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Sofrimento, ingerência política no CNJ e injustiça: defesa de Willamara causa impacto

Um mergulho na Operação Maet, que completou 12 anos semana passada, pela ótica da ex-presidente do TJ, afastada na ocasião, Willamara Leila. Ela quebra o silêncio, 12 anos depois...

Willamara Leila, ladeada pelos sócios da AW7.
Descrição: Willamara Leila, ladeada pelos sócios da AW7. Crédito: Divulgação

Os doze anos de silêncio da desembargadora Willamara Leila de Almeida, ex-presidente do Tribunal de Justiça, terminaram na última sexta-feira, 16, data em que completaram-se 12 anos da deflagração da Operação Maet.

 

Nela, foram afastados de seus cargos, além da desembargadora, o então vice-presidente do TJ, Carlos Souza, e o desembargador Liberato Costa Póvoa (já falecido).

 

A quebra do silêncio veio no pré-lançamento de um documentário - que vai ao ar completo neste começo de semana de Natal - e do pré-lançamento de um ebook, que deve ser lançado em janeiro, com versão impressa prevista para fevereiro. Os dois trazem o mesmo título: Biografia Interrompida - Vida e Obra da Desembargadora Willamara Leila de Almeida.

 

Três capítulos do livro foram disponibilizados via release e dois veículos de comunicação prestigiados com a exclusividade da divulgação dos textos. Eles revelam uma Willamara marcada pelo sofrimento, afirmativa quanto à sua inocência da acusação de ter se aproveitado da posição para decidir não pagar determinado precatório, por querer supostamente auferir vantagem financeira.

 

O processo tem milhares de páginas. A decisão, do juiz Luiz Zilmar, cerca de 250 páginas. Da apelação - feita pelo brilhante advogado Alexandre Satyro, paraibano morador de Brasília, onde publicou livro e dá aulas na Universidade -, o MPE recorreu com peça de cerca de 210 páginas, “cheias de repetições”.

 

Quem foi ao Hotel Rio do Sono na noite de sexta-feira, 16, saiu impactado com a narrativa. Nela, temos que Willamara Leila e o esposo João Macedo foram condenados sem uma prova sequer. Quem os acusa, é um advogado que se contradisse nos depoimentos e que não atua no ramo de precatórios. Não há dinheiro encontrado, por mais que STJ, Receita Federal e demais órgãos de controle tenham feito uma varredura nas contas e bens do casal, duas vezes. Nada que respalde a teoria de que ela cobrava para pagar precatório.

 

A vítima do famoso precatório de R$ 100 milhões, afirma textualmente num trecho do processo - replicado no documentário - que fora informado de que se concordasse em abrir mão de 40% (sic) isso teria que ser feito logo, na gestão interina do vice-presidente, Carlos Souza, antes que a desembargadora voltasse uma vez que a mesma poderia interromper “o esquema”. Este depoimento teria sido manipulado (como outro, em que ela conversa com o vice-presidente) e utilizado parcialmente pela acusação.

 

Em seu favor, para justificar a suspensão deste pagamento, entre outros, a desembargadora alega via sua defesa, que havia decisão do CNJ, que lhe imputaria responsabilidade em pagar precatórios fora da ordem de lista de pagamentos. Sob pena de responder por isto.

 

Crítica ao CNJ e ao interesse de políticos em lhe tirar do TJ

 

Com fortes argumentos, a desembargadora acusa uma conspiração de ter lhe retirado o cargo 15 dias antes do final de seu mandato, impedindo-a de entregar obras que estavam em andamento (cerca de 20).

 

Desta conspiração fariam parte políticos de alta plumagem à época. Estes teriam atuado para inseri-la, faltando cerca de 20 dias para deflagração da operação, numa investigação que vinha em curso há tempos. Os nomes, que ela não cita, ficam fáceis de se deduzir na narrativa do livro.

 

Diante do CNJ em Brasília, a desembargadora gravou forte acusação de atuação política de um órgão corregedor, que deveria, em tese, estar livre de tais influências. Absolvida na justiça comum de atos de improbidade de que era acusada, ela foi aposentada compulsoriamente, exatamente sob esta acusação.

 

Ela alerta que, qualquer juiz ou desembargador, pode sofrer da mesma injustiça que sustenta ter sido vítima.

 

Muitas questões são levantadas. Desde o depoimento dos filhos, profundamente tocados com o que ocorreu com a mãe, até sua mãe, dona Nair, que conheço desde os anos 80, em que ela era forte divulgadora da Seicho-no-ie, e eu trabalhava (em tenra idade) no Jornal Folha do Sudoeste, do amigo e grande jornalista José Renato de Assis.

 

A fala da mãe é emocionante. Assim como a da filha Stella, que se formou um dia após a operação, uma festa completamente atropelada por tudo que aconteceu. Ela, o marido e um filho, bebê de um ano, estavam na casa, invadida pela Polícia Federal na madrugada daquela quinta-feira, que mudou a história de Willamara Leila e do judiciário tocantinense.

 

O pano de fundo são as obras, dezenas delas... A saber: nove fóruns concluídos, sistema e-proc implantado, Plano de Cargos e Salários para os servidores, uma unidade judiciária (projeto que foi abortado pelos sucessores dela) e dezenas de obras em andamento.

 

Chama a atenção as imagens atuais de prédios abandonados no meio do mato. Obras públicas, com dinheiro do Judiciário, que se perderam, na birra em não dar sequência ao que a então presidente fazia. Um crime, este à luz do sol, que não se tem notícia de apuração pelo MP.

 

Para o advogado da desembargadora, Alexandre Satyro, Willamara está condenada há 12 anos pela exposição midiática que a fez reclusa em sua casa, sem poder circular nos mesmos meios que antes. O trauma lhe custou tratamento psiquiátrico, uso de remédios para dormir, dois anos sem falar ao telefone.

 

Aposentada, ela divide seu tempo entre o apartamento do filho (pouco mais de 50 metros quadrados) e a chácara em Palmas. Sua casa, na Arse 21, perdeu o brilho, a cor e espera reforma.

 

Se está certa na sua versão dos fatos, que destacou ser “a única verdadeira”, no texto que leu na abertura da exposição do vídeo, na última sexta, o tempo nos mostrará.

 

Mas, de uma coisa não resta dúvida: o que vemos e ouvimos 12 anos depois traz verdades incômodas. Estas, não serão mais possíveis a Justiça ou a opinião pública ignorar. 

 

P.S: Conheci a desembargadora nos anos 90, na sua casa, na Arse 14, em Palmas. Ainda juíza, com três filhos, entre os quais o jovem e brilhante Marluz, guitarrista que foi parar no Faustão. Fui entrevistá-lo para o caderno 2 do Jornal do Tocantins. Assisti sua posse no TJ quando ocupou a vaga de Desembargadora. Cobrimos no Site Roberta Tum sua trajetória como presidente do TJ. Finalmente, cobri a Operação Maet. Pretendia fazer uma reportagem especial sobre o tema. Porém desisti, após reencontrá-la este ano, quando a procurei para repercutir a sentença que a absolveu de quatro acusações e a condenou em três. Alí, ao ser apresentada ao seu advogado e ter acesso à informações importantes, percebi que havia uma grande história a ser contada. Ela conseguiu contá-la sob as lentes da AW7, pequena agência de Palmas, que fez um belo trabalho. O pacote, doc e livro é um mérito e creio, um alívio para o casal.

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