Melck coloca cargo de superintendente da cultura à disposição do governador

Após classe cultural se voltar contra o governo, Melck Aquino afirmou que não tem mais motivos para continuar no cargo, e que por isso o colocou a disposição do governador Marcelo Miranda

Melck Aquino coloca cargo a disposição
Descrição: Melck Aquino coloca cargo a disposição Crédito: Divulgação

No final da tarde desta sexta-feira, 18, o atual Superintendente de Desenvolvimento da Cultura, Melck Aquino, informou que está deixando o cargo que ocupa desde maio do ano passado. Ele afirmou que, após reunião da classe cultural com o governo, e desentendimentos sobre os Editais Procultura 2013, percebeu não há mais motivos para continuar no cargo, que colocou a disposição do governador Marcelo Miranda.  

 

Aquino disse ainda que, após reforma administrativa realizada pelo governador, já resistia em continuar no cargo, por falta de autonomia e com a redução da equipe, que já era enxuta.

 

“Se percebo que não há mais espaço adequado para implementação de política públicas no campo da cultura e do fomento às diferentes linguagens artísticas. Se percebo que também já não sou mais capaz de ser um elo de comunicação entre a classe artística e o governador Marcelo Miranda, fica a pergunta: o que fazer? É aí que compreendi que o melhor a fazer seria preservar a minha dignidade, e o respeito que conquistei da maioria daqueles que militam no setor”, afirmou Melck.

 

Confira a carta na íntegra:

Aos que estão me questionando se é real que coloquei o meu cargo de Superintendente de Desenvolvimento da Cultura à disposição do Governador Marcelo Miranda, respondo que sim. E explico!

Após integrar o seu núcleo de consultoria política na campanha de 2014, sob o comando do competente Marcus Vinícius de Queiroz, e responder pela assessoria de imprensa e pela coordenação do trabalho em redes sociais, fui convidado a integrar o Governo como subsecretário de Comunicação. Assim o fiz, até início de maio.

Em maio fui convocado para a missão de ser o titular da recém recriada Secretaria de Estado da Cultura, e tracei um planejamento de reconstrução da pasta para ser executado em 3,7 anos, período que ainda restava da gestão Marcelo Miranda. E quando falo reconstrução, é exatamente essa a palavra, pois a administração anterior não só tinha acabado com a Secretaria e com a Fundação Cultural, como fechado a Galeria de Artes Mauro Cunha, a Biblioteca Darcy Cardeal e a Loja de Artesanato. Também descontinuaram o Salão do Livro e a Fecoarte.  E, igualmente grave, deixaram de pagar os editais de 2013 e os artistas visuais selecionados para a Mostra dos 25 Anos do Tocantins. Isso para ficar nas principais questões.

Começamos a trabalhar e, como foi amplamente citado na imprensa, realizamos muito com pouco e reacendemos a esperança de artistas, produtores e empreendedores culturais. Mas o projeto foi interrompido prematuramente com oito meses e meio. E, acreditem, o governador Marcelo Miranda sofreu com isso. Até porque era compromisso seu de campanha, assumido em setembro de 2014 com a “classe artística”, o retorno da Secult e o pagamento dos Editais 2013 e dos artistas visuais da comemoração dos 25 anos do Tocantins.

A cultura voltou a ser um departamento dentro de uma estrutura maior. Dessa vez, e de forma inédita, uma estrutura que se unia a temáticas diversas como desenvolvimento econômico, ciência, tecnologia e turismo. Inicialmente fui resistente em continuar a responder pelo setor da Cultura, pois sentia que não seria possível tocar adiante o que havíamos planejado sem autonomia administrativa, com uma redução ainda maior da equipe (já éramos a secretaria mais enxuta, tirando as pastas extraordinárias), e de quebra, num momento de grave crise econômica no país e com queda acentuada de arrecadação no Estado.

Atendendo novamente à convocação do Governador, e aos reclames de alguns amigos artistas e produtores culturais de um ciclo mais próximo de amizade, aceitei, pedindo tão somente autonomia para montar a minha equipe, algo que até o momento não foi concretizado da forma como foi acertado. Para piorar, procurei num primeiro momento retomar a repactuação  com os contemplados do Edital ProCultura de 2013, mas diante do quadro de dificuldades por que passa o Estado, que é fato, houve uma resistência imediata por parte daqueles a quem eu passara a me reportar  na linha hierárquica.

Hoje, em reunião com os contemplados do Edital ProCultura de 2013, com a presença do subsecretário Frederico Carneiro, percebi a indignação de toda classe artística para com o Governo do Estado. Diante desse fato, se as coisas que me levaram para aceitar ser Secretario de Cultura lá em maio do ano passado já não mais tinham materialidade, achei por bem colocar o meu cargo a disposição do Governador Marcelo Miranda.

Se percebo que não há mais espaço adequado para implementação de política públicas no campo da cultura e do fomento às diferentes linguagens artísticas. Se percebo que também já não sou mais capaz de ser um elo de comunicação entre a classe artística e o governador Marcelo Miranda, fica a pergunta: o que fazer? É aí que compreendi que o melhor a fazer seria preservar a minha dignidade, e o respeito que conquistei da maioria daqueles que militam no setor.

Já solicitei agenda com o governador Marcelo Miranda para a próxima segunda-feira, momento que quero agradecer, de coração, a oportunidade que ele me deu de desenvolver um trabalho, ainda que por tempo curto, numa área que muito me apetece. Oportunidade também que, acredito, poderei explicitar ao Governador os motivos de estar entregando o meu cargo de superintendente e, por fim, alertá-lo, sem interlocutores que filtrem a mensagem, da complexidade das demandas da área e como a sua administração pode ganhar com um gesto de grandeza ao atender reivindicações muito elementares. Aguardo agora, ansioso, que chegue a segunda-feira.

É isso! Entrei pela porta da frente e quero por ela sair, de cabeça erguida e certo de que o que era possível ser feito, fizemos. E fizemos com uma equipe pequena, mas lacrada e comprometida.  

E, claro, renovo a minha esperança de que haja maturidade dos gestores que ficarão para que deem continuidade aos bons projetos e corrijam os rumos do que for necessário, mas sempre entendendo o papel preponderante que a Cultura tem, não para o aparelho estatal em si, mas para todo o povo do belo, mas sofrido, estado do Tocantins.

 

Saudações culturais,

Comentários (0)