Jardim da Paz enterra 11 bebês em 15 dias: 70% recém nascidos do Dona Regina

O alto número de bebês mortos em Palmas na primeira quinzena de fevereiro chama a atenção e é objeto de investigação por parte da Sesau. Maioria nasceu no Hospital Dona Regina, onde 11 morreram

Sheila perdeu duas filhas
Descrição: Sheila perdeu duas filhas Crédito: Bonifácio/T1Notícias

Os pais do pequeno Erik, de apenas dois dias, fizeram seu sepultamento no último dia 2 de fevereiro, numa terça-feira, dia de Iemanjá. Davi, nasceu morto e foi recebido numa cova pequena num dia de domingo, 21 de fevereiro. No mesmo dia, o filho de Ênio e Mônica, também foi sepultado no Cemitério Jardim da Paz. Não deu tempo de receber nome, por isso não teve certidão de óbito, apenas um registro em Cartório: Certidão de Natimorto. O que o primeiro e o último tiveram em comum, além da última morada, é o lugar onde suas mães deram a luz: Hospital Dona Regina, destino frequente das gestantes de Palmas que fazem parto pelo SUS e de diversas cidades do interior.

 

O alto número de enterros de fetos e recém nascidos chamou a atenção. Em 15 dias, de 2 a 21 de fevereiro, onze pequenos corpos desceram ao chão na capital. Destes, 7 foram  nascidos no Hospital Dona Regina, um na UPA Sul, mais um no Hospital Cristo Rei e um último no Hospital Osvaldo Cruz. O número de bebês nascidos e mortos no hospital de referência do Estado para parturentes, no entanto é maior do que aqueles que o T1 Noticias conseguiu apurar na Seisp, em Palmas, terem sido enterrados na Capital. Foram 11 no total, conforme nota da Sesau, solicitada pelo T1 Notícias no último dia 24.

 

O mês de janeiro também não foi fácil: 9 fetos e 12 bebês foram a óbito no hospital. Os motivos segundo a assessoria da Secretaria de Estado da Saúde, se repetem. Prematuridade, má formação,colapso cardio vascular, sepse neonatal. Questionada sobre as providências a serem tomadas diante do número atípico de mortes a Sesau respondeu que : “a Secretaria de Estado da Saúde já solicitou que o Comitê de Verificação de Óbitos da unidade preste esclarecimentos com urgência”.

 

Comparado aos números de janeiro, também altos, os de fevereiro acendem o alerta de algo de errado pode estar acontecendo, no pré-natal das gestantes, ou no atendimento dado às crianças com problemas de saúde nos primeiros dias de vida. Em janeiro foram 14 enterros de bebês no jardim da Paz. Do Hospital dona Regina no entanto saíram 23 cadáveres: 9 fetos e 12 recém nascidos. Quem viveu menos foi a menina Izabelle, 23 minutos apenas conforme Certidfão de Óbito. O que viveu mais, respirou por 30 dias.

 

Mãe perde gêmeas prematuras e lamenta falta de informação

 

Moradora do Lago Sul, a dona de casa Sheila dos Santos Rodrigues Mendonça ainda tem a barriga inchada e fala das duas filhas que perdeu com lágrimas nos olhos quando relembra o caso. “Eu queria elas de qualquer jeito. Mesmo que fossem ficar dependentes de mim para o resto da vida. Mas que vida seria essa para elas?” - pergunta emocionada - “a gente não pode ser egoísta”.

 

Com apenas 18 anos, primeira gravidez, tipo sanguíneo O negativo, Sheila só foi informada de que pertencia a um grupo de alto risco uma semana antes de dar a luz às meninas Elizângela Gabriela e Elivânia Gabrielly. A primeira viveu quatro dias no Hospital Dona Regina. A segunda faleceu com 10 dias de nascida na UTI. A mãe tomou a vacina indicada pelo pediatra no Dona Regina numa sexta-feira, e as meninas nasceram na quarta-feira seguinte, com seis meses de gestação.

 

“Quando eu ganhei elas não tinha UTI disponível. Foi 12h40. Aí a noite conseguiram uma UTI e levaram a que estava com menos risco, que foi a primeira gemelar, por que a segunda tinha muito líquido na barriga. E eles não souberam me explicar por que”, relembra Sheila. A primeira, foi levada para o IOP. A segunda ficou no Dona Regina e foi internada na UTI no segundo dia de vida.

 

Sheila Mendonça afirma que foi muito bem atendida no Hospital Dona Regina e não culpa ninguém pela morte das meninas. “A que faleceu por último ela já estava bem inchada, o rim tinha parado.Não é bom a gente ver a filha da gente daquele jeito… Se ela sobrevivesse ficaria para sempre com sequelas. A mãe quer o filho de qualquer jeito. Eu com certeza cuidaria dela para o resto da vida, mas e ela?  Como seria ser dependente dos outros pra sempre?”, finalizou.

 

As causas da morte das meninas de Sheila são bem parecidas: Sepse Neonatal, Prematuridade Extrema, Desconforto Respiratório. Elivânia, que viveu 10 dias numa UTI do IOP teve ainda insuficiência renal.

 

Confira a nota da Secretaria da Saúde

Nota de Esclarecimento

 

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) informa que no período entre 1º de janeiro e 22 de fevereiro de 2016 o Hospital e Maternidade Dona Regina registrou o total de 793 nascidos vivos14 óbitos fetais e 18 óbitos infantis.

A Sesau informa ainda que as principais causas dos óbitos foram: prematuridade extrema e sepse neonatal, síndrome clínica caracterizada por sinais e sintomas no primeiro mês de vida, com resposta multiorgânica. É a principal causa de morte em recém-nascidos. A taxa de mortalidade da sepse precoce é de até 50% e da sepse tardia de 20%.

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