na verdade, a ligação de Madeira me fez “correr no pescoço” da primeira fonte com a qual havia conversado e descobrir que o encontro JÁ ACONTECEU. E foi ontem, segunda-feira, 18, enquanto eu ainda atravessava o Norte Goiano rumo ao sudeste tocantinense de volta a Palmas depois de cinco dias viajando com meus filhos.
Agora, as verdades.
Na primeira ligação para desmentir a matéria, Madeira me disse que não havia encontrado Eduardo Siqueira, nem tratado desse assunto. Mentiu.
O que Madeira negou na primeira ligação, confirmou na segunda, confrontado com as informações: data, horário e local da reunião.
Encontrou Eduardo em seu escritório na Arse 21, onde era sua antiga residência, (onde estive algumas vezes, duas no último ano, quando Joseph foi convidado a integrar o governo Wanderlei Barbosa) para tratar do assunto referente a sua posse na mesma pasta que assumiria antes de sucumbir à pressão. A Secretaria de Governo, que afirmou com todas as letras a um interlocutor a quem procurou para fazer a ponte com o deputado estadual: “Secretário de Governo ele não vai ser”.
E prosseguiu Joseph Madeira junto a esse mesmo interlocutor: “o governador está preocupado em como acomodar o deputado Eduardo”. Será que aceitaria uma pasta sem estrutura? Será que se preocuparia com o nome da pasta?
Encontro ocorreu no calor das 3 da tarde e teve testemunhas
O encontro dos dois ocorreu à luz do dia, por volta das três da tarde, terminando em torno das 17 horas. De frente ao prédio em que Madeira mora, na cobertura. Um prédio, diga-se, com muitas janelas...
Se quisesse segredo sobre um encontro deste porte numa quadra tão frequentada e num endereço tão conhecido, melhor seria ter feito o deputado entrar pela garagem, para não ser visto. No entanto o encontro teve muitas testemunhas para ser negado.
Exemplo: antes de Eduardo estava lá Thiago Sulino. Um bonito rapaz, diga-se de passagem, irmão do secretário Sulino. Depois de Eduardo chegou Beto Lima, secretário de Indústria e Comércio. Quanta ingenuidade imaginar que uma coisa assim passaria desapercebida.
Na nota em que afirma que tal matéria “não tem consonância com a verdade”, Madeira nega que tenha sido escalado pelo governador para tal missão. No entanto foi o que uma das fontes ouviu textualmente o empresário dizer.
Muito útil na interinidade de Wanderlei Barbosa, Eduardo, como esse blog já revelou, foi limado por inimigos poderosos dentro do grupo do governador assim que ele se confirmou no cargo. Se tornou “um bode na sala”. Humilhado na forma com que toda essa abordagem prosseguiu. Pela sua própria história, é sabido que Eduardo colecionou muitos inimigos... “Mas até os que não gostam dele, entendem que é uma peça importante”, tem dito Joseph nos bastidores. Excesso de sinceridade.
Confrontado, Madeira admite o encontro, mas segue negando a pauta
Segundo telefonema, na noite de hoje, sobre o mesmo assunto.
Informo ao amigo, que já sei de outros detalhes que confirmam o texto publicado no T1 Notícias. Que fui atrás da fonte, que não só confirmou encontro e teor, como a existência de outra fonte. Que se o material estivesse errado, eu mesma retiraria do ar com um pedido de desculpas. Mas ao buscar as confirmações obtive novos detalhes. Deixo claro que a nota desmentindo o T1 me força a desmentir o desmentido. O que poderia ter sido evitado se a nota não fosse tão apressada. Na crise não se nega o fato. Todo assessor sabe disso. Mas nem sempre o político ouve o assessor.
Joseph volta a carga: que eu não tenho como saber o que foi tratado entre os dois, ele e o deputado Eduardo Siqueira. Chega a sugerir que o encontro foi para falar de amenidades. Aperto um pouco mais.
Será que falaram de futebol, de sexo dos anjos, de música ou de poesia?
Afinal Eduardo não vai à casa ou ao escritório de ninguém. Por que iria no de Joseph se não fosse para tratar de assunto do seu interesse? Ao que Madeira emenda: queria ouvir conselhos sobre sua pré-candidatura a federal. É possível. Mas duas horas? Quando o assunto na pauta política é outro?
Realmente, esta conversa só as paredes ouviram. Só posso saber do conteúdo por que a pedra foi cantada antes, pelo próprio Joseph, que falou demais.
E é aí que está o problema. Uma missão dessa envergadura, não se confessa a ninguém. Não se pede conselhos de como abordar a pessoa/problema. É a exposição disso que gera o constrangimento. A todos os envolvidos e não só a ele.
Aliás, em política, tem sempre alguém que vê ou escuta aquilo que uma pessoa fala demais. Tem sempre um porteiro que viu o Senador Arruda entrar no prédio da funcionária da empresa que controlava o painel. Ou um motorista, como no caso do Fiat Elba de PC Farias que derrubou Collor. Em política não se guarda segredo. Nesse meio as pessoas adoram ser fonte.
No caso da nota, que tenta desmentir a matéria, Joseph Madeira foi infeliz. Bastava ter ligado para o chefe e justificado não saber como a coisa toda vazou. Agora desmentir o que seis entre meia dúzia dos próximos ao governo sabem, é subestimar a inteligência alheia.
Por último, é claro que o Blog tentou ouvir Eduardo Siqueira. Esse tá muito p. da vida. Mais esperto, preferiu não se manifestar neste momento. “Se decidir falar sobre este assunto, será na tribuna, que domino bem”, replicou.
É um Eduardo num estado de nervos impublicável. Talvez por estar recebendo mensagens e piadinhas no Zap desde cedo. A última chegou de Nova York, onde está o senador Eduardo Gomes. “Cuidado Xará, desse jeito você vai acabar jogando na segunda divisão”.
Nenhum demérito aos poderes de Joseph como articulador. É que a política tocantinense não é para amadores. Nem o jornalismo.
Por isso, fica a dica: não se desmente algo que muita gente sabe, com riqueza de detalhes. Quem assim o faz, corre o risco de passar vergonha. Duas vezes.
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