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Um mandato sequestrado e uma dezena de perguntas sem respostas

Um dia depois das prisões que sacudiram a capital, muitas perguntas continuam sem resposta, e o clima é de consternação em torno do afastamento do prefeito Eduardo Siqueira Campos

Eduardo Siqueira em coletiva em maio após ação da PF
Descrição: Eduardo Siqueira em coletiva em maio após ação da PF Crédito: T1 Notícias

Passei no final da tarde deste sábado, 28, de frente ao QCG, enquanto dava uma volta pela cidade com meus filhos.

 

O prédio enorme, com suas colunas brancas já estava imerso nas sombras do começo da noite. 

 

Uma noite escura que começou ontem de manhã para Palmas, quando além de ser detido para esclarecimentos, o prefeito Eduardo Siqueira Campos (Podemos) terminou o dia preso. 

 

Durante toda a sexta-feira, 27, em que nós da imprensa corremos atrás de informações sobre mais esta etapa da Operação Sinameses, ouvindo advogados, secretários e esperando as informações oficiais da Superintendência da PF no Estado, o clima na capital e no meio político em geral era de surpresa e consternação.

 

Parecia inacreditável que o prefeito da Capital - ainda antes de completar seu sexto mês de governo – pudesse ter o mandato interrompido, sequestrado por um mandado judicial de prisão e afastamento das suas funções públicas.

 

A pergunta que mais ouvi, das pessoas mais simples, até aquelas que estão mais bem informadas sobre os ritos processuais foi: por quê? 

 

Que crime cometeu Eduardo que possa ter relação com o exercício do mandato duramente conquistado nas urnas ano passado, enfrentando contra si a força de duas máquinas de fazer votos?

 

Cercado de sigilo - e com a âncora da Globo para matérias nacionais, a colega jornalista Ana Paula Rebhein no Bico cobrindo a vinda do presidente Lula -  desta vez não assistimos a informações privilegiadas sobre o processo e a operação nas telas da Anhanguera ou no X. Só se sabe que ele é acusado de vazar informações sigilosas para supostamente aumentar seu capital político.

 

Segundo me disse o advogado Juvenal Klayber na sede da PF, além da obrigatoriedade natural do sigilo aos advogados, há uma recomendação de sigilo com relação a informações do processo serem repassadas à imprensa. 

 

Eu achei engraçado...

 

Deveria ser sempre assim no tocante à imagem dos presos nestas operações. Até pelos equívocos recentes ocorridos no Tocantins, com inquéritos federais encerrando sem condenações, com provas anuladas, ou mudança do criminal para o eleitoral como temos visto nos últimos anos. 

 

Porém não podem faltar informações públicas quanto à acusações graves a ponto de motivar um ministro do Supremo a afastar um prefeito eleito.

 

E isto não é uma crítica às instituições ou ao judiciário, que devem sempre cumprir da melhor forma o seu papel.

 

É uma crítica a alguns dos seus operadores, apressados, ou movidos por outros interesses que queimam etapas e adotam comportamento sensacionalista.

 

Voltando às perguntas sem resposta, que vão ficar ecoando no ar, até segunda-feira, 30, ou quem sabe até depois dela... seria importante saber:

 

1 - Os fatos (vazamento de informação privilegiada e sigilosa) a que se referem esta operação não estão circunscritos a conversas do ano passado?

 

2 - Se houve ou há monitoramento de movimentações de policiais federais, elas ocorreram durante o exercício do mandato do prefeito e por determinação sua?

 

3 - Eduardo Siqueira usou em algum momento a estrutura do município para ter acesso a informações ou movimentações de policiais federais?

 

4 - O que tem o exercício do mandato a ver com os fatos apurados?

 

Não há nem que se falar que prisão é medida extrema. Que existem outras medidas que restringem a liberdade de um acusado em interferir numa investigação federal. 

 

Agora a pergunta maior e que não quer calar: 

 

5 - Quem vazou as informações sigilosas? De que gabinete saiu? Via qual ministro do STJ? De qual assessor? De que escritório de Brasília, daqueles que vendem mais o prestígio e o acesso à Corte Superior do que propriamente outros serviços?

 

E porque cargas d’água não sabemos os nomes destas pessoas, nem vimos seus mandados de prisão, ou afastamentos de funções públicas?

 

É por tantas perguntas sem respostas que soa uma medida extrema e exagerada a prisão do prefeito de Palmas. 

 

Talvez o Judiciário deva começar a cortar na própria carne para dar o exemplo, quando se trata de comportamentos criminosos, dentro da sua estrutura institucional.

 

Com altos índices de aprovação e trabalhando num ritmo ininterrupto nestes últimos cinco meses e 26 dias, Eduardo Siqueira Campos conquistou algo relevante: a população de Palmas em sua maioria, está concedendo a ele o benefício da dúvida.

 

Os vereadores da capital, em sua maioria, estão solidários e esperando suas explicações.

 

O secretariado está unido e coeso em torno do prefeito afastado. E o vice, é amigo e companheiro de primeira hora. Um pastor evangélico, sem passado político eleitoral ou histórico de traição.

 

Basta ler os comentários nas redes sociais, das publicações que tratam da prisão do prefeito para entender o alcance na opinião pública daquilo que trato aqui: incompreensão da necessidade de aplicação da medida extrema.

 

Vi de longe na Superintendência da PF, a filha do prefeito e secretária municipal, Gabriela Siqueira Campos, a Gabi. Ela entrou para levar comida e roupa para o pai. E na saída ficou alguns minutos conversando com o advogado Juvenal Klayber.

 

O sofrimento da família nesta situação é incalculável. Todas as famílias que têm seus membros retirados do seu convívio abruptamente, sofrem igual, independente de cargo público ou posição social.

 

Também por isso, que no estado democrático de direito existem etapas a se cumprir.

 

 Investigar, ouvir, confrontar, coletar provas, julgar, condenar, aguardar os recursos e depois sim, prender quem tem pena a cumprir.

 

Aqui, desde sexta-feira, 27 de junho, de manhã, assistimos a uma surpreendente inversão da ordem das coisas.

 

Um prefeito preso. Um mandato popular sequestrado. E uma dezena de perguntas sem resposta.

 

 

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