Blog da Tum

Na máquina do tempo, o reencontro com o Siqueira de 32 anos atrás

Escutar a voz de Siqueira Campos, depois de tanto tempo, relembrando nossa convivência juntos, seja a política ou a profissional, é de uma honra e uma alegria imensas. 

Crédito: Arquivo Pessoal

O telefone tocou quando eu já havia concluído no final da tarde de ontem, terça-feira, 4, uma entrevista política para o canal do Youtube do T1 - @t1noticiasoficial (sigam lá).

 

Era ninguém menos do que o eterno. 

 

Siqueira Campos, com a voz cansada, ligou para informar ao filho, Eduardo, que tinha acabado de voltar do médico, um oftalmologista, que havia lhe atendido. “Meu filho, fui tratado extraordinariamente bem”, contou. Vai trocar os óculos para compensar a perda parcial da visão do olho direito.

 

O Siqueira de hoje, do alto dos seus 94 anos, resiste ao tempo e aos males do corpo que o carrega. Depois de ouvi-lo e perguntar como estava a memória hoje, Eduardo colocou no viva-voz e disse: “Pai, estou aqui diante da Roberta Tum, que disputou conosco a eleição de 98, que comandou o Procon na sua gestão, lembra dela? E ele: mas é claro que eu me lembro!”.

 

“Meu governador”, eu o saudei. Começamos então a conversar e ele como de costume, perguntou pela família, se estavam todos bem, daquele mesmo jeitinho que sempre foi seu.

 

Siqueira sempre me emociona! 

 

Escutar sua voz, depois de tanto tempo, relembrando nossa convivência juntos, seja a política ou a profissional, é de uma honra e uma alegria imensas. 

 

No dia 3 de abril, portanto, anteontem, completei 32 anos de Tocantins. Me lembro bem do dia chuvoso de abril, que com uma mala e muita vontade de desbravar essa terra, desci na velha rodoviária de madeirite, com esgoto correndo a céu aberto, de frente a então nova Galeria Bella Palma.

 

Era eu, uma menina com uma mala na mão e muitos sonhos, expectativas do que eu poderia construir aqui. Era 1991, o governador era Moisés Avelino. Ele tinha vencido Moisés Abrão na segunda eleição do Estado. 

 

 

Siqueira havia ficado por dois anos no governo e a cidade já tinha suas marcas.

 

Na conversa de ontem, Eduardo disse ao pai: “Ela está completando esta semana, 32 anos de Palmas meu pai”. Nesta hora, a segunda emoção (a primeira foi ele se lembrar de mim, num momento da vida em que a memória vai e vem). O Velho Siqueira me cumprimentou e disse “ah..então você chegou logo no começo”. Verdade. Só perdi seus primeiros dois anos à frente do governo.

 

O resto da conversa foi sobre a alegria dele de ver o filho, decidido a voltar à vida pública e disputar a Prefeitura de Palmas. “Eu estou muito feliz! Muito feliz que ele tenha se decidido a lutar de novo por esta terra”, disse um emocionado Siqueira. Eduardo, quem conviveu com os dois sabe, foi sempre o preferido para levar a frente seu legado.

 

Nos despedimos com aquele afeto que transpassou o tempo. Um tempo em que aquele Siqueira tinha 62 anos e eu 22.

 

Com ele vivi a minha maior oportunidade de contribuição ao Estado, à frente da Diretoria que era o Procon. Nunca me ligou para proteger ninguém. Só dizia: ensina aos nossos empresários e comerciantes, o direito do consumidor. Dei outra dimensão ao Procon. O Sindicato dos proprietários de postos, através do seu presidente chegou a pedir minha demissão. O saudoso João Cruz era o secretário. O governador não aceitou a pressão e não entregou.

 

Siqueira é uma lenda viva. Um homem de gênio forte e capacidade enorme de realizações. Dificilmente na história do Brasil recente alguém lhe igualará. 

 

Lutou com a própria vida pela criação do Estado. Criou a capital, Palmas, enfrentado todas as adversidades e os adversários que não aceitavam, e queriam que a capital fosse em Araguaína ou Gurupi.

 

Foi um grande articulador, criou e instituiu todos os poderes constituídos deste Estado.

 

Pensa numa alegria falar com ele, num espaço tempo em que passado e presente se alternam e se misturam.

 

Ganhei meu melhor presente de aniversário nos meus 32 anos de Palmas. Como não acredito em coincidências, penso que o Universo conspirou para esta conversa acontecer.

 

Antes de desligar, eu disse: “lhe amo!” ele respondeu: "Nós nos amamos”!

 

Na verdade não só eu, mas milhares de tocantinenses pelo mundo afora...

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