Mais um episódio envolvendo os umbandistas que frequentaram o Cemitério de Nova Rosalândia, nos dia 1º e 2 de novembro. Após as denúncias dos religiosos, de que foram agredidos verbal e fisicamente no local, onde estariam visitando túmulos de parentes e fazendo oferendas, a Câmara Municipal de Vereadores divulgou nota de repúdio atribuindo ao grupo de umbandistas atos de vandalismo e magia negra.
A nota de repúdio foi publicada no Facebook da Casa Legislativa, descrito como Câmara Municipal de Nova Rosalândia, e nela é atribuída aos umbandistas a depredação de túmulos do cemitério local, que é de responsabilidade da Prefeitura. A nota é assinada pelo presidente da Casa de Leis, vereador Manoel José Barbosa (PSB) e todos os demais oitos parlamentares.
“Esta Casa Legislativa respeita o estado laico brasileiro, no entanto repudia veemente tais condutas e garante que todas as medidas serão adotadas para coibir referidas infrações”, diz parte da nota. Uma dessas medidas anunciadas foi a construção de um portão no cemitério para controlar o acesso de pessoas e evitar atos de vandalismo.
As denúncias de agressões partiram da estudante Thuany Caroline Silva Carvalho, 25 anos, e da cozinheira Maria Divina Pinto dos Santos, 42 anos, que além de registar Boletins de Ocorrência registraram os atos em vídeos, onde aparecem discutindo com o eletricista Pedro Conceição Primo, 49 anos, que as recrimina por estarem no cemitério fazendo “macumba”, termo este utilizado por ele. A reportagem sobre esse incidente foi publicada pelo T1 Notícias no sábado, dia 9.
Pedro Primo dá sua versão sobre agressão e nega preconceito
Em contato com o T1 Notícias nesta segunda-feira, 11, Pedro Primo é questionado se tem provas das acusações feitas aos religiosos de que eles estariam fazendo magia negra e promovendo vandalismo. “Nós temos provas das sujeiras, não podemos apontar o dedo. Não podemos afirmar que são eles, mas podemos afirmar nossa suspeita, por que fazem um trabalho na sexta à noite (1º de novembro) e no dia seguinte aparece túmulos quebrados. É uma coincidência muito grande”, diz o eletricista.
Questionando também sobre as agressões físicas contra Thuany, Pedro Primo se defende. “É claro que que no vídeo aparece só eu, por que foi tudo arquitetado. Ela não mostra o companheiro dela tempo algum. Quando ele diz que eu tinha agredido ela, na verdade eu bati a mão no celular dela por que ela é muito ousada, veio para cima de mim me filmando de longe, e tentou me filmar na minha cara. Eu bati a mão no celular e ele disse pra mim que eu tinha agredido ela e pegou um braço de cruz. Em minha defesa própria eu também peguei um, mas não para brigar, mas para me defender”, conta.
Por não ter como provar sua versão da história, o acusado diz que quem deve fazer a investigação é a Polícia Civil. “O que eu tenho a fazer é a denúncia. No cemitério foram encontradas cabeça de porco, galinha morta, coração de boi, ovadas, copos e garrafas, e muitas outras sujeiras. Isso tenho todas as provas e em vídeo. Eles se prepararam para fazer todo esse ritual exatamente um dia antes do dia de visita aos finados, 2 de novembro. Isso não pode ser tratado como religião, isso é vandalismo”, avalia.
Pedro Primo enviou ao T1 cópia de Boletins de Ocorrência registrados no dia 4 de novembro. Um deles registrado pelo comerciante Orlando Cerqueira Machado, 52 anos, no qual denuncia a depredação do túmulo de sua mãe Gertrudes Cerqueira Machado. No Boletim, Orlando diz que não tem suspeita de quem possa ter cometido o ato de vandalismo. O segundo Boletim foi registrado por Pedro Primo contra Thuany e sua madrinha Maria da Paz Cabral dos Santos, 67 anos. Nele, o eletricista as acusa de provocação e ameaça.
Umbandista reafirma constrangimento e agressão
Sobre essas acusações e a nota de repúdio da Câmara de Vereadores, Thauny lamenta e diz que mais uma vez se caracteriza como intolerância religiosa. Ela mantém a acusação de que o grupo de umbandistas passou por constrangimentos e agressões.
O referido episódio também cita a participação de policiais militares que foram chamados para tratar a ocorrência, mas não teriam dado a atenção desejada pelas denunciantes e evidenciando a inversão de valores. “A polícia vira pra mim e pergunta quem está conduzindo o carro. Na hora, o motorista se apresenta e em seguida um policial fala que houve uma denúncia anônima em que teria uma arma guardada no carro, fazendo uma revista. Não encontraram nada, mas ficou o constrangimento perante todos que ali estavam”, acrescenta Thuany.
Ela lembra ainda que os policiais, então, disseram que elas poderíamos ir embora e que a única coisa que eles poderiam fazer era lavrar o termo de que teriam comparecido no local. “Falaram que se quiséssemos puxar o extrato da ocorrência que nos deslocássemos até a cidade de Lagoa da Confusão. O criminoso ficou impune mesmo em flagrante e fomos embora”, lamenta.
Depois disso, as vítimas se dirigiram à delegacia para registro de Boletins de Ocorrências (BOs), porém só conseguidos na Delegacia de Polícia de Paraíso, sob os números 090191/2019 e 088418/2019 o quais o T1 Notícias teve acesso, bem como os vídeos. Em um deles é possível ver o ato de agressão física.
O T1 pediu um posicionamento da Polícia Militar sobre a conduta da equipe que atendeu a ocorrência, mas ainda não foi atendido.
Federação defende religião e pede retratação
O vice-presidente da Federação das Casas de Culto de Matriz Afro-Brasileira do Tocantins (Feccamto), Gildener de Souza, o Pai Gil, também repudiou o ocorrido com as religiosas. Segundo ele, a Feccamto não tem conhecimento da existência de terreiro de umbanda em Nova Rosalândia, referindo-se à nota da Câmara de Vereadores.
Ele assegura que não faz parte dos mandamentos da Umbanda o sacrifício de animais, tampouco utilizar-se dos restos deles em oferendas. “É uma inverdade que precisa ser revista por parte da Câmara, por deliberarem erroneamente sobre um religião de abrangência nacional. Vamos atrás dos nossos direitos e queremos retratação. Chega de sermos malvistos e julgados. É uma afronta à religião”, avaliou.
Devido a isso, ele acionou a Defensoria Pública e ainda o Ministério Público Estadual e a Ordem dos Advogados do Brasil, cobrando também a apuração por parte da PM sobre a conduta da equipe que atendeu a ocorrência.
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